A tradicional brincadeira da “amarelinha” é um dos jogos infantis mais conhecidos no mundo todo. Seu principal nome em português vem da palavra francesa “marelle”, que significa amarelo, cor do traçado feito geralmente com piçarra, rocha usada na preparação de leitos de estradas desde o tempo dos romanos.
A amarelinha teria sido trazida ao Brasil pelos portugueses e rapidamente se tornou popular pelo fato de poder ser jogada em praticamente qualquer lugar com um pouco de espaço livre. Em algumas regiões do Brasil, a brincadeira recebe o nome de jogo da pedrinha, academia, maré, sapata, avião ou macaca, entre outros.
As linhas podem ser desenhadas com piçarra ou giz, ou mesmo usando um graveto para riscar a terra. Depois, basta numerar os quadrados de 1 a 7 (ou 1 a 9), identificando o primeiro espaço antes da numeração como “Inferno” e o último, como “Céu”.
A brincadeira consiste em jogar uma pedrinha ou outro objeto em uma das casas numeradas e, a seguir, percorrer todo o trajeto, pulando com uma perna só, sem pisar na casa marcada, e recolher a pedrinha na volta. Não se pode pisar nas linhas ou se esquecer de retirar sua pedrinha do lugar. O participante que errar o alvo ou perder o equilíbrio passa a vez para outro.
Existem várias versões para a origem da brincadeira. Há quem diga que o jogo se originou no Antigo Egito, com um ritual de passagem para a eternidade, descrito no Livro dos Mortos, o que é evidentemente um exagero, ainda que revele um pouco da cosmovisão egípcia:
“Este Capítulo será recitado sobre um desenho representando as Hierarquias divinas e executado em cor amarela, em um ‘barco de Ra’. Ser-lhe-ão feitas oferendas […]. Além disso, fazei uma estatueta que represente o morto; colocai-a diante dos desenhos e fazei-a avançar sucessivamente em direção a cada uma das Portas. […] Depois, de ter feito os desenhos na quarta hora, passeai em círculo (ao redor deles), durante todo dia, tendo o maior cuidado em calcular e tempo segundo o Céu, na terra e no Mundo Inferior […]” (LIVRO DOS MORTOS, 1996, p. 171).
Outra versão diz que o jogo teria surgido na Bretanha durante o Império Romano. Nesse história, percursos similares ao desenho da amarelinha foram utilizados pelos exércitos romanos como treinamento dos soldados. Observando os militares, as criaças teriam criado a brincadeira.
Antigas gravuras mostram crianças brincando de amarelinha nos pavilhões de mármore nas vias da Roma antiga. Vem daí a informação de que, nas conquistas dos romanos, eles pavimentavam as estradas que levavam até seus novos territórios e para distrair as crianças que ficavam no meio do caminho, faziam desenhos no chão.
As crianças então pulavam amarelinha, jogando um pedaço de cerâmica ou até um ossinho de carneiro nos espaços do traçado. Na época, o percurso carregava o simbolismo da passagem do homem pela vida. Por isso, em uma das pontas se escrevia céu e, na outra, inferno.
Outra possível origem vem do início da Idade Média. Naquele tempo, as pessoas jogavam as contribuições para a Igreja nas escadarias. Assim, os visitantes tinham que pular as moedas para não pisá-las.
As primeiras referências ao jogo, das quais se tem registro confirmado, datam do século 17. No manuscrito Book of Games (“Livro de jogos”, em português), compilado entre os anos de 1635 e 1672, o estudioso inglês Francis Willughby já descrevia a brincadeira em que crianças pulavam sobre linhas no chão no percurso que simbolizava a trajetória do homem através da vida.
Fala-se até que a amarelinha surgiu na Europa renascentista, inspirada no livro de Dante Alighieri “A Divina comédia”. No livro, o personagem central da história, ao sair do purgatório busca o paraíso, atravessando nove mundos. Para isso, deveria saltar com um pé de mundo em mundo, empurrando uma pedra que representasse sua alma. Partia da Terra até o Céu, equilibrando-se para não cair no Inferno. A alma (pedra) não poderia deter-se sobre a linha, pois na narrativa, da terra ao céu, não há fronteiras, separações ou descansos.
Como dá para perceber, a possível origem da amarelinha é incerta. Assim, as questões iniciais sobre quem, onde e quando o jogo foi criado nunca serão respondidas com a certeza desses fatos. Entretanto, nas versões conhecidas e aqui expostas, existem elementos que contribuem para a compreensão de possíveis características do jogo, como o Céu, Terra, Inferno, pular com um pé só.
Particularmente, embora ainda não possamos provar, acreditamos ser evidente que a brincadeira tenha surgido mesmo no período dos romanos e que foi um método encontrado por pais ou educadores cristãos para ensinar às crianças e gravar em sua mente o modelo da cosmovisão judaico cristã, do Universo em três níveis — Inferno, Terra (casas numeradas) e Céu.
A salvação, que nos livra do Inferno e conduz ao Céu, é obtida através da posse da pedra preciosa, que é Jesus Cristo, de quem não devemos nos afastar nunca, caminhando com Ele sempre pela fé e pela fé somente, em um pé só, ainda que precisemos às vezes demonstrar essa fé por meio das obras. Fé e obras, os dois pés no chão durante o trajeto. Sem errar o alvo — “hamartia” –, expressão bíblica para definir o pecado.
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Amarelinha
http://criandocriancas.blogspot.com/2008/04/brincadeira-de-rua-amarelinha-1.html
https://www.fazfacil.com.br/lazer/jogo-de-amarelinha/
https://www.jogostradicionais.org/amarelinha
http://historiabrincadeira.no.comunidades.net/amarelinha
https://www.omo.com/br/se-sujar-faz-bem/brincadeiras/brincando-de-amarelinha-conheca-a-historia.html
http://www.saosebastiao.sp.gov.br/ef/e.metodologico/e.metodologico/Amarelinha.pdf