A relação entre a literalidade do relato bíblico da criação e as três mensagens angélicas de Apocalipse 14.
As três mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-9 têm uma função bem definida do ponto de vista escatológico. Contudo, elas apresentam outros elos que remetem à literalidade do relato da criação.
“E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno…” Que evangelho é esse? O evangelho significa as boas-novas da salvação. A salvação só é ofertada por Deus porque o homem peca, segundo Gênesis 3, portanto, a justificação pela fé depende da crença na criação literal. Jesus, nosso substituto pela fé, veio salvar o homem que cometeu pecado no Éden de Gênesis.
“Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque vinda é a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.” Temer, dar glória e adorar ao Criador de toda a existência, dos seres animados e inanimados. A exortação de Apocalipse 14 só é possível se o relato de Gênesis 1-3 for literal, pois é nas primeiras páginas da Bíblia em que Deus é denominado Criador. A relação entre o juízo e a criação também se tornam evidente porque quem criou pode julgar, bem como redimir.
“Caiu, caiu Babilônia, aquela grande cidade, que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição.” A profecia aponta que ruirão a mentira e o engano acalentados por denominações religiosas. Quando mesmo as igrejas cristãs substituem a autoridade bíblica, trocando-a pela tradição, isso significa que a literalidade da Palavra é preterida e, nesse caso, a criação também deixa de ser um evento real para ser apenas uma figura de linguagem com fins instrutivos.
“E seguiu-os o terceiro anjo, dizendo com grande voz: Se alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber na sua testa, ou na sua mão…” A adoração é a grande questão desde o Gênesis. Apocalipse retoma o tema, trazendo à tona a marca da besta (falso sábado) e fazendo uma advertência a quem aderir a ela. O descanso celebrado no falso sábado (domingo), por exemplo, pretende tirar a validade do relato da criação, quando Deus usa seis dias para criar e descansa, separa e abençoa o sétimo dia como memorial das Suas obras. A maneira mais eficaz de descaracterizar a criação literal em seis dias é pisar sobre o sétimo dia da semana, o verdadeiro sábado. É por isso que a marca da besta reflete a essência do grande conflito, isto é, a quem se deve obedecer e adorar.
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Ao tratar do tema das origens, é importante observar que ciência e religião nem sempre foram consideradas opostas. Pelo contrário, a fé e o conhecimento bíblico impulsionaram os primeiros cientistas a estudar o mundo natural como sendo parte da criação de Deus. Entretanto, com o surgimento do método científico, muitos estudiosos se afastaram da religião e espalharam a crença de que a ciência e a fé não podem andar juntas por serem heterogêneas.
Desde então, dois modelos sobre as origens se opõem: o criacionista e o evolucionista. Antes, porém, de assumir uma postura ou outra, vale lembrar que a ciência, por partir de deduções filosóficas, não produz verdade absoluta e não é dogmática (CANALE, 2014). Ela é uma interpretação e requer a priores científicos, não sendo, portanto, capaz de gerar provas totalmente corretas, mas apenas resultados tentativos.
Desse modo, tanto o modelo evolucionista quanto o criacionista dependem, primariamente, mais da filosofia do que da ciência em si. O que podemos fazer, como criacionistas, é estudar as evidências científicas que apontam para uma criação com propósito inteligente, realizada por um Ser sobrenatural, imaterial, atemporal, localizado fora do espaço, Criador da matéria e das leis naturais que regem o Universo. Tais indícios podem ser encontrados ao analisar, por exemplo, a complexidade dos seres vivos e a maneira cuidadosa como são mantidos. Partindo do pressuposto de que a vida foi criada com propósito por um Deus infinito, poderoso e pessoal, é que recorremos à Bíblia para conhecer a origem de todas as coisas.
O relato bíblico começa com “o princípio”, e nos capítulos 1 e 2 Moisés narra o início da vida na Terra. Existem algumas discordâncias, entre autores cristãos, a respeito do “quando” da criação: Teria Deus criado todo o Universo, incluindo a Terra e a vida, nos seis dias, conforme descrito nas Escrituras? Teria Ele criado o Universo (outros planetas, galáxias e sistemas) anteriormente e apenas a Terra (talvez o Sistema Solar) e os seres vivos na semana da criação? Ou teria Deus criado a Terra na condição “sem forma e vazia” em algum tempo passado e, durante os seis dias, apenas a vida existente no planeta?
