Introdução
“Como alguém pode deixar a Igreja Adventista do Sétimo Dia, a não ser por estar fraco na fé?” Esta era a pergunta que eu fazia quando achava que alguém estava prestes a deixar o barco da única igreja verdadeira.
Infância e Adolescência
Minha história pessoal se confunde e se mescla com a história da igreja nas últimas quatro décadas no Brasil. Na minha infância, um colportor levou os livros da Igreja até minha casa, de tal forma que, após alguns anos, estávamos frequentando a Igreja Adventista, onde prosseguimos nos últimos quarenta anos.
Como dedicados adventistas, meus irmãos e eu participávamos de tudo na Igreja, inclusive do clube dos desbravadores. Aos quinze anos eu já havia lido “O Grande Conflito”, “Mensagens aos Jovens” e vários outros livros da Igreja e da sra. White. Naquela época, ainda éramos os ‘Missionários Voluntários’ (depois o nome mudou para Jovens Adventistas).
A Igreja Adventista que frequentei nos anos 1970
A Igreja que eu frequentei e vivi plenamente, pregava com entusiasmo várias coisas. Nos estudos bíblicos que recebemos e nas pregações da Igreja aprendemos que o papa era a cabeça da Besta do Apocalipse e a Igreja Católica era a Besta que emerge do Mar. A Igreja Adventista era a única igreja verdadeira, pois era a única que guardava os dez mandamentos de Deus. Além disso, tínhamos uma profetisa infalível. Fomos informados que havia um plano ecumênico em andamento para a união das igrejas, mas a igreja adventista jamais se uniria a elas, pois nem mesmo fazíamos parte do Conselho Mundial das Igrejas. Todas as profecias da nossa profetisa tinham se cumprido e outras ainda iriam se cumprir e isso nos fazia sentir muito seguros.
Na época comentava-se muito sobre o fato da Igreja Adventista ser a segunda instituição mais organizada do mundo, atrás apenas da SHELL numa pesquisa feita nos Estados Unidos. O livro de nossa profetisa sobre a vida de Jesus (O Desejado de todas as nações) era considerado a melhor história já contada da vida de Jesus por alguém muito importante que trabalhava na Biblioteca do Congresso Americano. Sabíamos também que dentre os adventistas mais consagrados, no tempo do fim estariam os 144.000, e cada um de nós se esforçava pra estar entre eles.
Participávamos das caravanas dos Festivais de Fé, das reuniões de Koinonia e cada notícia mais alarmante era para nós um sinal evidente do fim do mundo e isso era amplamente pregado e comentado por várias semanas. Aguardávamos e comentávamos com ares de surpresa e inquietação qualquer notícia relacionada ao domingo, ansiosos pelo decreto dominical. Pois para nós, a guarda do domingo era um sinal da besta. Em cada sábado à tarde, líamos porções do livro Mensagens aos Jovens, procurando ver em qual ponto deveríamos nos aperfeiçoar ainda mais.
E eu, como um ótimo adventista, acreditava e procurava viver plenamente tudo. Minha dedicação também se refletia na minha frequência, pois eu não perdia um único culto. Observando o meu comportamento, vários membros da Igreja diziam que eu deveria ir para um de nossos internatos e estudar para ser pastor da Igreja.
Um fato estranho
Mas antes que eu tomasse tal decisão, aconteceu algo estranho em minha Igreja, que era a sede do distrito em nossa cidade no interior de Santa Catarina: alguns membros foram afastados da Igreja pelo pastor por um motivo inusitado. O que me surpreendeu foi que estes irmãos eram muito zelosos e me pareciam adventistas e cristãos autênticos.
Curioso, perguntei a um dos líderes sobre o caso e ele me disse que o motivo era ‘apostasia’. E completando, recomendou-me que não me aproximasse de forma alguma desses ex-membros. Não satisfeito com a resposta, pois eu não podia entender como irmãos tão zelosos poderiam ter se apostatado, perguntei a uma pessoa que ainda era amiga de um dos (agora) ex-adventistas. Ela disse-me que era por que eles estavam seguindo as ideias de um pesquisador adventista chamado Desmond Ford que contestava importantes doutrinas da Igreja. Diante dessa explicação, julguei que a Igreja tinha procedido corretamente naquele caso e tranquilizei-me sobre o assunto.
