Imaginava-se que a capacidade intelectual e a superioridade ética do agora Dr. Paroschi fossem superar a mediocridade mental e subserviência denominacional de mestres como Wilson Endruveit, Pedro Apolinário, Rubens Lessa e outros. Contudo, depois de sua última manifestação na Revista Adventista, já se supõe que vá ser mais um dos executores teológicos da fase final do plano jesuíta de catolicização do adventismo.
A julgar pelo documento citado por ele para justificar o batismo em nome da Trindade nos dias de hoje, o próximo passo 100% sincero do doutor em teologia do Unasp, Wilson Paroschi, poderá ser a defesa da santificação do domingo em lugar do sábado. Afinal, para ser coerente com a escolha da Didaquê como base para o uso da fórmula trinitariana de batismo, deverá também admitir a santificação do domingo em lugar do sábado como prática cristã já no primeiro século, como resultado da mesma revelação progressiva.
No artigo “A Fórmula Trinitária”, publicado na edição digital da Revista Adventista nesta semana, Paroschi admite que os discípulos de Cristo batizavam apenas em nome de Jesus segundo está registrado no livro de Atos, mas acrescenta que, em sua opinião, um único livro da Bíblia não nos pode servir como Manual da Igreja nem como base de nossa fé. Apesar disso, tenta usar um único e suspeito texto do Evangelho de Mateus (28:19) para fundamentar a doutrina do batismo trinitariano, enquanto há dezenas de outros em que Jesus manda orar, reunir-se, realizar milagres, batizar e fazer tudo unicamente em Seu nome.
Paroschi prefere citar os chamados pais da Igreja católica e recomendar o suposto primeiro catecismo cristão “Didaquê, a Doutrina dos 12 Apóstolos” como documento-prova da fórmula trinitariana de batismo sendo usada no primeiro século da Era Cristã. Um posicionamento contraditório que chega a ser absurdo quando lembramos que em épocas passadas esse mesmo documento foi repetidas vezes rejeitado como prova da observância do domingo pela igreja no primeiro século, pelos teológos adventistas.
Hoje, corremos o risco de ser obrigados a aceitar a santificação do domingo, tendo como base os mesmos argumentos usados por Paroschi para defender a forma trinitária de batismo. Se a revelação é progressiva e confere autoridade à igreja para mudar de posicionamento doutrinário quando muda de compreensão, a Igreja poderia muito bem tardiamente ter reconhecido o dever de santificação do domingo, como se depreende da Didaquê, e abandonar também a guarda do sábado!
Defensores ferrenhos do catolicismo assim descrevem e exaltam a Didaquê: “A Didaqué é um documento do primeiro século,e foi chamado de “Doutrina dos Doze Apóstolos”; um catecismo simples da vida cristã e um ritual, que trata do Batismo, da Eucaristia, da celebração do domingo, e do jejum.”
Fonte: http://cleofas.com.br/o-que-e-a-didaque/
“Atualmente, a maior parte dos estudiosos parece concordar que a obra é fruto da reunião de várias fontes escritas e/ou orais, que retratam a tradição viva das comunidades cristãs do primeiro século. Os locais mais prováveis de sua origem são a Palestina e a Síria.
“A Didaqué é um manual da Religião, uma espécie de Catecismo dos primeiros cristãos: era o principal referencial escrito com que os primeiros seguidores do Cristo contavam além das Escrituras hebraicas (o conjunto organizado de livros que compõem a Bíblia Cristã, tal como a conhecemos hoje, ainda não estava completo nem definido). Esse documento, portanto, nos permite entender melhor as origens do cristianismo, nos dá uma ideia de como eram a iniciação, as celebrações, a organização e a vida das primeiras comunidades.”
