Embora tenhamos optado pela interpretação literal do relato de Gênesis 1, uma vez que a Bíblia é a Palavra inspirada do próprio Deus, o que significa que somos adeptos do Cristianismo Bíblico da Terra Jovem e Plana, reproduzimos o texto a seguir para que você possa visualizar as muitas maneiras “bem intencionadas” de desdizer a Bíblia, mascarando-se como “criacionista”. Leia-o com cautela, uma vez que o autor favorece à conclusão de que se deve buscar uma conciliação entre a Fé e a Ciência, através daquilo que chama de Criacionismo Moderno e Progressista.
Conhecendo melhor o Criacionismo
No blog Gênesis 1. temos várias informações a respeito do tema que diz respeito à polêmica questão “criacionismo versus evolucionismo”. Já tratamos também de assuntos ligados á maneira de pensar dos diferentes grupos, porém, até o momento apenas abordamos a discussão do “criacionismo da lacuna“, “evolucionismo teísta“, “evolucionismo ateísta” e, através da página “mentiras por trás do criacionismo“, o “criacionismo da terra jovem”. Porém, uma pergunta incessante carece de resposta: o que afinal de contas é o criacionismo – num contexto geral?? Quais vertentes existem?? Este blog está ligado a qual delas?? É exatamente este o objetivo deste artigo. Respondendo estas questões poderemos entender melhor como funciona a argumentação criacionista. Boa leitura!
O criacionismo é uma filosofia fundamentada na crença religiosa de que a humanidade, a vida na Terra e todo o universo veio a existir através da criação de um agente sobrenatural ou mais. Por esta definição, então, criacionismo não se limita a apenas ao cristianismo, pois na maioria das civilizações antigas, tanto como nas atuais, é possível encontrar relatos tentando explicar a origem de tudo como um ato intencional criativo, muitas vezes destacando uma figura como o originador da vida. Sendo assim, tanto cristãos quanto hindús quanto gregos podem ser chamados de criacionistas.
No entanto, o termo tem também um outro significado – e é justamente o significado utilizado no título da página “mentiras por trás do criacionismo” neste blog – que foge totalmente ao sentido literal do termo “criacionismo”: a rejeição, principalmente por motivos religiosos, a certos processos biológicos, como a evolução das espécies e à outros dados científicos como a idade da Terra.
Você jamais irá encontrar o termo “criacionismo” ou “criacionistas” na Bíblia. Esse é um detalhe curioso pois em nenhum site criacionista vemos revelada a origem deste termo. O mais estranho ainda é a exata origem do termo… Desde que a teoria da evolução entrou para o campo das ciências, surgiram vários pontos de vista filosóficos/teológicos relacionados ás origens. O grupo de pessoas que se opunha, porém, a teoria da evolução e acreditava numa “criação especial” eram chamados, inicialmente, de defensores da criação. Porém, Darwin e seus amigos, ocasionalmente, chamavam os opositores da evolução de “criacionistas”. Pois bem, e por incrível que pareça, essa é a origem do nome “criacionismo”. Sim, “criacionista” é um apelido criado por Darwin!
E, como claramente se vê, o apelido “pegou”. Hoje em dia pastores usam e abusam deste termo, sem saber que esta palavra foi criada pelo autor da teoria da evolução das espécies, sendo até mais utilizado do que o termo “anti-evolucionistas”, que também por vezes é utilizado. É claro que o fato do nome “criacionismo” ter sido criado por Darwin e seus amigos não desmerece em nada os méritos que o criacionismo tem, isto é, quando possui esses méritos…
Alguns movimentos criacionistas ainda chegam a considerar sua filosofia como uma teoria científica. No entanto, não é correto considerar o criacionismo como uma teoria científica, não por preconceito mas sim devido ao real sentido de teoria científica, como pode ser visto aqui.
Quem pensa que “criacionista é tudo igual” está redondamente enganado… Os tipos de criacionismo são vários, se levando em conta o termo geral: temos o hindú, o chinês, o grego, etc… cada um deles remetendo a sua mitologia. Se explanássemos sobre cada um deles aqui, o artigo iria ficar assustadoramente extenso, e não é o que queremos…
Portanto, iremos discorrer aqui a respeito dos criacionismos que realmente interessa a temática do blog: o criacionismo adotado nas três maiores religiões monoteístas do mundo: Judaísmo, Islamismo e Cristianismo.