No Internato
Fui para um de nossos colégios, buscando preparar-me ainda mais espiritualmente para seguir a carreira ministerial que me aguardava. Após concluir o segundo grau, transferi-me para um dos dois internatos que ofereciam o curso de Teologia.
Sonho dos sonhos: eu, um simples jovem do interior do Brasil, estava ali no Seminário da Igreja que eu amava, preparando-me para ser um pastor. Tudo ocorria de forma maravilhosa e busquei aproveitar ao máximo o curso. Gostava muito das aulas do professor de Daniel e Apocalipse que frequentemente repetia: “Um texto fora do contexto é um pretexto”.
Da época do teológico, além das boas lembranças, dois incidentes, completamente distintos, trouxeram-me alguma perturbação.
Um colega de quarto um dia me chamou e leu um trecho de Ellen White, perguntando-me se eu achava que aquelas eram palavras de uma pessoa inspirada por Deus. O trecho em questão tratava Jesus como infantil e fraco, e eu disse ao colega que devia ser um erro de tradução. É claro que ele não ficou satisfeito, mas eu procurei ‘esquecer’ o assunto, pois não queria, conforme o dito popular, colocar ‘minhoca’ em minha cabeça.
Em outra ocasião, um professor do Teológico, Doutor em Teologia, recém-chegado da Andrews University, foi afastado do curso e excluído por ensinar em classe, doutrinas conflitantes com as defendidas pela Igreja. Outro professor, também Doutor em Teologia e professor de Oratória, foi afastado do curso e forçado a se aposentar porque gostava de falar ‘umas verdades’ que desagradavam a liderança do colégio e da obra. Eu gostava destes professores e me entristeci com estes fatos.
Achava essas coisas estranhas, mas eu era jovem e meu foco era para mim muito claro: ser pastor da Igreja. Formei-me e fui chamado: meu sonho estava se realizando.
Até que durou muito
Como pastor, aprofundei ainda mais meus estudos para preparar meus sermões e logo encontrei um foco para minhas mensagens: vida saudável, trabalho missionário, leitura dos livros do espírito de profecia e fidelidade aos princípios da igreja.
Mas o conhecimento aliado a inteligência é perigoso na Igreja Adventista. Ao estudar com diligência e oração, logo começaram minhas dúvidas e inquietações em questões que envolviam Ellen White e as doutrinas. E das suas, uma: ou eu encontrava uma maneira de silenciar minhas inquietações, ou teria problemas.
E durante vários anos eu escolhi silenciar minhas inquietações com paliativos que à época pareciam satisfatórios: Ellen White era uma profetiza inspirada por Deus – logo suas palavras tinham o mesmo peso dos profetas bíblicos; a Igreja devia ter um bom motivo para acreditar dessa maneira; a Igreja Adventista era a igreja verdadeira e cumpria um papel singular na história do mundo; era meu emprego, minha carreira, minha escolha de vida, afinal de contas.
Outra coisa que me inquietava eram os erros, mandos e desmandos que eu via em diferentes setores da ‘obra’. Havia também uma inquietação entre vários obreiros das missões: o peso ‘morto’ que na época significavam as uniões, que apenas repassavam orientações vindas da divisão para as associações e missões. Mas eu novamente me tranquilizava afirmando para mim mesmo que ‘fora’ da obra, deveria ser muito pior, e que aquelas pessoas e os dirigentes que faziam coisas erradas e tomavam decisões que prejudicavam a obra e a igreja como um todo, no juízo final teriam de Deus a justa recompensa por suas más obras.
Experiência Frustrante
Realizando uma semana especial sobre o Espírito de Profecia, uma das senhoras, membro de nossa Igreja, trouxe uma inquietação: ela estava entusiasmada com a semana de oração e foi tentar evangelizar seu bairro. Nessas tentativas, sua vizinha lhe disse que não acreditava na profetiza adventista, pois Ellen White era racista.