Há ainda outra corrente que explica as origens, o evolucionismo teísta. Segundo essa vertente, Deus, como Criador, deu um start para o início do Universo há milhões e milhões de anos e, a partir disso, a vida na Terra evoluiu até atingir a condição de vida inteligente tal como conhecemos hoje.
Davidson (2015), no livro He spoke and it was, apresenta suas conclusões quanto às origens após fazer uma análise do discurso na Bíblia hebraica, considerando aspectos linguísticos e um estudo aprofundado do texto original (em hebraico) do relato de Gênesis 1 e 2. O autor sustenta que “uma série de considerações textuais e paralelos intertextuais levam à interpretação de dois estágios na criação” (p. 50): o primeiro como sendo a criação tanto do Universo quanto da Terra (no seu estado sem forma e vazio) em um tempo anterior ao evento (Universo antigo, incluindo a Terra); e o segundo estágio como sendo a criação da vida na Terra, em seis dias literais, contíguos, de 24 horas.
Davidson (2015, p. 51) afirma ainda que as “análises recentes do discurso de Gênesis 1 […] indicam que a gramática do discurso desses versículos aponta para uma criação em dois estágios. A história principal não começa antes do versículo 3. Isso implica uma condição anterior dos ‘céus e Terra’ em seu estado ‘sem forma e vazio’, antes do início da semana da criação”.
Há também uma série de “pistas” linguísticas deixadas pelo autor do Gênesis que evidenciam os seis dias da criação como sendo literais. Segundo Davidson (2011, p. 5), o gênero literário usado para narrar a criação foi a prosa histórico-narrativa, que indica a natureza histórico-literal do texto. Outra evidência linguística que confirma a literalidade do relato é o uso da expressão “tarde e manhã”, que define claramente os períodos consecutivos de 24 horas. Da mesma forma, a palavra yôm (dia) está conectada ao numeral cardinal, referindo-se a dias literais.
Complementando esse raciocínio, Davidson (2011, p. 5) apresenta o mandamento do sábado como referência para uma criação em seis dias literais baseado em Êxodo 20, versículo 9: “Seis dias trabalharás…”. Além disso, os autores do Novo Testamento consideraram a descrição de Gênesis 1 como literal e pautaram seus escritos nessa crença.
Infelizmente, há cristãos que dizem acreditar no evolucionismo teísta ou no criacionismo progressista sem considerar de fato o que isso representa. Negar que a criação da Terra ocorreu em seis dias literais, contíguos e de 24 horas (HASEL, 2004, p. 16) é rejeitar as bases centrais e essenciais do cristianismo, o que traz sérias implicações:
- Questiona-se o próprio caráter de Deus: se Ele criou a vida utilizando-Se da evolução, Ele teria criado também a morte (por meio de mutações e da seleção natural) e o sofrimento.
- Acreditar na evolução exclui o papel fundamental de Jesus como nosso Salvador: se estamos em contínua evolução, não precisamos de Alguém para nos redimir e restaurar, pois estaremos naturalmente caminhando para a perfeição.
- O sábado não seria para nós, cristãos bíblicos, um dia especial para guardar e descansar, pois, negando que os seis dias da criação foram literais, negaríamos também a importância de um dia de guarda, separado para o contato com o Criador.
- Ao rejeitar a crença de que Deus criou tudo mediante Sua palavra, por que deveríamos acreditar que Ele seria capaz de fazer qualquer outra coisa por nós? Isso desvalidaria nossa fé nEle.
- Se a criação não foi literal, não haveria razão para crermos na volta de Jesus, visto que, como Criador, Ele não teria interesse em restaurar Suas criaturas e levá-las para junto de Si novamente.
- O casamento seria uma instituição falida: se Deus não criou Adão e Eva, pessoalmente e com o propósito específico de estruturar a sociedade em famílias, o ideal de casamento e família que conhecemos perderia a razão de existir.
