“Ao aproximar-se a tempestade, uma classe numerosa que tem professado fé na mensagem do terceiro anjo, mas não tem sido santificada pela obediência à verdade, abandona sua posição, passando para as fileiras do adversário. Unindo-se ao mundo e participando de seu espírito, chegaram a ver as coisas quase sob a mesma luz; e, em vindo a prova, estão prontos a escolher o lado fácil, popular. Homens de talento e maneiras agradáveis, que se haviam já regozijado na verdade, empregam sua capacidade em enganar e transviar as almas. Tornam-se os piores inimigos de seus antigos irmãos. Quando os observadores do sábado forem levados perante os tribunais para responder por sua fé, estes apóstatas serão os mais ativos agentes de Satanás para representá-los falsamente e os acusar e, por meio de falsos boatos e insinuações, incitar os governantes contra eles.” – O Grande Conflito, pág. 608.
Aqui no Brasil, a maioria de nós, adventistas, já não se lembra da tragédia de Waco. Aliás, de fevereiro a abril de 93, a imprensa brasileira divulgou apenas tratar-se de um grupo de fanáticos religiosos cercado numa fazenda pelo FBI. Quando houve a tragédia final, soubemos que eram acusados (note bem, acusados) de uso de drogas, porte ilegal de armas pesadas e abuso sexual contra crianças. Disseram também que os seguidores de David Koresh preferiram suicidar-se a render-se aos federais.
Só mesmo pela Internet e publicações estrangeiras obteve-se a informação de que se tratava de um grupo dissidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia na década de 30 e conhecido como Ramo de Davi. A reabertura do caso em 1999 nos Estados Unidos fez surgir muitas outros detalhes. Entre eles, o de que entre os davidianos mortos havia muitos ex-adventistas, inclusive 24 crianças. Mellissa Morrison, de apenas 6 anos, que ilustrou a chocante primeira-página desta nossa edição de novembro de 2000, era uma delas. Essa garotinha inglesa acompanhava sua jovem mãe, de 29 anos, que também morreu intoxicada e carbonizada.
Não se confirmou nenhuma das alegações de abuso sexual contra essas crianças. Durante o cerco que durou 51 dias, o chefe da psiquiatria do Texas Children’s Hospital, Dr. Bruce D. Perry, pôde conversar com elas e todas negaram qualquer tipo de violência sexual. Evidências físicas de estupro ou atos libidinosos também não foram encontradas. As crianças só relataram algumas restrições quanto a comportamento, cuja desobediência poderia ser punida com palmatória ou castigos como ficar sem comer. “Mas disciplina não é abuso”, concluiu o Dr. Perry.
David Koresh não era um santo, como você e eu também não somos. Na juventude, foi ator de cinema, cantor de rock e dizem que usou drogas. Como líder religioso, admitiu a poligamia, o que contraria também as leis dos Estados Unidos. Imaginou-se profeta, tendo até enviado cartas com supostas mensagens de Jesus Cristo para a Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo. Nada disso justifica, porém, sua execução sumária, sem chance de defesa. Nem o assassinato brutal de seus seguidores.
Não foi suicídio? Você deve estar pensando. Não foi. David Koresh e seus seguidores foram vítimas de bombas de gás tóxico e incendiário, tortura psicológica e, indiretamente, da intolerância da Associação Geral contra ex-adventistas. A Organização forneceu as informações distorcidas de que as autoridades dos Estados Unidos precisavam para condenar e executar os davidianos por suas crenças e práticas religiosas.
Vance Ferrell, que pesquisa o assunto desde 93, assegura que as investigações foram iniciadas oito meses antes da tragédia pela ATF e o Waco Tribune-Herald. “Nós sabemos, diz ele, que Shirley Burton, da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, foi o instrumento responsável pelo início de toda a ação policial.
Shirley Burton, então Diretora de Comunicações da Asasociação Geral, com sede em Silver Spring, Maryland, disse que no começo da primavera de 92 alertou às autoridades governamentais sobre o risco de acontecer alguma coisa terrível em Waco. Ela lhes disse para irem lá e fazer alguma coisa.