Tranquilizei a irmã dizendo que aquilo era um absurdo, e que a vizinha dela mostrava apenas preconceito contra a Igreja e um total desconhecimento dos escritos da sra. White. A irmã adventista se deu por satisfeita com minha resposta superficial, mas eu não. Comecei a revirar meus livros em busca das referências sobre o assunto, disposto a provar que o que eu disse era correto, como era do meu costume.
Mas fiquei desapontado com o que encontrei, pois mesmo considerando o contexto dos Estados Unidos do século XIX, aquelas afirmações presentes nos ‘escritos inspirados’ eram claramente racistas. Não voltei a falar no assunto com a irmã e fiquei feliz por que ela não me procurar para falar sobre isso. A partir desse incidente, minha consciência não mais me deixou tranquilo com relação a Ellen White e comecei a centrar minhas pregações apenas na Bíblia.
Administração
Após alguns anos, convidado pela própria organização, deixei o ministério e dediquei-me a atividades administrativas. Sentindo-me cada vez mais apto e vocacionado para esse tipo de trabalho (as atividades administrativas), após alguns comecei a considerar a possibilidade de abrir minha própria empresa num ramo específico de negócios. Na administração conheci mais de perto algumas coisas na obra com as quais muitos adventistas não concordariam. Comecei a desejar não trabalhar na ‘obra’. Minha família e eu oramos muito sobre isso.
Após muita reflexão e oração, decidi deixar a obra, fundar minha empresa e servir a Deus como um simples membro de Igreja, atuando como fosse necessário, tanto fazia se fosse um professor da escola sabatina ou um ancião. Por outro lado, minha futura empresa parecia-me um lugar onde eu poderia criar um bom ‘ambiente de obra’.
Enfim, tudo indicava que eu serviria melhor a Deus fora da organização. Voltei para a capital do meu estado e comecei meu empreendimento, sem me descuidar das coisas da igreja, pois além de ajudar na liderança local da congregação, eu dava muitos estudos bíblicos e pregava frequentemente.
Mais Inquietações
Livre das amarras organizacionais, dei vazão ao meu desejo de investigar e pesquisar qualquer assunto que me viesse, mantendo sempre um lema que aprendi com o apóstolo Paulo: “Examinai tudo, retende o que é bom”. Além dos livros, a internet estava agora disponível a todos e a Igreja facilitou nesse ponto, pois os sites organizacionais transformaram-se em ferramentas de informação e evangelização.
As pesquisas traziam, entretanto, cada vez mais surpresas e decepções. No site da Igreja, com tristeza, descobri pela primeira vez que Ellen White havia copiado indiscriminadamente de outros autores e que, ao longo de vários anos e décadas, tanto ela como a administração da Igreja negaram esse fato. Além disso, também fiquei sabendo pela primeira vez que ela havia feito várias profecias que não haviam se cumprido e que deixara como herança para filhos, netos e bisnetos, o fruto de seu dom espiritual, quando em seus escritos, ela mesma recomendava o contrário. Vi pelo site do Centro White que ela mentira para José Bates a fim de ganhá-lo para a Igreja. Senti-me muito mal e de verdade, chorei por dentro.
Minha geração foi educada no conceito de que Ellen White era uma cristã devota, uma pessoa tremendamente espiritual, inspiradora e que jamais poderia (pelo menos na idéia que a Igreja passara para nós) fazer coisas daquela natureza.
Eu pensava e questionava: como e porque a Igreja não me contou essas coisas? Afinal de contas, eu havia estudado no Seminário da Igreja e, se havia algo para esconder dos membros de uma forma geral (o que não seria correto), nada deveria ser escondido dos pastores. Eu simplesmente não conseguia entender.
Nessa ocasião descobri que a maioria dos sites na internet que falam sobre Ellen White pertence a ex-adventistas que criticam os escritos e o ministério dela.