Fonte: http://www.ofielcatolico.com.br/2001/05/o-didaque-instrucao-dos-apostolos.html
E curiosamente, para defender a santificação do domingo, tanto católicos quanto protestantes usam argumentos muito semelhantes aos de Paroschi na defesa da crença na Trindade:
“O último sábado de Lucas é um dia de tristeza. O domingo é o dia de alegria. Desde então, o domingo é o dia do Senhor, guardado pela igreja. Ela se reunia neste dia para celebrar a ceia (At 20.7) e separava as ofertas (1Co 16.2). ‘Didaqué’, obra cristã datada do primeiro século, espécie de catecismo da igreja primitiva, exorta os cristãos a se reunirem no domingo (Didaqué 14.1). Não é verdade que Constantino mudou o dia de culto e forçou as igrejas a aceitá-lo. Tal afirmação é ignorância histórica e má fé. Ao adotar o cristianismo, Constantino oficializou na esfera civil o que os cristãos haviam feito na esfera religiosa. O domingo é marca cristã.
“A guarda do domingo não sucedeu por causa de Constantino. Na epístola aos Magnesianos (datada do ano 107), Inácio de Antioquia declarou, em 9.1: ‘Assim os que andavam na velha ordem das coisas chegaram à novidade da esperança, não mais observando o sábado, mas vivendo segundo o dia do Senhor’.
Fonte: http://www.isaltino.com.br/2012/01/o-ultimo-sabado-e-o-primeiro-domingo-de-lucas/
“Depois o próprio Rubano Mauro diz que o Papa baseando-se em antiga tradição manda chamar o primeiro dia da semana de ‘Dia do Senhor’ e o sétimo de Sábado, bem como observar este em detrimento daquele. Ora, isso mostra que não foi o Papa que inventou isso.
“Com efeito, antes do tempo do Papa Silvestre, o Concílio Regional de Elvira realizado no ano 300 de nossa era já confirmava a observância cristã do Domingo como Dia do Senhor. Alguns adventistas dizem que foi aí que realmente se deu a mudança. Deveriam saber que um Concílio Regional não tem força de obrigar toda a Igreja, logo a tese deles vai por água abaixo.
“Antes mesmo do Concílio Regional de Elvira, Tertuliano em sua fase católica deu testemunho de que no século II os cristãos já observavam o Domingo:
“Outros, de novo, certamente com mais informação e maior veracidade, acreditam que o sol é nosso deus. Somos confundidos com os persas, talvez, embora não adoremos o astro do dia pintado numa peça de linho, tendo-o sempre em sua própria órbita. A idéia, não há dúvidas, originou-se de nosso conhecido costume de nos virarmos para o nascente em nossas preces. Mas, vós, muitos de vós, no propósito às vezes de adorar os corpos celestes moveis vossos lábios em direção ao oriente. Da mesma maneira, se dedicamos o dia do sol para nossas celebrações, é por uma razão muito diferente da dos adoradores do sol. Temos alguma semelhança convosco que dedicais o dia de Saturno (Sábado) para repouso e prazer, embora também estejais muito distantes dos costumes judeus, os quais certamente ignorais” (Tertuliano 197 d.C. Apologia part.IV cap. 16) (grifos meus).
“Antes mesmo de Tertuliano, S. Justino de Roma já dava testemunho do culto a Deus aos domingos:
“67. Depois dessa primeira iniciação, recordamos constantemente entre nós essas coisas e aqueles de nós que possuem alguma coisa socorrem todos os necessitados e sempre nos ajudamos mutuamente. Por tudo o que comemos, bendizemos sempre ao Criador de todas as coisas, por meio de seu Filho Jesus Cristo e do Espírito Santo.
“No dia que se chama do sol, celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos, e aí se lêem, enquanto o tempo o permite, as Memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas. Quando o leitor termina, o presidente faz uma exortação e convite para imitarmos esses belos exemplos. Em seguida, levantamo-nos todos juntos e elevamos nossas preces. Depois de terminadas, como já dissemos, oferece-se pão, vinho e água, e o presidente, conforme suas forças, faz igualmente subir a Deus suas preces e ações de graças e todo o povo exclama, dizendo: ‘Amém’. Vem depois a distribuição e participação feita a cada um dos alimentos consagrados pela ação de graças e seu envio aos ausentes pelos diáconos.
“Os que possuem alguma coisa e queiram, cada um conforme sua livre vontade, dá o que bem lhe parece, e o que foi recolhido se entrega ao presidente. Ele o distribui a órfãos e viúvas, aos que por necessidade ou outra causa estão necessitados, aos que estão nas prisões, aos forasteiros de passagem, numa palavra, ele se torna o provedor de todos os que se encontram em necessidade.
