Pandemia de coronavírus: o Papa e a ONU pedem um cessar-fogo global
29 de março de 2020 — Pela primeira vez em sua conta no Twitter, Francisco mencionou outro usuário: Antonio Guterres, secretário-geral das Nações Unidas. Ele fez isso para se unir ao pedido do oficial de interromper toda agressão e promover a criação de corredores para ajuda humanitária.
“Somos uma única família humana. Vamos parar com toda hostilidade bélica. Que o esforço conjunto contra a pandemia # COVID19 nos faça reconhecer nossa necessidade de fortalecer os laços fraternos. @antonioguterres @UN ”é o texto do tweet deste domingo (29 de março de 2020) na conta @Pontifex_es, que possui 17 milhões e meio de seguidores apenas nesta versão em espanhol (a conta também existe em inglês, francês, italiano, português, alemão, polonês , Árabe e latim.
O papa nunca personaliza as mensagens. Essa seria a primeira vez que isso levaria a outro relato, dois na realidade: o de Antonio Guterres e o da ONU.
Dessa maneira, Francisco endossou o apelo do oficial internacional que pedia um cessar-fogo global para enfrentar em conjunto a pandemia do COVID-19. Em particular, facilitar a ajuda humanitária e assistência aos grupos mais vulneráveis.
“O Secretário Geral das Nações Unidas lançou um apelo por um cessar-fogo imediato e global em todos os cantos do mundo”, disse o papa depois de rezar o Angelus por meio de streaming e sem fiéis no Plaza, como vem ocorrendo desde a pandemia de Covid-19 chegou à Europa. E para a Itália com força especial.
Parar todas as guerras, promover a criação de corredores para ajuda humanitária e abrir a diplomacia são os pedidos aos quais o Papa Francisco acrescenta sua voz.
O pontífice argentino também exortou os chefes de estado e de governo a um “compromisso” de superar as rivalidades por meio do diálogo e enfrentar conjuntamente essa pandemia. “Conflitos não são resolvidos através da guerra! É preciso superar antagonismos e contrastes, através do diálogo e da busca construtiva pela paz “, afirmou.
“Uno-me a todos os que aceitaram esse apelo e convido todos a continuarem a detê-lo por qualquer forma de hostilidade bélica, favorecendo a criação de corredores para ajuda humanitária, abrindo diplomacia e atenção àqueles que estão em situação de maior vulnerabilidade ”, disse Francisco.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu um cessar-fogo global para enfrentar em conjunto a pandemia de coronavírus
Ele também expressou sua esperança de que “o esforço conjunto contra a pandemia possa levar todos a reconhecer nossa necessidade de fortalecer os laços fraternos como membros de uma família humana”. E que isso desperte nos “líderes das nações e outras partes interessadas um compromisso renovado para superar a rivalidade”.
Desde que o coronavírus chegou à Itália, o papa foi forçado a cancelar audiências e eventos públicos e transmitir a oração do anjo. Francisco fez duas saídas: uma, fora do Vaticano, para ir à igreja de San Marcello para orar , e a outra à Praça de São Pedro para oficiar uma missa sozinha, mas que foi seguida por milhões ao redor do mundo e durante o que transmitiu a bênção Urbi et Orbis. As imagens de Francisco sozinhas no meio de uma praça geralmente lotada chocavam todos os públicos e eram uma mensagem poderosa por si só.
Nem EUA nem China querem assumir a liderança mundial pós-Covid-19
Antagonistas, as duas potências não se dispõem a assumir a liderança mundial, diz Sergio Amaral, ex-embaixador do Brasil em Washington
“A rivalidade entre países não é uma ‘doença’ do sistema internacional. Pelo contrário, é natural que isso aconteça”, disse Fonseca no debate. “O sistema internacional fica disfuncional quando há exigências de cooperação que são evidentes, mas elas não acontecem”, acrescentou.
Fonseca, que representou o Brasil em Santiago e foi cônsul-geral em Madri e no Porto, criticou a ausência de “unidade” entre os governos das potências mundiais no combate à Covid-19. “Faltou palavra e capacidade de mobilização por parte das potências mundiais”, disse.