Mente Aberta
Foi aí que uma simples constatação fez meu espanto e surpresa atingir o ápice: todas as inconsistências, incoerências, erros, mentiras e enganos estão apresentados nos sites oficiais da Igreja e do Espírito de Profecia, (logicamente) com as respectivas explicações defendendo Ellen White e os pontos de vista da Igreja. Em outras palavras, os administradores devem ter pensado: já que as críticas se baseiam em coisas, escritos e fatos reais, vamos colocá-los nos sites oficias da igreja, mas vamos defender Ellen White em cada uma das questões, acusações e problemas.
Emagreci de nervosismo e tristeza, pensando durante muito tempo em como aquelas coisas poderiam ser possíveis. Aflito, mas com oração e genuinamente decidido a não permitir que aquilo abalasse minha fé, decidi investigar ainda mais. Por outro lado, comecei a reler a Palavra de Deus, buscando crescer apenas por ela.
Decidi continuar minhas pesquisas da mesma forma que eu já vinha conduzindo: somente investigar pelas fontes da Igreja e não pelos críticos.
Ou seja, se um membro decide ‘investigar’, basta ele ler as fontes bibliográficas e o próprio site da Igreja. Embora possa parecer simples, pois fui aos poucos percebendo as incoerências, acredito que a maioria dos membros está condicionada a ver apenas o que querem ver.
Ao relembrar como eu mesmo tinha me calado e tampado meus ouvidos para coisas evidentes, vi que minha própria experiência revelava como as pessoas só veem o que estão preparadas para ver.
Além disso, os adventistas não são diferentes das pessoas em geral, pois a ‘verdade’ para eles acaba sendo uma questão de quem dá as explicações que ‘parecem’ mais convincentes.
Descobertas
Ao longo de seis meses, descobri mais sobre a Igreja Adventista e suas doutrinas do que em quase quarenta anos de adventismo.
Não pude entender como eu não havia aberto os olhos para aquelas questões. Aí me lembrei tanto de meu colega do teológico, como daquela irmã que trouxera a mim a questão do racismo nos escritos inspirados e vi que, durante muitos anos, eu havia consciente e inconscientemente me recusado a ‘arrazoar’ e ‘questionar’ estes temas sensíveis.
Abalo sísmico
Percebi com muita clareza que várias doutrinas e subdoutrinas adventistas não estavam fundamentadas na Bíblia, mas sim nos escritos de Ellen White, como o decreto dominical, o juízo investigativo, a perfeição dos santos sem um mediador, o selo de Deus, o dízimo e ainda várias questões relativas a 1844 e ao santuário.
Descobri que temos um ‘Talmude’ Sabático Adventista, com centenas de advertências, indicações, regras e orientações que se deve do que não se deve fazer no sábado, e o quanto isso foge do simples ensinamento bíblico do sábado passado por Jesus Cristo. Vi que do púlpito, em variadas ocasiões criticamos os judeus por seu legalismo e regras absurdas sobre o sábado, mas com tristeza, percebi que criamos as nossas próprias regras legalistas.
Claro que o sábado é sagrado e deve ser observado. Mas Ellen White, à semelhança dos judeus, tornou a observância desse dia um fardo. Eu não pensava assim, mas isso é porque eu não havia lido e nem tentado seguir todas as recomendações que ela faz.
Descobri que os pioneiros adventistas não entrariam na Igreja Adventista de hoje e isso me chocou. Como é possível que Tiago White, José Bates, John Andrews e John Loughbourough não aceitariam ser adventistas? Mas isso está revelado na própria literatura da Igreja, em função da mudança de várias doutrinas.
Ellen White e a Verdade
Atônito com tantas revelações e descobertas, decidi analisar a fundo todas as informações divulgadas pelo Centro de Pesquisas Ellen G. White. O incrível é que no site oficial está tudo, tudo mesmo (www.whitestate.org).
Há demasiadas evidências que mostram que ela não era de fato uma profetisa. Suas visões não seguem o padrão bíblico como alguns historiadores adventistas querem fazer parecer e ela não passa nem mesmo no teste estabelecido pela própria igreja para um profeta verdadeiro.
