Por Hermes C. Fernandes, da Rede Internacional de Amigos
O filme “Noé” tem sido pivô de muitos debates nas redes sociais. Muitos o acusam de não ser fiel aos relatos bíblicos. Descontando a licença poética, o filme tem o mérito de levantar questões há muito ignoradas pela maioria dos cristãos.
Dentre elas, a existência de uma raça angelical que na película é chamada de guardiões. De acordo com o enredo, tais seres teriam ajudado os homens depois que estes foram expulsos do paraíso. Como castigo, Deus os teria exilado na terra em forma de monstros de pedra. É aqui que o enredo esbarra com o relato bíblico, segundo o qual, os guardiões, também chamados de Bene-Elohim, haviam se rebelado contra as instruções divinas e se envolvido sexualmente com mulheres humanas, gerando uma raça híbrida conhecida como os Nefilins.
A primeira medida tomada por Deus para corrigir o erro dos guardiões foi enviar um Dilúvio ao mundo. Não queremos aqui discutir a abrangência de tal cataclismo, se foi universal ou local. Mas o fato é que Deus queria separar uma estirpe pura, que fosse preservada ao longo dos séculos, até que chegasse a plenitude dos tempos, e o Filho de Deus fosse enviado para redimir a humanidade.
Antes de enviar o Dilúvio, Deus chamou a Noé, e o ordenou a construir uma arca. Qual foi o critério pelo qual Deus escolheu justamente a Noé? Será que ele era perito em tecnologia náutica? Não. Será que ele era um homem perfeito sob o ponto de visto moral ou mesmo ético? Não. Se fosse, não teria se embriagado e se exposto ao ridículo, como fez, sendo alvo de chacota do próprio filho.
Há razões para crermos que os guardiões contaminaram não apenas os seres humanos, mas também os animais. A serpente do Éden estava, por assim dizer, se alimentando do pó da terra, comprometendo geneticamente as criaturas de Deus (Gn.3:14). Lembremo-nos que, tanto o homem, quanto os animais, provém do “pó da terra”, que é uma metáfora para células, e mais precisamente para genes (Gn.1:24; 2:7; Ec.3:18-20).
O texto declara enfaticamente que “a terra, porém, estava corrompida diante de Deus” (Gn.6:11). Por isso Deus anunciou: “Destruirei de sobre a face da terra o homem que criei, tanto o homem como o animal” (Gn.v.7).
Em meio a esta corrupção (não apenas moral, mas genética), Deus encontrou Noé que era “homem justo e íntegro em suas gerações”, e ainda por cima, “andava com Deus” (v.9). O texto original indica claramente que Noé era puro em sua genealogia. Isto é, ele não havia sido contaminado pelo gene angélico. Por isso, Deus o escolheu para dar origem à estirpe que traria Seu Filho ao mundo.
Mesmo com a contaminação da raça humana pelo gene angélico e com a manipulação genética que resultou no surgimento de raças híbridas de animais, Deus resolveu não exterminá-los completamente. Além de poupar a Noé e sua família, Deus também decidiu poupar os animais, mesmo aqueles que houvessem sido resultado de manipulação genética de tais seres. Entretanto, Deus ordenou a Noé que de cada animal limpo levasse sete casais, mas dos animais impuros, apenas um casal (7:2). É a primeira vez que surge na Bíblia a distinção entre animais limpos e impuros. Quando a Bíblia relata a criação dos animais, os distribui em várias categorias: selvagens, domésticos, aves, répteis, peixes. Não encontramos ali a categoria “impuros”.
De onde surgiu esta discriminação?
Há relatos extrabíblicos que afirmam que os anjos manipularam geneticamente os animais, criando novas espécies. Creio que tais espécies foram consideradas impuras por serem resultado de tais manipulações.
Quando Deus outorgou a Lei, proibiu que tais animais fossem consumidos. E por quê? Porque poderiam, ao longo das gerações, causar algum comprometimento genético à estirpe pela qual Cristo deveria vir ao mundo. …
Era necessário que a estirpe pela qual Jesus viria fosse preservada de qualquer contaminação genética, a fim de que Jesus fosse 100% Homem, tão puro geneticamente quanto Adão. As leis higiênicas e dietéticas tinham este objetivo.
Dentre os animais considerados impuros, o que mais chama a atenção é o porco. É interessante ressaltar a proximidade genética e morfológica entre o porco e o ser humano. Por isso, são cada vez mais comuns pontes de safena com tripas de porco, e transplantes de órgãos de porco para humanos.
Não seria o porco um produto de manipulação genética feita pelos guardiões? Ora, se hoje há raças caninas resultantes de manipulação genética, por que não seria razoável supor que houvesse raças de animais resultantes de manipulação por parte de tais seres? Talvez algumas figuras mitológicas, como o minotauro, metade homem, metade animal, tenham sido inspiradas nessas experiências.
Flavio Josefo, historiador judeu, conta que nos dias que antecederam a queda de Jerusalém, uma vaca deu à luz um cordeiro no Templo em plena festa da Páscoa. A glória de Deus já havia deixado aquele recinto outrora sagrado, e que agora estava entregue às hordas rebeldes capitaneadas por Satanás.
Com o Dilúvio, a raça humana teria sido reduzida a um grupo de oito pessoas, a saber, Noé, sua esposa, seus três filhos e respectivas esposas. Se o Dilúvio tinha como objetivo exterminar a raça híbrida, de onde teriam vindo os gigantes que aparecem nas páginas da Bíblia até os dias de Davi?
É plausível acreditar que tenha havido novas incursões angelicais ao mundo, e, conseqüentemente, novas experiências genéticas envolvendo seres humanos. — Nota do Editor: Texto publicado para reflexão e estímulo à pesquisa bbíblica, ainda que concordemos apenas em parte com as idéias do autor.