Pelo menos duas reportagens indicam que, mais uma vez, a “rede adventista de fofoca e difamação” entrou em ação até que o assunto virasse caso de polícia a partir do escritório da irmã Shirley:
Fevereiro, Março e Abril, 1982: “Fortes rumores começaram a circular nos jornais e tevês da Califórnia e Austrália. Eu comecei a buscar e acumular informações sobre o grupo depois de um telefonema desesperador que recebi bem cedo da Austrália no sábado que antecedeu ao domingo de Páscoa. A mídia australiana noticiara o boato de que David Koresh teria convocado seus seguidores para um suicídio coletivo no domingo pela manhã como um supremo sacrifício para Deus. A divulgação e o anúncio da aplicação da lei parece tê-los feito desistir dos planos. Não se teve mais nenhuma notícia deles desde então.” Shirley Burton – To Media Inquirers, 2 de Março de 1993. |
Shirley Burton, porta-voz da Igreja Adventista do Sétimo Dia, diz ter recebido um terrível telefonema da Austrália na véspera da Páscoa passada. Na linha estava um oficial da igreja para comunicar que no dia seguinte poderia ocorrer uma explosão de violência em Waco, vitimando inclusive dezenas de ex-adventistas. O homem teria recebido o alerta de alguém que tinha parentes na seita.Esses parentes temiam que pudesse ocorrer um suicídio coletivo, disse Burton, acrescentando que em sua mente surgiram as imagens da tragédia ocorrida nas Guianas em 1978, quando o pastor Jim Jones e 900 seguidores supostamente suicidaram.Autoridades da igreja preveniram a polícia de Waco e a Páscoa de 92 passou sem incidentes. Mas a paz teve final sangrento neste domingo, quando integrantes da seita foram acusados de atirar contra os agentes federais. – Washington Post, 3 de Março de 1993. |
É interessante, diz Vance Ferrel, que as duas equipes de investigação começaram a trabalhar em 1992 um ou dois meses após a Associação Geral alertar as autoridades federais, estaduais e locais.
Na última primavera, oficiais da Igreja Adventista do Sétimo Dia ouviram de seus colegas em Sidney que os davidianos estavam planejando um suicídio coletivo para o domingo da páscoa, Quase ao mesmo tempo, o Departamento de Estado obteve a confirmação de fontes da Austrália que David Koresh estava estocando armas e planejando suicídio. O Estado passou essa informação para a ATF que começou a investigar em junho. – Newsweek, 15 de março de 1993. |
Ao longo das investigações e durante o cerco, todas essas acusações contra os davidianos foram desmentidas: drogas, armas, abusos, agressividade, dissensão política… Como alguém escreveu, “aquela era uma comunidade interracial auto-sustentável de homens, mulheres e crianças, unidos por idéias não-convencionais sobre religião e sexo. Mas era também uma comunidade disposta a colaborar com as investigações da polícia, em que não foram encontradas nenhuma evidência de armas ilegais ou abuso sexual contra crianças. Mesmo assim, por várias razões indefensáveis, as agências governamentais não perceberam que não eram terroristas, mas apenas religiosos extremamente zelosos, adeptos de uma selvagem teologia apocalíptica.”
Após o massacre, vieram as negativas. Clinton e Reno disseram que os próprios davidianos se mataram. Os oficiais procuram inocentar-se até hoje. Dizem que os seguidores de Koresh atiraram primeiro nos policiais do BATF (Bureau of Alcohol, Tobacco & Firearms). Mas diante de tantas mentiras do FBI e de outras autoridades envolvidas, é provável que os agentes mortos tenham sido feridos por balas de seus próprios colegas.
Foram bombardeados com música alta, som de coelhos sendo esganados e outros ruídos desagradáveis. Cortaram sua água e eletricidade. Helicópteros e tanques de guerra abriram caminho para o agente químico CS, que matou parte deles por asfixia e muitos outros, queimados. Depois vieram os tiros que mataram David Koresh e alguns de seus seguidores. Mulheres, crianças e dezenas de homens adultos, todo o grupo acabou carbonizado. Mesmo assim, a Associação Geral recolheu oferta especial apenas para ajudar as famílias dos agentes feridos e mortos na operação. E se calou a partir de então.
Sequer pararam para pensar que, como ex-adventistas, David Koresh e seus seguidores estavam convictos de que eram os remanescentes da verdadeira igreja. A religião pela qual deram a vida assemelhava-se muito à nossa. Nós também cremos que somos escolhidos por Deus; somos a igreja remanescente; somos os únicos que guardam os dez mandamentos; temos o espírito de profecia; somos capazes de interpretar como ninguém as profecias; entendemos melhor que todos os acontecimentos finais; somos imbatíveis em conhecimento bíblico, etc e etc…
Sequer pararam para pensar que os próximos, talvez, sejamos nós.
Estamos preparados? – Robson Ramos.
Publicação original: http://www.adventistas.com/novembro/reg06119901.htm
Um Comentário
Pingback: REVISTA ADVENTISTA ONLINE: 25 anos depois, IASD ainda tenta esconder sua participação na morte de “dissidentes” em Waco