“Celebramos essa reunião geral no dia do sol, porque foi o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos. Com efeito, sabe-se que o crucificaram um dia antes do dia de Saturno e no dia seguinte ao de Saturno, que é o dia do Sol, ele apareceu a seus apóstolos e discípulos, e nos ensinou essas mesmas doutrinas que estamos expondo para vosso exame” (Justino de Roma 155 d.C, I Apologia cap 67).
“Antes mesmo de S. Justino, S. Inácio de Antioquia também confirmava o antigo costume entre os cristãos:
“9. Aqueles que viviam na antiga ordem de coisas chegaram à nova esperança, e não observam mais o sábado, mas o dia do Senhor, em que a nossa vida se levantou por meio dele e da sua morte. Alguns negam isso, mas é por meio desse mistério que recebemos a fé e no qual perseveramos para ser discípulos de Jesus Cristo, nosso único Mestre. Como podemos viver sem aquele que até os profetas, seus discípulos no espírito, esperavam como Mestre? Foi precisamente aquele que justamente esperavam, que ao chegar, os ressuscitou dos mortos.
“10. Portanto, não sejamos insensíveis à sua bondade. Se ele nos imitasse na maneira como agimos, já não existiríamos. Contudo, tornando-nos seus discípulos, abraçamos a vida segundo o cristianismo. Quem é chamado com o nome diferente desse, não é de Deus. Jogai fora o mau fermento, velho e ácido, e transformai-vos no fermento novo, que é Jesus Cristo. Deixai-vos salgar por ele, a fim de que nenhum de vós se corrompa, pois é pelo odor que sereis julgados.
“É absurdo falar de Jesus Cristo e, ao mesmo tempo judaizar. Não foi o cristianismo que acreditou no judaísmo, e sim o judaísmo no cristianismo, pois nele se reuniu toda língua que acredita em Deus ” (Santo Inácio de Antioquia, aos Magnésios. 101 d.C.).
“Antes mesmo de S. Inácio, o primeiro Catecismo Cristão testifica a antiga guarda do domingo:
“Reúnam-se no dia do Senhor [= dominica dies = domingo] para partir o pão e agradecer, depois de ter confessado os pecados, para que o sacrifício de vocês seja puro” (Didaqué 14,1. 96 dC).
“Logo provamos que a guarda do Domingo é doutrina perene na Igreja primitiva.
“Fora da Bíblia, inúmeros são os testemunhos que comprovam a santificação do domingo pelos primeiros cristãos: Didaqué [~96 dC] (Did. 14,1), Plínio [séc.II dC] (governador da Bitínia – Ad Traj. X,96,7), Sto. Inácio de Antioquia [~100 dC] (Magn. 9,1), S. Justino Mártir [153 dC] (1Apol. 67,3,7), Constituições Apostólicas [séc. III]…
“Logo, ao contrário do que costumeiramente se afirma, o domingo não foi instituído no séc IV, mas é observado – como bem documenta a Palavra de Deus e a Sagrada Tradição – desde o período apostólico.
Fonte: http://www.apologeticacatolica.com.br/agnusdei/ap15.htm
Os protestantes também citam a Didaquê como prova da santidade do Domingo:
“Sobre a alegação adventista, de que o domingo é uma invenção da Igreja Católica Romana e do imperador romano Constantino, nós podemos responder que se trata de uma absurda ignorância dos fatos históricos. A Igreja Católica Romana teve a sua instauração oficial no ano de 590 d.C., com a ascensão do papa Gregório Magno. Já Constantino chegou ao poder unificado do Impèrio Romano em 312 d.C.
“Por qual razão estas informações são interessantes? Porque existe um documento primitivo, datado de mais ou menos 150 d.C., chamado Didaquê ou Instrução dos Doze Apóstolos, que afirma o seguinte: ‘Reuni-vos no dia do Senhor para a fração do pão e agradecei (celebrai a eucaristia), depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja puro’.
“Interessantemente, uma das principais orientações do autor do Didaquê, era para que os cristãos procurassem se diferenciar dos judeus. Por exemplo, tratando dos dois dias de jejuns semanais, o autor dá a seguinte orientação aos cristãos: ‘Vossos jejuns não tenham lugar com os hipócritas; com efeito, eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana; vós, porém, jejuai na quarta-feira e na sexta’.