Segundo o embaixador, a situação rompe com a histórica cooperação sanitária internacional, que data do século XIX e que resultou em episódios como a erradicação da varíola em plena Guerra Fria — as Nações Unidas consideraram a varíola erradicada em 1980 após uma campanha da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a elaboração de uma vacina, que envolveu a cooperação entre os Estados Unidos e a então União Soviética.
“Mesmo quando se imaginava que em certos contextos essa unidade apareceria, ela não apareceu”, disse Fonseca em referência à União Europeia, onde prevaleceram “os interesses nacionais”.
O bloco europeu aprovou um pacote de 540 bilhões de euros (3,2 trilhões de reais) para a recuperação financeira e a manutenção dos sistemas de saúde de seus 26 Estados-membros apenas em 23 de abril, quando o continente já respondia por quase 50% dos 2,5 milhões de casos da Covid-19 de por 64% das mais de 175.000 mortes, segundo a OMS.
O financiamento dos sistemas de saúde nacionais previsto no pacote deve entrar em execução a partir de 1º de junho. Até esta segunda-feira, 4, a Europa representa 45% dos 3,4 milhões de enfermos reconhecidos pela OMS e 60% dos 239.000 mortos.
O jornal americano The New York Times estima que mais de 3,5 milhões de pessoas tenham adoecido e pelo menos 249.500 tenham morrido pela Covid-19 em todo o mundo até o final desta segunda-feira.
ONU em xeque
Segundo o embaixador Sergio Amaral, “o novo coronavírus apenas acelera processos que já estão em curso”, dentre eles o degaste da globalização frente aos governos nacionais. Nesse contexto, Amaral afirma que a manutenção da figura das Nações Unidas como instituição que representa a cooperação internacional e o multilateralismo enfrenta diversas dificuldades.
“O sistema das Nações Unidas teve êxito e se prestou aos seus objetivos, como a preservação da paz e o desenvolvimento dos direitos humanos. Mas será muito difícil de se manter as condições mesmo para apenas uma reforma das Nações Unidas”, disse o embaixador.
“Não existe mais uma ‘coalizão dos vencedores’, como aquela que, sob a inspiração dos Estados Unidos, criou as Nações Unidas [após a Segunda Guerra Mundial]. O que nós temos hoje é um sério antagonismo entre as duas grandes potências mundiais [Estados Unidos e China]”, explicou.
Frente à possível ausência de uma instituição como as Nações Unidas na liderança internacional, Amaral afirma que os Estados Unidos e a China “não se dispõem” a assumir o papel.
O principal impasse à hegemonia americana na política internacional é o governo do presidente Trump. O embaixador acredita que o líder dos Estados Unidos reduziu “muitos créditos à presença internacional dos Estados Unidos” após “se indispor com um grande número de adversários e aliados”.
No caso da China, porém, o governo do presidente, Xi Jinping, não traz uma “visão”, no sentido de ideais políticos, para coordenar uma nova ordem mundial. “Qual é a visão que a China traz? A China traz a sua legitimação pelo êxito econômico e tecnológico, mas não tem uma visão“, disse Amaral.
Conflito
Um dos principais fatores para o aumento da crise na liderança internacional é a polarização entre as duas potências. Segundo Amaral, “no início da epidemia do coronavírus, a questão era descobrir a origem da doença. Agora, a questão é saber se os chineses estão se aproveitando da pandemia para se promover”.
CONTINUA APÓS PUBLICIDADE
De fato, Trump voltou no domingo 3 a insinuar que o SARS-CoV-2, vírus causador da Covid-19, se originou em um laboratório chinês. “Vamos apresentar um relatório muito sólido sobre exatamente o que achamos que aconteceu”, disse o presidente dos Estados Unidos, depois de agências de inteligência do país terem desmentido essa hipótese.
Nesta segunda-feira, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse que “há enorme evidência” da origem do SARS-CoV-2 estar relacionada a um laboratório chinês. Em resposta, o governo da China considerou a declaração de Pompeo “insana”.