No Cristianismo, o Criacionismo diz que Deus (a divindade cristã) criou o mundo e tudo o que há nele, a partir do nada. Os criacionistas acreditam que a explicação do início do mundo dada no Gênesis, o primeiro volume do Velho Testamento, é a verdadeira explicação das origens de tudo o que vemos em nosso redor. Esta é, então, a base para todo o criacionismo cristão, ao passo que há, na verdade, muitos tipos diferentes de criacionistas dentro do Cristianismo. Vamos conhecê-los um a um a seguir.
O criacionismo da terra plana diz que a terra é plana, imóvel e o centro do universo, coberta por um céu sólido, em forma de abóbada, provavelmente referindo-se ao segundo dia da criação, quando “fez, pois, Deus o firmamento e separação de águas debaixo do firmamento e as águas sobre o firmamento.(…) E chamou Deus ao firmamento Céus” (Gênesis, 1:7-1:8). As estrelas, o sol e a lua estariam embutidos nessa rígida abóbada. Eles não acreditam em nada no que diz respeito ás ciências, alegando que os cientistas estão juntos numa espécie de complô para enganar as pessoas.
O Criacionismo da Terra jovem tem muitos seguidores nos Estados Unidos e provavelmente é a forma mais radical de Criacionismo apoiada por um grande grupo atualmente. No entanto, tem perdido um pouco a força nos últimos anos, principalmente no Brasil. Sendo os primeiros a apoiarem a definição do Criacionismo como uma teoria científica, os criacionistas da Terra jovem (chamados de CTJ ouYECs) aceitam praticamente toda a astronomia moderna (rejeitando apenas o Big Bang), mas rejeitam a biologia, a física, a paleontologia e a geologia moderna em favor de uma leitura literal da explicação de Gênesis sobre a criação.
Os criacionistas da Terra jovem acreditam que Deus criou o universo e toda a vida que há na Terra direta e milagrosamente, durante um período de seis dias de 24 horas. Eles calculam que a Terra tenha aproximadamente 6 mil a 10 mil anos, contrariando os 4,5 bilhões de anos calculados usando medidores de data radiométricos e outros métodos científicos; daí a designação “Terra jovem”. Esse cálculo vem de informações do Gênesis, que incluem datas de nascimento de patriarcas bíblicos de Adão a Abraão, incluindo a idade deles quando seus filhos nasceram. Se adicionarmos essas idades e mais seis dias pelo período da criação (Deus criou Adão no sexto dia), o resultado é de aproximadamente 6 mil a 10 mil anos.
Esse grupo rejeita completamente a teoria da evolução. Eles também rejeitam grande parte da sabedoria científica nas áreas de geologia, genonomia e astronomia. Por exemplo: criacionistas da Terra jovem não acreditam que a camada geológica foi formada há bilhões de anos. Eles acreditam que quase todas as formações biológicas são o resultado de uma única enchente mundial que destruiu toda a vida na Terra, com exceção de Noé, sua família e os animais que ele salvou em sua arca. Os criacionistas da Terra jovem também acreditam que os dinossauros e os seres humanos habitaram a Terra ao mesmo tempo, alegando que a datação radiométrica está totalmente equivocada com relação aos fósseis.
A maioria dos criacionistas da Terra Jovem são protestantes, advindo de tradicionais, como a Igreja Adventista do Sétimo Dia, batista tradicional e Assembléia de Deus tradicional. Na página “mentiras por trás do criacionismo“, e especialmente neste link, é possível conhecer mais detalhes sobre o Criacionismo da Terra Jovem e os erros científicos que os mesmos acometem.