Quando comparada com os profetas bíblicos, Ellen White teve visões em excesso (mais de duas mil) e numa infeliz coincidência, em quase todas as vezes, ela só tinha a visão depois de ter tido contato com pessoas ou assuntos que foram o tema da visão. Em outras palavras, suas visões não eram uma antecipação como os historiadores e teólogos tentam fazer-nos acreditar, mas simples ‘confirmações’ de assuntos em pauta.
E se nos basearmos na narrativa oficial, ela teve até quarenta vezes mais visões do que todos os profetas bíblicos juntos e isso não faz o menor sentido. (EGW – 2000 visões. Profetas e Apóstolos – 50 visões).
Ellen White relata mais de cem encontros com “anjos” ao passo que, somados todos os encontros ou visões de todos os personagens bíblicos que envolviam anjos, teremos apenas quarenta e dois encontros (em toda a Bíblia).
Ao contrário do que diz o livro “Nisto Cremos”, Ellen White teve visões que resultaram em várias afirmações e doze profecias que não se cumpriram, além de se contradizer diversas vezes e fazer afirmações contrárias às encontradas nas Escrituras.
Ellen White afirmava estar sendo ‘inspirada’ pelo Espirito Santo e dizia que recebia muitas vezes ‘as palavras diretamente do anjo’ ao mesmo tempo em que copiava de outros autores sem dar-lhes o devido crédito. E ela negou esse fato explicita ou implicitamente diversas vezes numa atitude que pode ser facilmente classificada como hipocrisia ou falsidade. Ou seja, ela “copiava” trechos das obras de outros autores e depois afirmava tranquilamente que isso veio do “Senhor”.
Ellen White apoderou-se de escritos e pensamentos alheios para montar seus livros e exigiu para si direitos autorais que depois foram repassados aos seus filhos, netos e bisnetos. Será que há dúvidas de que ela ‘comercializou’ o dom profético ao deixar um ‘testamento’ dos direitos autorais?
Sob ‘inspiração divina’ Ellen White afirmou verdadeiras barbaridades científicas sobre a amalgamação entre homens e animais, masturbação, perucas, cosméticos, planetas, estrelas, vulcões, etc. Também falou coisas das quais a maioria dos adventistas se envergonharia em questões ligadas ao racismo e a educação de crianças.
Se os fiéis de qualquer congregação se escandalizam com os pastores que pregam o que não vivem, imagine o que pensariam da “mensageira do Senhor” que falava contra a carne e continuava fazendo uso dela? Isto sem contar as ostras, o camarão, a manteiga, o queijo, os ovos, etc., tudo depois da visão da reforma da saúde e no mesmo momento que os seus escritos recomendavam o contrário. Em se tratando desse assunto, por mais de quarenta anos, Ellen White pregou, condenou pastores, criticou membros, mas não viveu a mensagem de saúde.
Fiquei pasmo ao saber que ela fez uso de informações passadas por terceiros para escrever cartas de admoestação a outras pessoas e tratava essas informações como vindas de Deus. E como explicar seu sonho no qual Tiago White, já falecido, lhe dá conselhos como numa visão espírita, e ela atribui isso a Deus?
Ela disse que recebeu em visão as orientações divinas sobre a doutrina da porta fechada (doutrina que limitava a salvação ao grupo envolvido no episódio de 1844) e durante muitos anos pregou sobre isso. Mas depois ela mesma negou a validade dessa doutrina.
Para mim foram muitas coisas, muitas descobertas, muita frustração, muito sofrimento para quem aprendeu a amar Ellen White como uma profetisa de Deus para a Igreja remanescente. Como fruto de minhas pesquisas surgiu um documento de mais de 100 páginas com todos os assuntos, comentários e itens de pesquisa e suas respectivas fontes (1).
Esclarecimento e Enfermidade
Diante de tudo isso, fui forçado, não porque eu queria, mas pelo peso das evidências, a concluir que Ellen G. White não era uma profetiza inspirada por Deus. Isso não foi fácil, mas acreditar de forma diferente à luz de todas essas revelações a partir das fontes oficiais seria uma insanidade.