- A Bíblia, a Palavra de Deus, entraria em descrédito, pois, se o relato das origens é mentiroso, como acreditar que o restante dela é verdadeiro? O cristianismo, juntamente com todo o seu conjunto de crenças, entraria em ruína.
- E, finalmente, negar a literalidade da semana da criação é rejeitar a mensagem de Deus para o tempo do fim e, consequentemente, a salvação.
O Apóstolo João, inspirado pelo Espírito Santo de Cristo, registrou no livro de Apocalipse as orientações proféticas para os últimos dias da história deste mundo, destinadas àqueles que “guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Ap 14:8, ARA). Diante disso, os cristãos bíblicos são comissionados a apresentar uma mensagem especial à humanidade: as três mensagens angélicas de Apocalipse 14.
Tal texto retoma o tema das origens e tem como objetivo preparar as pessoas para a segunda vinda de Jesus. Deus, em Sua onisciência, sabia que a doutrina da criação e Sua própria existência seriam questionadas. Ele previa que as pessoas iriam se apegar a “filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo” (Cl 2:8, NVI). Por isso, o Senhor orientou Seu servo a escrever o que se encontra em Apocalipse 14:6-7 (ARA):
“Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo; e adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.”
De acordo esses versos, o primeiro anjo, de posse do evangelho eterno, anuncia aos moradores da Terra que é chegada a hora do juízo divino e os conclama a adorar o Criador de todas as coisas. Segundo Pfandl (2004, p. 322), o evangelho eterno é a promessa (já cumprida) da vinda do Messias, que salvou o mundo do pecado e pisou a cabeça da serpente (Gn 3:15).
Ao aceitar o sacrifício de Cristo, o pecador é justificado pelos méritos do Filho de Deus.
Portanto, crer no relato da criação, tal como descrito nas Escrituras, é reconhecer que Deus é o Criador e o Mantenedor de todo o Universo. Foi Ele quem fez a natureza e a dirige, e não o contrário.
Em Apocalipse 14:8 (ARA), lemos a mensagem do segundo anjo: “Caiu, caiu a grande Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição.” Ao explorar o contexto desse verso, descobrimos que a declaração original, em Isaías 21:9, diz respeito à queda da Babilônia literal, que ocorreu no ano de 539 a.C. Na ocasião, Ciro, ao conquistar a cidade, libertou os judeus e israelitas do cativeiro ali instaurado.
O povo remanescente que retornou à Terra Prometida começou a reconstruir a cidade de Jerusalém (PFANDL, 2004, p. 322). O tempo dedicado a essa tarefa, descrita em Esdras 3 e 4, pode ser comparado à obra que, como cristãos bíblicos fiéis, devemos realizar em nossos dias, de restaurar as verdades da lei de Deus outrora esquecidas. Tomando como referencial o objeto de estudo do presente artigo, é possível perceber que o alerta da primeira mensagem angélica, para que as pessoas se voltem para seu Criador e se preparem para o juízo final, é ratificado pelo segundo anjo.
Finalmente, em Apocalipse 14:9-12 (ARA), é apresentada a terceira mensagem angélica:
“Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado sem mistura, do cálice da Sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome. Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.”
A mensagem do terceiro anjo consiste em uma advertência contra a adoração da primeira besta ou da sua imagem (Ap 13), por meio da guarda do domingo. Em outras palavras, a observância desse dia em vez do sábado bíblico concretiza a aceitação da “marca da besta”. Ao escolher guardar o sábado, a pessoa demonstra fidelidade a Deus, ao passo que, optando pelo domingo, obedece a uma tradição humana. Essa é uma decisão crucial, pois o que está em jogo é a vida eterna!
As mensagens angélicas expostas em Apocalipse 14 em conexão com o relato da criação confirmam que os seres humanos não são meros acidentes cósmicos, mas sim frutos de um planejamento feito por Deus, com propósitos definidos. Sem a doutrina da criação em seis dias, as três mensagens angélicas perdem seu significado.