O criacionismo da Terra antiga, por fim, considera a ideia de uma Terra com muito mais do que meros 6 – 10 mil anos, aceitando a prova científica de que a mesma é bastante antiga. No entanto, esse segmento não descarta o livro de Gênesis enquanto relato literal e procura observar possíveis ligações entre o texto e as descobertas científicas. Em alguns casos esta procura acaba fazendo com que se veja algo na Bíblia que de fato não está lá. Além disso, só recentemente é que o Criacionismo da Terra Antiga está ganhando solidez em seus argumentos e vêm crescendo cada vez mais entre os protestantes em oposição ao Criacionismo da Terra Jovem, especialmente no Brasil. Deste segmento, podemos mencionar 3 tipos principais:
– Criacionismo da lacuna: O Criacionismo da lacuna sustenta que há uma enorme e não mencionada lacuna entre dois eventos da Bíblia, sendo que há várias hipóteses sobre onde estaria essa lacuna. Alguns teorizam que esta lacuna seria entre o sétimo dia da criação (o dia de descanso) entre o sétimo dia da criação (o dia do descanso) e quando Adão come o fruto proibido, causando a Queda do Homem, o que significaria que Adão e Eva teriam vivido no Jardim do Éden por milhões ou bilhões de anos antes da Queda. Mas a maioria dos criacionistas da lacuna defendem que a lacuna está entre a primeira e a segunda frase do Gênesis, o que significa que após Gênesis 1:1, que diz “No princípio, criou Deus os céus e a terra”, milhões ou bilhões de anos se passaram. Durante esse período, algo catastrófico leva a Terra à decadência, e então acontece Gênesis 1:2 (“a terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas”). Nesse ponto, os seis dias da criação (ou, no caso, recriação) começam. Esta tese é defendida por muitos cristãos da mídia como por exemplo o deputado Marcos Feliciano. Apesar de aceitar uma idade antiga da Terra, esta tese entra em conflito com o que se sabe sobre a ordem dos eventos ao longo da coluna geológica, como pode ser visto aqui: As lacunas da “Teoria da lacuna”
– Criacionismo do dia-era: O Criacionismo do dia-era vê o problema do tempo a partir de um ângulo diferente. Essa explicação afirma que, uma vez que Deus não criou o sol e a lua até o quarto dia da criação, o conceito de dias de 24 horas não existia quando a criação começou e quando o “dia” no mundo foi usado pela primeira vez. Então, um “dia da criação” pode ser qualquer período. Os criacionistas do dia-era vêem cada “dia” da criação como um período de milhões ou bilhões de anos, considerando a idade cientificamente determinada da Terra dentro da moldura da Bíblia. E existe todo um embasamento teológico para isto. Os criacionistas do dia-era, no entanto, acreditam que Deus criou cada tipo de organismo a partir do nada, ou seja, não aceitam a teoria da evolução das espécies. As Testemunhas de Jeová são os mais conhecidos defensores deste tipo de criacionismo.
Poderíamos incluir também, nesta lista, o evolucionismo teísta (defendido por algumas seitas judaicas, espíritas e pela Igreja Católica), porém, uma vez que não envolve uma leitura literal da Bíblia e como muitos evolucionistas teísticos ficam do lado do evolucionismo no debate criacionismo X evolucionismo, muitas pessoas o vêem separadamente do criacionismo. Justamente por isto, ele é discutido no artigo: “Evolucionismos deísta e teísta: certos ou errados?”
Uma vez que existem diversos tipos de criacionismo, basicamente todas as pessoas possuem o direito de acreditarem tanto na origem da vida segundo a Bíblia quanto na origem da vida segundo a ciência. Isso é algo que vai de cada um, pois se trata de simples moldura de compreensão do que vemos no mundo. Mas o que acontece quando se tenta forçar alguém a ser de um tipo exclusivo de criacionismo?
É o que os criacionistas da Terra Jovem tentaram fazer nos EUA… Eles procuram fazer com que os alunos aprendam criacionismo e evolucionismo lado a lado, como alternativas de mesmo nível, quando existe basicamente um problema: as teorias desenvolvidas pelos métodos científicos desprezam os argumentos “cientíicos” estabelecidos por esse movimento. Como assim?
Ocorre que, em termos científicos, “teoria” não é a mesma coisa que hipótese, mas sim uma área do conhecimento apoiada por um corpo vasto de evidências. E, sendo a teoria da evolução considerada uma teoria, é certo entre os cientistas que existem diversas evidencias para a teoria da evolução (e, por tabela, para a “Terra antiga”), evidencias estas que podem ser visualizadas nos artigos deste site e geralmente rebatidas muitas vezes de forma desonesta e antiética pelos criacionistas, no desespero de tentar provar que sua visão de Gênesis é a única correta e a que “garante a salvação” (pois alguns criacionistas chegam ao extremo de tratar tal filosofia como uma religião ou dogma, mas isso é algo que deixaremos para um próximo artigo). No final das contas, porém, o chamado “criacionismo científico” simplesmente carece de um corpo vasto de evidências a seu favor: ele tem como base de sustentação apenas as contrargumentações contra a teoria da evolução! Ademais, pela ciência, que lida com temas do mundo natural, é simplesmente impossível provar ou refutar a presença de Deus ou de ocorrências milagrosas usando métodos científicos. Os aspectos da evolução, porém, podem ser medidos científicamente, uma vez que a ciência trabalha não só com a observação mas também com o empirismo e, por isso, a mesma é falseável. Criacionismo, porém, não tem como ser falseado (aprenda mais detalhes sobre isto neste link)
A maioria dos cientistas, por isso, acredita que isso faz do Criacionismo uma teoria metafísica ou filosófica, e não científica. Daí, a explicação no início do texto de que o Criacionismo é considerado uma filosofia. E assim, entende-se porque Criacionismo não deve ser ensinado par a par com a teoria da evolução (não confundir “evolucionismo” com “evolução”), pois enquanto um é filosofia, o outro é teoria científica. Mas claro, nem por isto o Criacionismo deve ser rejeitado, aliás muito pelo contrário, pois o mesmo tem um valor significativo tão grande quanto a Soterologia (estudo da teologia que trata acerca da salvação), por exemplo.
