Jordan Bernt Peterson (Fairview, Alberta, Canadá, 12 de junho de 1962) é um psicólogo clínico canadense e professor de psicologia da Universidade de Toronto. Suas principais áreas de estudo são a psicologia da anormalidade, social e pessoal, com particular interesse na crença ideológica e na psicologia da religião. Ele é autor de Mapas do Significado: A Arquitetura da Crença, de 1999, lançado no Brasil em 2019 pela É Realizações editora, com tradução de Augusto Cesar, e de “12 Regras Para a Vida: Um antídoto para o caos”, lançado em 2018 pela Editora Alta Books.
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Peterson cresceu em Fairview, Alberta. Ele formou-se em ciência política em 1982 e em psicologia em 1984 ambos pela Universidade de Alberta. Em 1991, concluiu doutorado em psicologia clínica da pela Universidade McGill. Ele permaneceu na Universidade McGill, por dois anos antes de se mudar para os Estados Unidos, onde trabalhou como assistente e professor adjunto do departamento de psicologia na Universidade de Harvard. Em 1997, mudou-se para a Universidade de Toronto como professor catedrático.
Em 2016, Peterson lançou uma série de vídeos em seu canal do YouTube no qual ele criticou proposta de lei de autoria do governo, que tratava de mudança na gramática inglesa tendo em vista os transgêneros, a qual Peterson classificou como compulsória e autoritária. Os vídeos provocaram grande controvérsia e receberam significativa cobertura da mídia.
Livro traz 12 regras para uma vida mais íntegra e significativa
Em novo livro, o polêmico psicólogo canadense Jordan Peterson fala sobre as atitudes que o indivíduo deve tomar para tornar a vida mais completa
Jordan Peterson é um psicólogo (clínico e acadêmico) canadense que está rapidamente se transformando em uma celebridade. A causa disso são vídeos de suas aulas e entrevistas no YouTube em que ele dá conselhos a jovens, explica mecanismos mentais de uma forma inspiradora e que bate com a experiência de muitos.
Algumas de suas expressões mais recorrentes, como “sort yourself out” (que significa arrumar a própria vida e vencer nossos principais vícios) viraram verdadeiros slogans na comunidade de seus seguidores. Além disso, ele tem também se notabilizado por participar de polêmicas em debates sobre gênero e sobre o coletivismo de esquerda em geral.
Ele defende a primazia do indivíduo íntegro sobre as pretensões totalitárias de comandar a todos, que precisa de homens inseguros e incapazes de encontrar seu próprio valor no mundo.
Em seu recente livro 12 Rules for Life: An Antidote to Chaos (“12 regras para a vida: um antídoto para o caos”, numa tradução livre), contudo, estamos longe do mundo das polêmicas.
Aqui temos o Peterson psicólogo fazendo o que ele faz de melhor: falando de forma acessível, num tom não-condescendente, sobre como um indivíduo pode melhorar sua própria vida – ou melhor, sua atitude diante da vida. Para isso, ele articula diversos campos do conhecimento para construir uma visão quase mitológica do homem em sua batalha contra as forças do caos; isto é, da degradação de nossas capacidades e da falta de propósito.
A primeira regra, embora seja a mais simples, dá uma boa ideia do ímpeto geral da obra: “Fique ereto e com os ombros para trás”. É essa postura – e o que ela simboliza em termos de caráter e mentalidade – que ele quer ajudar seu leitor a conquistar. E esse trabalho começa justamente com o aspecto físico, que é central para a vida humana, se lembramos que o homem não é um espírito, mas um ser que se constitui em um corpo.
Na interdisciplinaridade que lhe é característica, ele usa o exemplo da lagosta, animal que, surpreendentemente, tem uma estrutura social hierárquica. Quando uma lagosta perde uma luta, ela fica encolhida; quando vence, seu corpo se expande. Isso manda um sinal para as outras de sua dominância, de modo que a vencedora aumenta, por isso mesmo, a probabilidade de que ela vença seus próximos confrontos. É um processo fisiológico que se repete na psicologia (e no cérebro) e no corpo humano, aliás usando dos mesmos hormônios em nós e nas lagostas. Nossa postura manda sinais sobre nossa capacidade e posição na hierarquia social e também tem efeito sobre a psique. O primeiro passo, portanto, para ter alguma ordem em meio ao caos, é melhorar a própria presença física no mundo.
Não cabe listar cada uma das doze regras, mas de maneira geral somos convidados a tratar de forma consciente e focada muitas áreas da vida que largamos nas mãos da sorte ou dos hábitos irrefletidos. O cuidado que devemos ter com nós mesmos, nossa escolha de amigos (que sejam pessoas que querem o nosso melhor, e não que nos puxam para baixo), nossa organização do tempo e até nossa maneira de falar.
Algumas das regras enfatizam uma mudança de atitude psicológica auto-sabotadora. É o exemplo da regra 4: “compare a si mesmo com quem você era ontem, e não com os outros”. É quase uma máxima de senso comum, mas com frequência, especialmente nas redes sociais, caímos no vício de nos comparar com outras pessoas, cujo resultado é a frustração e a perda de motivação; jamais seremos outra pessoa.
Outra é a regra 11: “deixe as crianças andarem de skate em paz”, que lida com nossa relação com o risco. Hoje em dia é comum adotar a política de sempre reduzir os riscos, inclusive físicos, a que estamos sujeitos. Mas essa postura diante do mundo conduz a uma vida contida e que fica aquém de seu potencial. A disposição de enfrentar riscos evitáveis, em busca de excelência ou de experimentar o desconhecido, engrandece o indivíduo e expande suas possibilidades de vida e autoconfiança.
Por fim, algumas regras adotam um ponto de vista quase religioso, e dizem respeito ao direcionamento do homem a algo maior do que si. Peterson não é religioso no sentido de acreditar literalmente nos dogmas de uma religião, mas entende que a perspectiva do sagrado e do bem absoluto é importante para a vida humana. Assim, se quisermos evitar que o caos tome conta, devemos perseguir um sentido maior para nossa existência (e não apenas viver atrás do que é útil para nossos fins mais mundanos), se acostumar a sempre dizer a verdade (preservando assim um sentido de integridade pessoal) e a valorizar as pequenas ocasiões de bondade e amor que se apresentam entre os sofrimentos do dia a dia.
Apesar de não ter muito das polêmicas sociais das quais Peterson tem participado (a esse respeito, recomendo uma entrevista recente dele ao Channel 4 inglês, com uma entrevistadora particularmente hostil) e de ser direcionado ao indivíduo, há um claro interesse social no livro. Peterson enxerga um grande risco de que nossa sociedade se perca em vidas totalmente desprovidas de sentido; um mundo em que hedonismo, indolência e ressentimento tomam conta. Trabalhando no nível individual, ele espera que uma mudança positiva de atitude possa se transmitir para toda a cultura.
Não há nenhuma dúvida: 12 Rules for Life é um livro de autoajuda. Mas é uma autoajuda mais profunda do que o que costuma receber essa classificação, resultado do trabalho de um psicólogo sério e que estabelece pontes interessantes entre psicanálise, mitologia, espiritualidade, zoologia e neurociência. Uma leitura simples, que talvez não seja revolucionária para ninguém (de uma forma ou de outra, já ouvimos muitas dessas regras), mas que pode de fato nos ajudar a pensar mais sobre como vivemos e como recuperar o ânimo para se reerguer quando tudo parece ir de mal a pior; ou seja, quando o caos ameaça tomar conta.
Fonte: https://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/a-luta-pela-integridade-humana/