‘Acho que nunca voltarei pra casa’, diz adventista leiga angolana que se refugiou em SP

EMILIO SANT’ANNA, DE SÃO PAULO

Maria (nome fictício) refugiada angolana, que chegou ao Brasil fugindo da perseguição em seu país

Maria (nome fictício) refugiada angolana, que chegou ao Brasil fugindo da perseguição em seu país

O marido e a filha de dez anos desapareceram. A casa foi posta ao chão. Restaram um filho, uma gestação que só seria descoberta dois meses depois e uma passagem comprada às pressas por conhecidos para o Brasil.

De Angola, Maria (nome fictício), 29, não sabe mais nada. Da família, menos. Após fugir da violência e da perseguição religiosa naquele país, a vida por aqui é esperar: a terceira filha nascer, um emprego surgir, um aluguel que possa pagar, o tempo enterrar o que perdeu.

Para saber mais sobre o genocídio de leigos adventistas com o apoio da IASD em Angola, acesse: www.angoadventistas.com

Refugiada, a mulher que tinha uma casa de três quartos, salão de cabeleireiro e uma “vida normal” em Luanda é só mais um rosto pelas ruas do bairro da Bela Vista, na região central de São Paulo. É bom que seja assim. Já é um começo.

Em Angola, ela e o marido faziam parte do movimento religioso Luz do Mundo, combatido pelo Estado e que se dizia dissidente dos adventistas. “O pastor organizou um acampamento e durante a noite a polícia nos cercou. Mataram muita gente”, diz a mulher de olhar desconfiado.

A contabilidade dos mortos vai de 20 (número do governo angolano, segundo a ONU) a 700 (quantidade apresentada pelos religiosos). Tamanha variação fez com que o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos pedisse formalmente uma investigação “significativa, independente e completa”.

PERSEGUIDOS

Maria não sabe quantos foram. Sabe apenas que a família escapou, mas após aquele dia de maio de 2015 passaram a ser perseguidos. “Em agosto, meu marido saiu para levar a menina na escola e nunca mais apareceram.”

Quando a situação ficou insustentável, ela fugiu. Logo após chegar aqui com o filho de sete anos, gastou o pouco que tinha em um táxi até o Brás. “Pedi para o motorista me levar em algum lugar que tivesse africanos. De lá saí procurando aonde ir.”

Era um sábado. Conseguiu dormir de favor em um hotel. Na segunda, desembarcou de vez em uma casa de passagem para refugiados batizada de Terra Nova, mantida pelo Estado. Ali, os dias se dividem entre levar o filho à escola, preparativos para dar à luz e a convivência com outras famílias na mesma situação.

Logo depois que fugiu, Alphonse trouxe duas irmãs e o primo. O bebê de uma delas (foto) nasceu no Brasil

Logo depois que fugiu, Alphonse trouxe duas irmãs e o primo. O bebê de uma delas (foto) nasceu no Brasil

Em dois anos, 88 mulheres passaram por ali. Elas são a maioria dos 192 refugiados, somando-se aos 75 homens e 29 crianças. Fenômeno inverso do observado no país, onde apenas 30% dos cerca de 8.500 refugiados reconhecidos pelo governo brasileiro são do sexo feminino.

Atualmente, além de Maria, 29 mulheres estão acolhidas na casa. Lá, recebem, entre outros serviços, apoio psicológico e jurídico, aulas de português e encaminhamento a serviços públicos, como saúde e educação.

Em cada um dos dez quartos, as histórias se repetem. Fugas, violência física, sexual, psicológica e abusos dos direitos humanos.

“De vez em quando, meu filho pergunta: ‘Quando vamos voltar para casa?’”, afirma. “Só Deus é quem sabe, mas acho que nunca mais.”

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/03/1747805-acho-que-nunca-voltarei-pra-casa-diz-angolana-que-se-refugiou-em-sp.shtml

Sobre Max Rangel

Servo do Eterno, Casado, Pai de 2 filhas, Analista de Sistemas, Fundador e Colunista do site www.religiaopura.com.br.

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