“Aquele que não recorda o passado
está condenado a repetí-lo.”
George Santayana
A quebra da bolsa de valores em Wall Street, EUA, foi o ápice de um momento histórico de muitas dificuldades sócio econômicas. A Crise de 1929 na verdade iniciou-se nos primórdios da década de 20, estourou com a derrocada da bolsa e perdurou por todo o período dos anos 30.
O dinheiro virou pó do dia para a noite, pois estava todo aplicado em ações que subitamente caíram e/ou guardado em bancos que se quebraram. Sem o dinheiro circulante, ocorreram muitas falências e um alto índice de desemprego, o que levou as pessoas a ficarem sem comida, sem abrigo e sem dignidade humana. Os livros de história não contam que a depressão não foi somente econômica… muitas VIDAS foram atingidas durante mais de 20 anos de penúria!
E o que se nota hoje é que todos estavam desatentos para aquilo que desde o fim da primeira guerra fartamente se insinuava e que, portanto, estavam mais do que despreparados (e não é sempre desta forma que as desgraças se instalam?). E os efeitos nefastos deste momento, que foram gerados por uma economia baseada em hiperprodução, consumo desenfreado, especulação e acúmulo, rapidamente espalharam-se pelo mundo afetando milhões de pessoas, direta ou indiretamente.
Atualmente, vários economistas dizem que estamos em uma nova recessão. Ok, já percebemos, grata. Mas quão longe estaríamos realmente de outra depressão econômica de grande impacto como esta que rolou no século passado? A forma como a economia vem se comportando nos últimos anos, é preocupante? Estaríamos muito mais perto do que imaginávamos de um novo baque econômico?
Vamos analisar amadoramente: parece-me que daquele momento até hoje, o raciocínio econômico mudou pouquíssimo, não é? A economia vem funcionando (comprovadamente!) tipo gangorra, num sobe e desce. Então depois da nossa tão propalada “pujança econômica” na década passada, o virá o que mesmo…? Tombo certo! Arrisco-me até a pronunciar que estamos pior do que a galera de outrora, pois agora estamos TOD@S atrelados de forma compulsória a um sistema econômico, bancário e de mercado (maldito PIB!), nascido em solo pantanoso e forjado em bases ilusórias desde muito tempo. Bem… se as ações em 1929 já eram dinheiro virtual, o que podemos dizer da atual condição econômica em que vivemos? E nesta modernidade onde tudo é virtual demais, como isso poderia nos afetar? E o que os eventos desse passado poderiam nos ensinar agora?
Para nós sobrevivencialistas, independente da possibilidade real ou imaginária deste macro problema vir a se repetir, o que importa é saber como não sofrer as consequências de um caos de grandes proporções, certo? Somos ideólogos do sobrevivencialismo justamente para isso: descobrir como evitar que nossa vida, e a de nossa família, seja colocada em risco ou que qualquer evento acima de nossa vontade nos exponha à falta de segurança alimentar ou nos deixe sem um abrigo seguro.
Então, eis as sete lições que aprenderemos hoje com os sofrimentos do passado:
#1 => Fazer reservas
Vai parecer óbvio, já que é a regra primordial dos sobrevivencialistas, mas sempre é bom enfatizar:
– Fique atento às suas preparações: mantenha o seu próprio armazenamento de alimentos. Não precisa ser uma preparação para durar “todo-o-fim-do-mundo”! Alguma preparação já é muita preparação para quem ainda nem começou! Planeje um rol de provisões minimamente organizadas, junto a um programa de rotatividade e visando médio/longo prazo de duração, assim você terá condições de manter você e sua família alimentada por um bom tempo, mesmo que não haja comida no mercado ou dinheiro para comprá-la. Apenas programe-se e comece AGORA!
– Deixe algumas notas (não muito altas) guardadas também, se possível do tipo “vovó fazia assim”: esconda dinheiro em um canto secreto e inviolável (que não seja muito óbvio, claro!). A quantidade que você NÃO colocar no banco, certamente ficará com você! Se não consegue juntar grana, avalie as suas finanças e descubra: o que você gasta mensalmente é mais do que aquilo que você ganha? Evite cometer este erro clássico da economia (é por isso que muitos países quebram…). E lembre-se: o crédito só complica essa equação.
#2 => Semear e deixar crescer.
Nessa época as pessoas morriam de fome, literalmente MORRIAM de fome. Muitos haviam recém abandonado o ambiente rural e ido para as cidades, esquecendo-se de habilidades simples, como ter uma horta, p.ex. Esta é uma das coisas mais fáceis de se fazer e uma boa garantia para você se proteger das incertezas. Não é necessário ter grande extensão de terra para cultivar alimentos. Não espere o dia do “vou comprar um sítio”, porque o futuro não existe! Plante hoje, plante em qualquer lugar! Canteiros no quintal ou num canto do condomínio, no espaço da varanda ou em pets penduradas na janela. Produzir sua própria comida lhe dará um seguro contra qualquer depressão econômica. E aprenda também a guardar sementes para a próxima temporada, já que o dinheiro para as sementes ou as próprias sementes poderão não estar disponíveis.