Fiquei depressivo, doente e emagreci como resultado de minhas pesquisas. A Igreja e a profetiza que eu tanto amava tinham me decepcionado em alto grau. A única força que eu possuía, felizmente, estava na Bíblia e foi ela que me deu forças para atravessar esse período difícil de descobertas.
Muitos anos
Numa retrospectiva, percebi que durante várias décadas, eu havia sido um fiel e dedicado membro da igreja, tendo levado muitas pessoas a aceitarem a fé adventista. Eu dedicara toda a minha vida a essa Igreja.
Aflito, resolvi me abrir com o pastor local, que parecia uma pessoa muito confiável e falei com ele das minhas inquietações. Comecei apenas com um assunto. Falei-lhe sobre a falta de lógica do juízo investigativo e da falta de embasamento bíblico para essa doutrina. Para minha surpresa, ele disse que não acreditava no juízo investigativo e jamais pregava sobre esse tema. Ufa, pensei, que bom, então podemos prosseguir.
Então conversamos sobre Ellen White durante várias horas, onde eu apresentava progressivamente minhas dúvidas, tanto com relação ao seu dom, como aos seus escritos, sempre a partir das informações do site da Igreja. Ele me ouviu atentamente e disse que iria checar no site para ver se as coisas eram como eu estava falando.
Dias depois encontrei-me com ele, ansioso para saber a que ponto a ‘pesquisa’ o havia levado. Atentamente ouvi ele me dizer que acreditava que todas aquelas informações faziam parte de uma grande conspiração e complô para desmerecer o Espírito de Profecia. Calado e incrivelmente surpreso, mudei de assunto e vi que a tarefa de esclarecer outros era bem mais difícil do que eu poderia imaginar.
Procurando Outros
Tentei, com muito critério, partilhar um pouco com outros irmãos que eu julgava esclarecidos, mas eles me olharam como um louco. O que estava acontecendo? Por que meus irmãos de fé não me davam ouvidos? Porque, mesmo tendo as informações disponíveis, vindas de fontes confiáveis, eles não buscavam saber a verdade?
Percebi que a questão é intrigante e grave, e que o maior problema não era o acesso deles a essas informações embaraçosas. A questão era outra.
Percebi que a mentalidade deles estava aprisionada no modelo de vida adventista: no sistema de valores, na visão estratificada, estagnada e acima de tudo aprisionada nos lemas e slogans adventistas (“Nos temos a verdade”; “Somos o Israel moderno”; “Somos o povo da profecia”; “Temos uma luz maior”; “Somos a Igreja de Laodiceia”) e isso praticamente os impedia de pensar. Isso mesmo: o adventista simplesmente aceita todo aquele conjunto de crenças sem pensar, sem analisar a fundo. A Igreja traz conforto, limites e segurança e isso é suficiente para praticamente todos. Para eles, a verdade de fato, ou, sendo redundante, a verdadeira verdade é apenas um detalhe.
Movimentos Paralelos
Sem dúvida, em minha pesquisa, acabei me deparando com movimentos independentes que se afastaram da Igreja por questionar alguns dos pontos que mencionei. A princípio pensei que, se a Igreja não tinha razão, então eles deveriam ter. Mas, ‘gato escaldado’, pus-me a analisar estes grupos e seus ensinamentos antes de me envolver com eles. Descobri que quase todos são ferrenhos na defesa dos escritos do Espírito de Profecia. Isso para mim, por si só, já invalidava os esforços deles, depois de tudo o que descobri de Ellen White.
O que fazer?
Ir a Igreja tornou-se um dilema, pois em cada sermão, lá vinha a mesma expressão de dependência e apoio nos escritos de Ellen White (“… de acordo com o Espírito de profecia…, a irmã White disse…”). E, com menos frequência, ouvia algumas pregações de doutrinas sem embasamento bíblico.
O que fazer?
Tentar esclarecer os outros irmãos tornou-se uma tarefa ingrata: em sua maioria, as pessoas não estão de fato interessadas na verdade, apenas em conforto e acolhimento.
Ficar ou não ficar na Igreja?
Em minhas pesquisas, algo me intrigava.