A Bíblia, do início ao fim, aponta para um Criador, Alguém que formou Suas criaturas com a finalidade de viver em perfeita harmonia com Ele. Entretanto, com a entrada do pecado neste mundo, o plano original de Deus foi interrompido. Mas o Senhor não nos deixou sem amparo e abandonados a nossa própria sorte. O plano da redenção fora estabelecido antes mesmo da criação do ser humano! Apocalipse 14:7 nos alerta que está chegando a hora de nossa redenção (“pois é chegada a hora do seu juízo”), e a Terra será recriada, restaurada, conforme o propósito do Criador desde “o princípio”. É hora de exultar e olhar para cima, porque a nossa redenção se aproxima (Lc 21:28).
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Evidências de literalidade no relato da criação.
As evidências da semana da criação como evento literal podem ser encontradas na Bíblia, sendo aceitas pela fé, mas também podem ser observadas em fatos histórico-científicos que deixam margem para a compreensão literal do relato bíblico. Se, por um lado, não há indícios que apontem com mais concretude há quanto tempo o universo foi criado; por outro, o livro de Gênesis oferece informações relevantes a respeito da literalidade da criação da vida na terra em seis dias.
Para a grande maioria pertencente à comunidade científica, a criação dos seres se deu a partir de milhões de anos, com macromutações que levaram os seres menos complexos a evoluírem, tornando-se mais complexos com o passar de longas épocas.
Chama a atenção também o fato de que não é apenas o campo científico que vê com descrédito a criação descrita na Bíblia, mas até mesmo teólogos cristãos interpretam a história de Gênesis como um conto de fundo moral sobre a obediência. Outros creem na criação divina, contudo, em uma criação que ocorre por meio de eras evolutivas.
São muitas as correntes de pensamento quando o assunto é a origem da vida e das espécies. Até mesmo para os que entendem haver um projetista por trás de tamanha variedade de seres, pode não haver consenso sobre a criação em seis dias literais.
Para os que creem na fidedignidade do livro de Gênesis, é possível, com estudo acurado, fundamentar sua crença por meio de elementos-chave. A estrutura narrativa, por exemplo, reúne muitos deles.
Uma leitura apressada não permite a observação de diferenciais textuais que compõem o corpo de evidências da literalidade do relato do primeiro livro da Bíblia. Estudiosos como Richard Davidson afirmam que o gênero literário de Gênesis 1 e 2 não fornece elementos para que a narrativa seja tomada como simbólica, metafórica ou mesmo meta-histórica. Ao contrário, o autor do primeiro livro da Bíblia apresenta intencionalidade ao escolher determinadas palavras, as quais também já foram usadas em outros trechos bíblicos com a função de ratificar a literalidade do evento.
“A estrutura literária de Gênesis como um todo indica a natureza literal das narrativas da criação como sendo intencional. É amplamente reconhecido que todo o livro estáestruturado segundo a palavra hebraica toledot (gerações, história), em ligação com cada seção do livro (13 vezes). Essa palavra, em outro lugar das Escrituras, é usada no registro das genealogias com relação à contagem precisa de tempo e história” (DAVIDSON, 2011, p. 5).
Outras evidências também apresentadas por Davidson (2011) têm que ver com a expressão que aparece ao final de cada descrição criativa: “tarde e manhã”, que “define claramente a natureza dos ‘dias’ como períodos literais de 24 horas” (IBIDEM).
Além disso, ao citar a palavra “dia” (no hebraico yôm) em cada um dos seis dias da criação, o autor de Gênesis trabalha com a ideia de número ordinal. Ele trata a sequência da criação como primeiro dia, segundo dia, e assim por diante até o sexto dia.
No entanto, autores como John C. L. Gibson argumentam que “se entendermos “dia”como equivalente a “época” ou “era”, poderemos pôr a sequência da criação, apresentada no capítulo 1, em conexão com os relatos da moderna teoria da evolução, e assim caminhar um pouco no sentido da recuperação da reputação da Bíblia em nossa era científica … Tanto quanto este argumento inicie uma tentativa de ultrapassar o sentido literal, atribuindo à semana da criação o sentido de uma parábola, com uma duração muito mais extensa, isso será digno de elogios” (GIBSON, 1981, p. 56).