Encerrando a temática, é importante também destacarmos uma tese que possui uma explicação peculiar e que tem sido usada como pretexto para colocar o ensino do Criacionismo da Terra Jovem nas escolas. É o apelidado “DI” ou “Design Inteligente”.
O DI alega que a vida como a conhecemos não poderia ter se desenvolvido por meio de processos naturais aleatórios – que só a orientação de uma força inteligente poderia explicar a complexidade e a diversidade que presenciamos hoje. Diferente dos criacionismos, o DI não diz que Deus é essa inteligência. A inteligência no DI poderia ser Deus, mas também poderia ser uma raça extraterrestre ou outra força sobrenatural. Além disso, o DI não desenha seus argumentos diretamente a partir da Bíblia cristã. De qualquer forma, o movimento do design inteligente caminha em problemas quando precisa provar suas teorias cientificamente, pois possui muitos argumentos falhos ao tentar provar que tudo veio por intermédio de uma ação “sobrenatural” ou algo do tipo, como por exemplo o argumento da complexidade irredutível (refutado parte a parte neste link). Esses erros talvez não aconteceriam, se a intenção real do DI não fosse, na realidade, desbancar a teoria da evolução das espécies e se colocar como alternativa a esta.
Inicialmente, a proposta do ensino do DI parecia ser honesta. O criador desse termo, o bioquímico Michael Behe, apresentava essa tese como uma explicação-chave para certos aspectos da própria teoria da evolução, não negando-a, mas complementando-a. Essa é a exata proposta do Criacionismo Progressivo e bom seria se assim o DI fosse…Porém, com o passar do tempo, defensores do DI agiram usando essa tese como um método para introduzir o criacionismo nas escolas, especialmente quando ficou claro que o objetivo que o DI acabou adquirindo não era propriamente explicar os processos naturais, mas sim desbancar a teoria da evolução e difundir o criacionismo. Justamente por isso, em 2005 o juiz americano John Jones determinou que o distrito escolar não podia continuar com seu plano, porque ele violava a separação constitucional entre igreja e estado.
Mas como isto foi descoberto? Como é que o DI se revelou ser isto? O “culpado” por deixar explícito isto foi o próprio instituto que criou o DI, o instituto Discovery (não confundir com a Discovery Communications…), que elaborou um manifesto chamado “documento de cunha“, que descreve uma ampla agenda social, política e acadêmica cujo objetivo último é “derrotar o materialismo (científico)” representado pela evolução, “reverter a sufocante visão de mundo materialista e substituí-la por uma ciência consoante com as convicções cristãs e teístas” e “afirmar a realidade de Deus”. Seu objetivo é “renovar” a cultura americana moldando a política pública para refletir os valores cristãos conservadores. Em outras palavras, provar que Deus é o Criador “na marra” e ao mesmo tempo de uma forma “sutil”. Essa estratégia ficou conhecida como “estratégia de cunha”, fazendo alusão ao tal manifesto.
Acerca disso, creio que seja importante falarmos acerca do Criador, porém, sem precisar distorcer a ciência para fazer ela dizer o que ela não diz. Da mesma forma, não podemos fazer a Bíblia dizer o que ela não diz, e temos que considerar que teologia e ciência são campos distintos, pois o próprio Deus está além do alcance da ciência… Como disse o jornalista científico Fred Heeren (Criacionista Progressista), a ciência não pode oferecer provas, mas pode dar direções e apontamentos acerca desse tema. E a questão da fé é uma questão individual na qual as pessoas vão ter que decidir para que lado vão.
BIBLIOGRAFIA
http://pt.wikipedia.org/wiki/Criacionismo
http://pessoas.hsw.uol.com.br/criacionismo3.htm
http://pessoas.hsw.uol.com.br/criacionismo5.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Criacionismo_da_Terra_Jovem
http://pessoas.hsw.uol.com.br/criacionismo4.htm
http://pessoas.hsw.uol.com.br/criacionismo1.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fundamentalismo_crist%C3%A3o