Por que pessoas capazes e questionadoras como W.W. Prescott, Desmond Ford, Sammuelle Bachiochi e Raymond Cottrell apontaram ou apontam falhas em nossas doutrinas e interpretações proféticas e permaneceram ainda assim na Igreja Adventista?
Porque Fletcher e Conradi continuaram a crer na integridade básica da mensagem adventista mesmo após serem desligados?
Porque Walter Rea acreditava até o momento em que foi tirada a sua credencial de pastor, que poderia permanecer como obreiro na Igreja Adventista ao tentar ‘destruir’ o mito Ellen G. White?
Por que Dirk Anderson, um dos maiores críticos de Ellen G. White na atualidade, em seu depoimento pessoal não aconselha as pessoas a saírem da Igreja Adventista (pelo menos não diretamente)?
Por quê?
Mas está certo permanecer numa igreja que negou suas raízes, modificou suas doutrinas, apoia (com conhecimento) as inúmeras irregularidades nas questões que envolvem Ellen White?
Está certo permanecer na Igreja depois de se conscientizar que ela se tornou mais legalista com relação a diversos critérios (sábado, exclusão por crenças individuais diferentes [trindade]) e moralmente duvidosa em outros (apoio do aborto em hospitais adventistas americanos, mal uso de recursos ‘sagrados’, acobertamento de erros e trapaças dos líderes)?
Existe uma Religião Verdadeira?
Existe uma Religião cujas doutrinas, interpretação profética e linha de ação possam ser analisadas ponto a ponto diante da palavra de Deus e sair completamente aprovada?
Na verdade, quando se lê o Novo Testamento só se consegue ter certeza da existência de um povo espalhado pelo mundo, que constitui a “igreja de Deus e de Cristo”. Três textos são suficientes:
“Mestre, vimos um homem que em Teu Nome expulsava demônios, e nós lho proibimos, porque não nos seguia. Jesus, porém, respondeu: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em Meu Nome e possa logo depois falar mal de Mim; pois quem não é contra nós, é por nós. Portanto, qualquer que vos der a beber um copo de água em Meu Nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa.” Marcos 9: 38-40
O segundo texto é Atos 10:35: “Em cada nação Deus tem aqueles que o adoram, praticam boas obras e são aceitáveis a Ele.”
E o último e mais incisivo: “A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta; Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se incontaminado do mundo”. Tiago 1:26-27.
Assim, concluí que existe um povo remanescente espalhado pela face da Terra, que vive a virtude, crê em Deus e naquele dia maravilhoso, será levado para o céu.
Finalizando
Comecei essa narrativa de minha experiência com a pergunta “Como alguém pode deixar a Igreja Adventista do Sétimo Dia, a não ser por estar fraco na fé?”
Eu sei a resposta. Pessoas fortes na fé também saem da Igreja Adventista.
Buscando a verdade de coração e com fé, uma pessoa sincera e de mente aberta, ao encontrar as respostas, certamente deixará a Igreja Adventista, por não aceitar conviver com todas essas irregularidades e erros. Mas pode ser que alguém ainda queira permanecer para ajudar os que estão lá.
Minha Decisão: seguir a Cristo
Depois de muita reflexão, oração e conversas com minha família, decidi sair da Igreja, pois não encontrei um caminho melhor para seguir a Cristo. Hoje sou um cristão que vive plenamente a mensagem de Apocalipse 14:12 (um remanescente que guarda os mandamentos de Deus e mantem a fé em Jesus).
Não quero em mim nenhum rótulo de Igreja e Instituições. Estou muito feliz e seguro na mensagem bíblica. Ainda tenho muito carinho pelos adventistas, mas não sou mais um deles. Sou apenas e tão somente um cristão, com muita fé em Deus, amor a sua palavra e satisfação de seguir a Cristo.
Abraços
Phillipe Hotman
1) O documento completo sobre Ellen White que produzi pode ser disponibilizado, desde que a pessoa não o utilize para ridicularizar os adventistas (há muitas pessoas sinceras no adventismo).
Copiado do site: www.adventistas.ws
Artigos do mesmo autor:
www.adventistas.ws/filipe55.htm
www.adventistas.ws/filipe225.htm