Já o alemão Hansjörg Bräumer (1983) afirmou que o dia da criação não poderia ser a mesma unidade de tempo que medimos, hoje, pelo relógio. A isso ele atribui a falta do Sol, que apareceria somente no quarto dia. Bräumer (Idem) se apega ao fato também de que para Deus o tempo é relativo, isto é, um dia divino pode corresponder a mil anos. Dessa forma, o teólogo acredita que é possível entender o relato da criação dentro da cosmovisão evolucionista, num ritmo de milhões de anos.
Para o criacionista progressista Stuart Briscoe (1987), é razoável interpretar a palavra“dia” (yôm) como um período de eras e não como um único dia literal.
“O naturalista fala convincentemente em termos de milhões de anos e eras evolutivas, enquanto o crente na Bíblia olha para os seis dias e fica perplexo, sem saber o que fazer … Não é absolutamente irrazoável crer que “dia” (em hebraico yôm), que pode ser traduzido literalmente como “período”, refira-se não a dias literais, mas a eras e épocas em que a obra criadora de Deus estava sendo realizada” (Briscoe, 1987, p. 37).
Davidson (2011), todavia, rebate tais posicionamentos alegando que a palavra “dia” (yôm) aparece 359 vezes na Bíblia, demonstrando intertextualidade de termos temporais específicos. Em todas as ocorrências, faz-se referência a dias literais. O próprio Jesus, aponta Davidson, e todos os escritores do Novo Testamento recorreram ao Gênesis, atribuindo-lhe sentido literal. O quarto mandamento, das tábuas da Lei (Êxodo 20:8-11), também é escrito em forma comparativa e equivalente à semana da criação, ou seja, só hásentido guardar o sétimo dia da semana – o sábado – se a semana foi criada literalmente em seis dias de 24 horas.
Stambaugh (1991) e outros estudiosos bíblicos, como Hasel e Fretheim, concluem que Gênesis 1 expressa a ideia de dia literal de maneira irrefutável. “Deus criou uma série de seis dias consecutivos, de [aproximadamente] vinte e quatro horas.”
Muitos outros pressupostos poderiam ser mencionados, como as características extremamente peculiares do relato de Gênesis. Contrariando as crenças da época e da região do autor, ele abre o livro dizendo que houve um princípio, ou seja, o mundo não era cíclico, como se cria há mais de quatro mil anos. O reconhecimento de um só Deus – Deus esse independente e criador da própria natureza, Deus sujeito e supremo capaz de criar a partir do nada – difere completamente da mitologia prevalecente dos povos do Oriente Próximo (politeísta) a respeito da origem da vida.
Ademais, a sequência lógica que Deus estabeleceu para o mundo natural, em que os elementos iam sendo criados segundo a demanda da próxima criação, aponta para a literalidade dos fatos. Deus primeiro separou a água da porção seca, por exemplo, para depois povoá-los com animais, pois o contrário não seria possível.
A importância da literalidade do relato da criação para a teologia bíblica
Se o relato da criação não é literal, mas metafórico, que segurança a teologia bíblica teria de que todo o restante é confiável? Se os capítulos um e dois de Gênesis são apenas simbólicos, como saber se o capítulo três também não se trata de mera ilustração?
Se Deus usou processos evolutivos para dar origem à existência das espécies, seja do mundo vegetal, como do animal, a morte já faria parte desse processo? Se a morte foi estabelecida pelo próprio Deus, em um sistema de seleção natural, em que sobrevive o mais apto, então a morte deixa de ser consequência pelo pecado?
Se a morte não é consequência do pecado, por que Deus Se faria homem (Jesus) e morreria pela humanidade “caída”? Se Jesus não morreu pelos pecados da humanidade, Ele seria realmente o filho Unigênito de Deus? Ele ressuscitaria? Ele voltaria, segundo Sua promessa?
Observa-se com tais questões que todo o esquema bíblico-teológico desmorona quando a criação de Gênesis 1 e 2 deixa de ser encarada como um fato literal. Sendo assim, Jesus perde a centralidade e funcionalidade que a Bíblia Lhe confere do primeiro ao último livro.