#3 =>Usar o que possui
Ou seja, pare de comprar! Todas as “coisas” que acumulamos ao longo de nossas vidas, cedo ou tarde descobriremos que não têm nenhum significado intrínseco. Lembre-se: “desta vida nada se leva…”. Precisamos começar a viver na real. Esquece o que o marketing e a sociedade te impõem. É possível ser feliz com pouco. De que nos serve ficar numa constante batalha para adquirir mais “coisas”? Você realmente precisa de uma BoB nova???? Mais um canivete, jura? Um novo gadget que é a promessa de sua salvação no fim do mundo? Tsc…tsc…tsc… essa é uma vida baseada em ilusões! Existe muita gente que está com dívidas “até o pescoço”, se escravizando num emprego ruim apenas para pegar o mirrado salário e pagar contas que não precisaria se pensasse duas vezes. E ainda ficam uma semana antes do fim do mês no perrengue total! É preciso aprender a usar e/ou fazer as coisas funcionarem com o que já possuímos. Você usa tudo o que tem? Beleza. Tem muita coisa e mais da metade não tem uso, está quebrado/velho ou você não quer, mas a “coisa” fica ali, ocupando espaço útil na sua casa e ‘olhando’ para você com ar triste? Doe, empreste, venda, jogue fora. Livre-se do excesso! Menos é mais!
#4 => Descobrir o que é valor
Você sabe o que realmente importa? O que você não pode viver sem? Uma coisa que a Crise de 29 ensinou às pessoas à época foi conhecer o que é o valor verdadeiro. E saiba você hoje: o VALOR não está nos objetos. Suas coisas podem desaparecer amanhã – desastre, credores, roubo… quem sabe? Mas se o seu valor REAL encontra-se em seu conhecimento adquirido e nas pessoas com quem você mantém relações, então isso é o seu tesouro. Tente tornar-se isento, desapegue-se dos objetos, imagine-se como se você tivesse que deixar tudo para trás subitamente… Porque as pessoas tiveram que abdicar de tudo o que possuíam durante essa grande crise e não foi fácil para elas, pois não estavam preparadas. Se isso não ficou claro, retorne à lição #3.
#5 => Reunir pessoas
Em muitos lugares as pessoas vivem a grande distância entre elas e nunca saberão sequer os nomes umas das outras. Nós entramos e saímos de nossas portarias e garagens sem nunca parar para cumprimentar nossos vizinhos. Mas em uma comunidade que é realmente COMUNIDADE todos cuidam de todos, se preocupam e oferecem mão amiga ao próximo. Você pode aplicar essa ideia organizando uma equipe preparada para colapsos! É possível ensinar novas habilidades uns aos outros, construir uma horta, fazer um Plano B coletivo. Essa ligação humana também ajudará a manter um forte senso de conexão e um bom suporte físico e emocional para aqueles momentos de caos, o que poderia fazer uma grande diferença em tempos imprevisíveis. Lembre-se a vida é frágil e não é possível viver isoladamente (vemos isso claramente em TWD!). Pessoas são indubitavelmente um dos melhores investimentos que você pode fazer para o futuro. Ainda não concorda? Então volte a lição #4 e descubra o que é valor!
#6 => Ser adaptável
Pense em um mundo em que tudo tem que ser muito específico, coisa de especialista. É assim que anda a nossa sociedade. Nada é mais executado por uma pessoa generalista. Imagine-se em uma crise braba, quando os trabalhos simplesmente tornarem-se escassos. Neste caso, quem for qualificado apenas para fazer uma ou duas coisas terá mais dificuldade em arranjar emprego. Aprenda todas as habilidades que você consiga, mesmo que esteja fora da área que você escolheu como profissão. Mantenha-se disposto a experimentar e aprender de tudo um pouco! Isso certamente aumentará suas chances de sobrevivência!
#7 => Buscar autossuficiência
Não importa quão preparados nós estejamos, algo vai sair do controle. Por isso é importante saber trabalhar com couro ou com madeira, trocar o óleo do carro, consertar um muro, reparar um telhado, plantar… Aprenda a cozinhar, limpar, lavar, costurar, descubra como é fazer as coisas à mão, sem eletricidade ou conveniências modernas. Aprenda também a entreter-se sem equipamentos eletro-eletrônicos: livros, jogos de cartas, instrumentos musicais, boa conversa. Todas estas eram atividades naturais para a maioria das pessoas antigamente, mas não são mais hoje em dia.
Ao aprender habilidades que deixarão você mais autossuficiente, você será capaz de poupar o dinheiro que você pagaria alguém para fazer essas coisas por você. Além disso, com suas habilidades, seu tempo e sua produção, você poderá fazer escambo, isto é, comercializar sem precisar de dinheiro. Nestes tempos industriais e do capital, essa forma de negociar é vista como sendo de ‘baixa qualidade’, mas experimente participar de uma feira de trocas, desapegue, divirta-se e faça bons negócios! Aprenda a arte de oratória, da complacência, da ética e da observação das emoções alheias, isso também ajudará muito a entender as pessoas e suas expectativas. Pense que tudo aquilo que tiver relação com a sua autossusficiência já estará em sua “posse” para usar se precisar, no momento quer você achar oportuno ou quando necessitar! E é importante começar a colocar essas habilidades para testar HOJE mesmo, antes que sejam imprescindíveis.
Ficou com dificuldade de entender essa lição? Volte à de #6!
A intenção aqui não é te deixar pessimista, é te fazer pensar, te mover para a ação. Serviu para te sacudir? Já começou sua reserva alimentar para pelo menos um ano? Está buscando sua autonomia, sua fuga do sistemão? Já pensou como você se livrará daquelas contas e reservará dinheiro? Já levantou do sofá e foi procurar garrafas PET para começar a germinar plantas na janela??
Sabemos que a economia mundial e nacional está muito balançada e precisamos AGORA MESMO reaprender com o passado. Esperemos que este tempo de vacas magras não se repitam, mas, como verdadeiros sobrevivencialistas, devemos estar preparados caso volte a acontecer.
Texto e pesquisa histórico fotográfica por Moni Abreu, A Sobrevivencialista
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Fonte: https://sobrevivencialismo.com/2016/09/03/licoes-sobrevivencialistas-crise-29/