“Havendo Deus outrora falado pelos patriarcas, profetas e seu próprio Filho, fala-nos agora por Ellen White, o imortal e invencível Espírito de Profecia.” Que absurdo!
A expressão “engenharia reversa” é usada nesta postagem em sentido figurado, a partir da opção do Pr. Martinez pelo ermo, significando neste caso uma tentativa de desconstrução do ensino adventista de que o chamado “espírito de profecia”, em algumas traduções da Bíblia, refira-se à pessoa e todos os escritos da falecida pioneira Ellen G. White, colocada em igualdade de inspiração e autoridade com os autores bíblicos, além da imposição de sua opinião e comentários como padrão de interpretação e compreensão das Escrituras.
Para a maioria dos membros da denominação, permanece essa crença em Ellen G. White e seus textos como uma espécie de prova bíblica de que a IASD é a única e última igreja verdadeira neste tempo do fim, o povo apocalíptico remanescente. Acredita-se que a defesa da obrigatoriedade dos dez mandamentos e a suposta guarda destes pela liderança e membresia, somada à concessão divina do “dom de profecia” a EGW no século 19 faz da IASD uma denominação superior às outras,
Ainda que comprovadamente seus escritos tenham sido inicialmente produzidos, revisados e alterados por seu esposo e editor Tiago White, copiados de outros autores numa espécie de seleção e plágio inspirados sem menção da fonte, “terceirizados” para uma equipe de redatores-fantasmas que ela mesma contratou, e utilizados como fonte de renda e lucro por ela e seus descendentes, Ellen G. White e seus textos produzidos sobre qualquer assunto e em qualquer ocasião, foram canonizados,
Mesmo depois de morta há mais de um século, ela ainda é prova do cuidado e interesse especial de Deus pela denominação e o parâmetro de comportamento, compreensão e interpretação da Bíblia, em pé de igualdade com os autores bíblicos, a ponto de a própria denominação ter reescrito e publicado a Bíblia “Clear Word”, incluindo suas “informações adicionais” ao texto sagrado, e irmão brasileiros tenham lançado a “Bíblia White”, com seus comentários tidos como inspirados no rodapé, uma canonização literal da pessoa e de seus escritos, incluídos tardiamente na Bíblia.
O que e canonização
Canonização é a ação ou efeito de canonizar. Segundo os dicionários, refere-se especialmente à ação solene através da qual a Igreja Católica proclama oficialmente que uma pessoa se tornou santa e, sendo a partir disso, inscrita no registro dos santos da igreja. Na IASD, a canonização real, ainda que não admitida de Ellen G. White, faz dela a personificação do Espírito de Profecia e, mesmo depois de morta, a única voz autorizada de Deus para o tempo do fim.
Histórica e etmologicamente, a palavra “cânon” ou “cânone” vem do termo grego κανών (“régua” ou “vara de medir”). Os cristãos foram os primeiros a utilizar o termo para fazer referência às suas Escrituras, mas Eugene Ulrich considera que a ideia é derivada do judaísmo. Cânone bíblico ou cânon das Escrituras é a lista de textos (ou “livros”) religiosos que uma determinada comunidade aceita como sendo inspirados por Deus e autoritativos.
No caso adventista, isso inclui Ellen G. White e seus livros, artigos, cartas, sermões anotados ou qualquer outro tipo de texto, fontes de compilações inesgotáveis e lucro incessante para a denominação que os vende ao segmento dos milhões de adventistas como Palavra autorizada e atualizada de Deus.
“Havendo Deus outrora falado pelos patriarcas, profetas e seu próprio Filho, fala-nos agora por Ellen White, o imortal e invencível Espírito de Profecia.” Que absurdo!
A maioria dos cânones tratados são considerados como “fechados” (ou seja, livros não podem mais ser acrescentados ou removidos), o que reflete a crença de que a revelação divina está encerrada e, portanto, uma pessoa ou grupo de pessoas foi capaz de juntar os textos inspirados aprovados num cânone completo e autoritativo. Por outro lado, um cânone “aberto” é aquele que permite a adição de novos livros através da revelação contínua.
Estes cânones se desenvolveram primordialmente pelo uso de textos em contexto de culto. Nesse processo, emergiu nas comunidades israelitas e, posteriormente, cristãs, uma coleção de textos dotados de autoridade. Posteriormente, apareceram debates e consenso entre as autoridades religiosas de cada uma das respectivas denominações. Os fieis consideram os livros canônicos como sendo inspirados por Deus ou como expressando a história autoritativa da relação entre Deus e seu povo.
Alguns livros, como os evangelhos judaico-cristãos, foram excluídos do cânone completamente, mas muitos livros disputados, considerados não canônicos ou apócrifos por alguns, são considerados como sendo apócrifos bíblicos, deuterocanônicos ou plenamente canônicos por outros.