“No fluxo canônico geral das Escrituras, por causa da ligação inseparável entre a origem (Gn 1-3) e o fim dos tempos (Ap 20-22), sem um começo literal, não há um fim literal. Além disso, pode-se argumentar que as doutrinas da humanidade, pecado, salvação, juízo, sábado, e assim por diante, já apresentadas nos capítulos de abertura de Gênesis, todas dependem da interpretação literal das origens” (Klingbeil, 2015, p. 19).
No que diz respeito aos cristãos bíblicos fiéis, isso tem ainda mais implicações. Sem a crença da criação em seis dias literais, toda a doutrina professada seria desconstruída. O“povo do advento” estaria esperando pelo advento de quem? E que sentido haveria de ter o sétimo dia como dia separado? Por que guardar os mandamentos, se eles são apenas figurativos, bem como toda a Bíblia?
Além disso, os relatos da criação, conforme estão descritos em Gênesis 1-3, enfatizam o caráter de Deus sob três importantes aspectos: Seu amor (por criar), Sua justiça (por permitir que as consequências das escolhas de Adão e Eva recaíssem sobre eles) e Sua misericórdia (ao providenciar redenção por meio do Unigênito Jesus, O Cristo).
A partir do momento em que a Bíblia deixa de ser autoridade máxima, a graça recebida pelos méritos substitutivos de Jesus perde todo seu valor. Reconhecer o relato de Gênesis 1-3 como literal está intimamente ligado ao senso de adoração e obediência ao Eterno Deus e Seu Filho Unigênito Jesus Cristo, O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Referências:
BORGES, M. A história da vida: de onde viemos, para onde vamos. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011.
CANALE, F. Criação, evolução e teologia: uma introdução aos métodos científico e teológico. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2014.
DAVIDSON, R. M. Criação e dilúvio global: relato literal ou alegórico? Revista Diálogo, Silver Spring, p. 5-8, fev./mar. 2011.
DAVIDSON, R. M. The Genesis account of origins. In: KLINGBEIL, G. (Ed.). He spoke and it was: divine creation in the Old Testament. Oshawa: Pacific Press Publishing Association, 2015.
GIBSON, L. J. As três mensagens angélicas. Disponível em: . Acesso em: 8 mar. 2016.
HASEL, M. G. “No princípio”: a relação inseparável entre protologia e escatologia. In: TIMM, A. R.; RODOR, A. A.; DORNELES, V. (Ed.). O futuro: a visão adventista dos últimos acontecimentos. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2004. p. 15-26.
PFANDL, G. A escatologia de Ellen G. White. In: TIMM, A. R.; RODOR, A. A.; DORNELES, V. (Ed.). O futuro: a visão adventista dos últimos acontecimentos. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2004. p. 311–326.
Referências:
ALMEIDA, J. F. Bíblia, tradução Revista e Corrigida.
BRÄUMER, Hansjörg. Das erst Buch Mose. Wuppertaler Studienbibel, Kapitel, 1-11 (Wuppertal: R. Brockhaus Verlag, 1983), 44.
BRISCOE, D. Stuart. Genesis, The Communicator’s Commentary (Waco, TX: Word Books, 1987), 37.
DAVIDSON, Richard M. Diálogo 22 (2011) 5-8. “Criação e dilúvio global: relato literal ou alegórico?”
GIBSON, John C. L. Genesis, The Daily Study Bible, vol. 1 (Edinburgh: The Saint Andrews Press, 1981), 56.
HASEL, Gerhard F. “Dias literais ou períodos de tempo figurados?” Revista Criacionista nº 53.http://www.revistacriacionista.com.br/artigos/FC53_diasLiterais.asp. Acesso em 08/03/2016.
KLINGBEIL, Gerald A. He Spoke and It Was: Divine Creation in the Old Testament V1, 2015.
STAMBAUGH, James. “The Days of creation: A semantic approach”, CEN Technical Journal 5, nº 1 (1991).
FONTE: Criacionismo
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