“Além do Didaquê, Inácio de Antioquia, discípulo do apóstolo João, escreveu o seguinte ao povo de Magnésia (atual Manisa, Turquia): ‘Não sejam enganados com doutrinas estranhas, nem com fábulas antigas. Pois se ainda vivemos de acordo com a lei judaica, estamos admitindo que não recebemos a graça”. Em seguida, ele chama os seus leitores de “aqueles que haviam alcançado a posse de uma nova esperança, não mais observando o sábado’.
“Na mesma carta, Inácio diz o seguinte, confrontando o domingo com o sábado judaico: ‘O Dia do Senhor, no qual, também, nossa vida surgiu por meio dele e de sua morte, fato este negado por alguns – é o mistério pelo qual recebemos a fé’. Para Inácio, observar o dia do Senhor é reconhecer que a salvação é, pela morte e ressurreição de Jesus, uma observância do shabbath.
Fonte: http://www.cristaoreformado.com/2011/04/razoes-pelas-quais-nao-guardamos-o.html
Tanto católicos, quanto protestantes e agora teólogos adventistas, como Paroschi, repetem exaustivamene a informação de que se trata de um documento do primeiro século, muito citado pela patrística, mas evitam mencionar que se trata de uma coletânea de vários textos, autores e épocas e que o texto completo de que de que se dispõe data do décimo primeiro século:
“Didaquê (Διδαχń em grego clássico) ou Instrução dos Doze Apóstolos é um escrito do primeiro século que trata do catecismo cristão. Didaquê significa doutrina, instrução. É constituído de dezesseis capítulos, e apesar de ser uma obra pequena, é de grande valor histórico e teológico. O título lembra a referência de Atos 2,42: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos…”.
“Estudiosos estimam que seja escritos anteriores a destruição do templo de Jerusalém, entre os anos 60 e 70 d.C. Outros estimam que fosse escrito entre os anos 70 e 90 d.C., contudo são coesos quanto à origem sendo na Palestina ou Síria.
“Quanto a sua autenticidade, é de senso comum que o mesmo não tenha sido escrito pelos doze apóstolos, ainda que o título do escrito faça menção aos mesmos; mas estudiosos acreditam na compilação de fontes orais tendo recebido tais ensinos que resultaram na elaboração do mesmo. Também é senso comum que tenha sido escrito por mais de uma pessoa.
“O texto foi mencionado por escritores antigos, inclusive por Eusébio de Cesaréia que viveu no século III, em seu livro ‘História Eclesiástica’, mas a descoberta desse manuscrito, na íntegra, em grego, num códice do século XI (ano 1056) ocorreu somente em 1873 num mosteiro em Constantinopla.”
Confira trechos contraditórios da Didaquê:
Sobre o Batismo Trinitariano — Capítulo VII
1 No que diz respeito ao batismo, batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em água corrente [Cf Mt 28,19].
2 Se não tens água corrente, batiza em outra água; se não puderes em água fria, faze-o em água quente.
3 Na falta de uma e outra, derrama três vezes água sobre a cabeça em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Sobre o Batismo em nome de Jesus — Capítulo 9
5 Ninguém coma nem beba de vossa Eucaristia, se não estiver batizado em Nome do Senhor. Pois a respeito dela disse o Senhor: “Não deis as coisas santas aos cães!”.
Sobre a subordinação de Jesus, como Filho de Deus — Capítulo X
2 Nós vos bendizemos (agradecemos), Pai Santo, por vosso Santo Nome, que fizestes habitar em nossos corações, e pelo conhecimento, pela fé e imortalidade que nos revelastes por Jesus, vosso Servo; a Vós, a Glória pelos séculos. Amém.
Sobre a santificação do Domingo — Capítulo XIV
1 Reuni-vos no dia do Senhor (Domingo) para a Fração do Pão e agradecei (celebrai a Eucaristia), depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja puro.
Contradições de Wilson Paroschi
Apesar dessas várias evidências de ensinos discordantes entre as instruções reunidas na Didaquê, Wilson Paroschi aponta esse documento como um manual de fé e prática superior ao livro de Atos, cuja fórmula batismal deveria ser seguido pela Igreja hoje, pois refletiria uma compreensão mais adequada das palavras de Cristo, fruto da revelação progressiva de seu significado. O professor e teólogo do Unasp ignora propositalmente que o mesmo documento considere obrigatório o batismo “em nome do Senhor” para a participação na eucaristia (santa ceia).
No artigo que ora refutamos, são estas as suas palavras referentes à Didaquê como fonte da fórmula trinitariana de batismo, ainda hoje válida:
“Toda a literatura patrística anterior ao 4º século que cita Mateus 28:19 inclui a fórmula trinitariana. Exemplos: a Didaquê (c. 130-150), uma espécie de manual da igreja síria…
“Já a fórmula batismal em Mateus 28:19 se apresenta como uma clara ordenança de Jesus, e, portanto, é ela que deve pautar as atividades da igreja hoje. No fim do 1º século, a igreja já batizava em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Evidência disso é a própria Didaquê acima citada, que faz referência clara ao batismo trinitariano. Embora sendo do início do 2º século, há suficientes razões para crermos que tal prática retrocede ao período apostólico, na segunda metade do 1º século.”
Paroschi escolhe o versículo de Mateus 28:19 como única fonte bíblica para o batismo trinitariano, desvalorizando totalmente a prática apostólica de batizar apenas em nome de Jesus, e agarrando-se desesperada e descaradamente à referência da Didaquê como uma prova, bem mais que uma evidência, de que a Igreja Adventista, protestantes e o catolicismo estariam certos em batizar em nome da Trindade.
“Seja como for, isso significa que não devemos olhar para o livro de Atos como se fosse um manual de igreja, muito menos como um manual evangelístico, como muitos o fazem. …
“É por isso que nosso credo é a Bíblia em sua totalidade (tota scriptura), e não apenas o livro de Atos.”
Na verdade, Paroschi rejeita todo o livro de Atos, onde o batismo praticado pelos apóstolos foi apenas em nome de Jesus, e se apega não à Bíblia toda como credo, mas à controversa Didaquê e a um único versículo solitário de Mateus para fundamentar sua crença.
Aliás, uma leitura atenta desta Apostila sobre o livro de Atos e as Epístolas, usada por Wilson Paroschi em suas aulas no Unasp (clique para baixá-la) revela que essa visão do livro de Atos como mero registro histórico leva-o não só a dizer que Atos não deve servir como regra de fé e prátia ou “Manual da Igreja”, mas também a afirmar que a vida em comunidade de total partilha dos primeiros cristãos (Atos 4:31-35) foi um equívoco.
O pior é que essa versão de Mateus 28:19 escolhida por Paroschi não diz que o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam iguais e formem um único Deus. Portanto, também não prova a existência de uma Trindade, com Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Se fosse verdadeira, poderia significar apenas que somos batizados para Deus, o Pai, em nome do Filho, com o poder do espírito santo, que, segundo a Bíblia, é um dom de Deus, derramado dentro de cada crente, como criam os pioneiros adventistas.
Para ser, de fato, 100% sincero, Paroschi deveria, no mínimo, ter mencionado que Eusébio (cerca de 260 a cerca de 340 depois de Cristo), bispo de Cesaréia, conhecido como o “Pai da História da Igreja”, porque escreveu a sua História Eclesiástica, contando a história da Igreja desde o período Apostólico até seu próprio tempo, cita muitas passagens bíblicas em seus escritos, e Mateus 28:19 é uma delas. Contudo, até a realização do Concílio de Nicéia, ele não a cita como hoje se apresenta nas Bíblias modernas, mas termina o verso sempre com as palavras “em meu nome”.
Por exemplo, no livro III de sua História , Capítulo 5, Seção 2, que é sobre o início da perseguição judaica contra os cristãos, lemos:
“Depois da ascensão de nosso Salvador, os judeus acrescentaram ao crime cometido contra ele a invenção de inúmeras ameaças contra seus apóstolos: Estevão foi o primeiro que eliminaram, apedrejando-o; depois dele, Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João, a quem decapitaram; e depois
de todos, Tiago, o que depois da ascensão de nosso Salvador foi o primeiro designado para o trono episcopal de Jerusalém e morreu da forma que já descrevemos. E os demais apóstolos sofreram milhares de ameaças de morte e foram expulsos da terra da Judéia. Porém, com o poder de Cristo, que havia-lhes dito: Ide e fazei discípulos de todas as nações em meu nome, dirigiram seus passos para todas as nações para ensinar a mensagem.”
É no mínimo curioso que o mesmo Paroschi que se recusa a admitir que um único versículo do Evangelho de Mateus possa ter sido adulterado, em artigo também publicado na Revista Adventista (Julho de 2008, págs. 12 a 15) cite o próprio Eusébio de Cesaréia para provar que os doze versículos finais do Evangelho de Marcos sejam um acréscimo posterior ao texto sagrado.
Eusébio de Cesaréia pode não ter sido o que se pudesse chamar de um santo homem de Deus, uma vez que sua suposta subserviência e bajulação interesseira do imperador Constantino tornaram-se também históricas. Contudo, devemos a ele a maior parte conhecida da história do Novo Testamento. E por mais que os trinitarianos digam que foi um teólogo sem opiniões próprias, com pouca originalidade e juízo independente, é de se supor que pôde pesquisar à vontade sobre esses e outros assuntos na maior biblioteca cristã de sua época (fundada pelo mártir Pamphilius), antes de afirmar que Jesus Cristo ordenou que batizassem em seu próprio nome. E talvez por isso mesmo manifestou-se inicialmente como favorável às idéias arianas quanto à subordinação de Jesus Cristo a Deus, o Pai.
Segundo Mark Kennicott, “não é exagero dizer que a partir desta simples coleção de manuscritos em Cesaréia deriva a maior parte da literatura ante-Nicênica remanescente. Nesta Biblioteca, Eusébio deve ter manuseado habitualmente códigos dos evangelhos duzentos anos mais antigos que o mais antigo dos grandes manuscritos que temos agora em nossas bibliotecas.” (Fonte: A Closer Look at Matthew 28:19, A Study In Textual Criticism, editado por Mark Kennicott, 2000, pág. 13).
Depois do Concílio de Nicéia, com a derrota da fé ariana, Eusébio mudou ou foi forçado a mudar de lado, aliou-se ao imperador Constantino e, juntamente com outros bispos, participou da tentativa de uniformização do texto bíblico mediante a confecção de dezenas de cópías dos manuscritos do Antigo e do Novo Testamentos, padronizadas segundo as decisões de Nicéia, inclusive sobre a Trindade. Cópias com variantes textuais de origem local, que não refletiam essa padronização, algum tempo depois passaram a ser confiscadas e destruídas. Vem daí evidentemente a ausência de manuscritos mais antigos com a fórmula “batizando-os em meu nome”, mencionada por Wilson Paroschi em seu artigo:
“A fórmula está presente em todos os manuscritos gregos que contêm Mateus 28:19, pois nem todos os manuscritos sobreviveram de forma completa. Na verdade, alguns chegaram até nós em estado bastante fragmentário, mas todos os que contêm o versículo em questão registram a fórmula trinitariana, sem exceção, e isso acontece com vários manuscritos cujo texto remonta ao 2º século.”
Chega a ser hilário, tragicômico, o argumento parosquiano! É como se dissesse: “Um terceiro seio está presente em todas as mulheres que nascem com três seios, embora existam as que sobrevivem com apenas dois, mas todas as que contém o terceiro seio em questão possuem três peitos, sem exceção…”
O vídeo-documentário a seguir conta nos seus primeiros dez minutos um pouco desta história, embora deva também ser assistido com espírito crítico santificado: “Examine tudo, mas retenha somente o que é bom.”
DOWNLOADS
- Click neste link para baixar uma cópia em português da Didaquê.
- Neste link acesse o artigo sobre “Marcos 16:9-20: Original ou acréscimo” também publicado por Wilson Paroschi, na Revista Adventista (Julho de 2008, págs. 12 a 15)
- Clique neste outro link para baixar a tradução em português da provável versão original do Evangelho de Mateus, que não contém a fórmula trinitariana.