Quando pensamos em Deus, pensamos no absoluto. O Deus absoluto que se revelou a Moisés quando este Lhe perguntou o nome, disse apenas que Ele era o Eu Sou o que Sou. Em outras palavras, Ele quis dizer que não dependia de nada e de ninguém para existir e ser o que Ele era, Deus.
Considerando, segundo o pensamento trinitariano, que Jesus Cristo também seja Deus, biblicamente então Ele o seria numa outra categoria que não absoluta. Sem entrar no mérito crítico textual dos versos que afirmam a deidade de Cristo, esses versos sempre apontam para um tipo de deidade que não pode ser considerada absoluta. O primeiro verso que tomo para análise, é o que se encontra em Isaías.
“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deus; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz.” Isaías 9:6
Podemos fazer uso desse texto e afirmar que nele Cristo está sendo colocado na condição de Deus absoluto? Na condição de Eu Sou o que Sou? Evidentemente que o contexto desse verso dos seguintes é impeditivo para vislumbrarmos em Cristo a condição de deidade absoluta.
O verso em questão aponta para uma exaltação de Cristo. Naturalmente, o Absoluto não precisa ser exaltado para Sê-lo. Ele simplesmente o É. Não é o que ocorre com Cristo. O texto afirma categoricamente que haveria uma exaltação para o nome de Cristo: “o seu nome será…”. O fato de a exaltação oferecer para Cristo o nome de Deus, não significa que Ele o seja no sentido absoluto. Na Bíblia existe precedente de alguém ser colocado como Deus, sem, no entanto, o ser no sentido absoluto.
MOISÉS FOI CHAMADO DE DEUS, MAS NÃO ERA DEUS.
Quando chamado para liderar os israelitas para sair do Egito, Moisés sentiu-se incapaz de ser o portador da palavra de Deus. Moisés justificou sua tentativa de recusa usando o argumento de que era um homem que não sabia falar com desenvoltura. Deus escolheu alguém para falar por Moisés, Arão. Na relação que ficou estabelecida entre Moisés e Arão, um seria Deus para o outro.
“E ele (Arão) falará por ti (Moisés) ao povo; e acontecerá que ele te será por boca, e tu lhe será por Deus”. Êxodo 4:16
O “será Deus forte” aplicado a Cristo, não pode ter o mesmo sentido desse “será por Deus” aplicado a Moisés relativamente a Arão? Tudo indica que sim. Temos esse precedente e outro usado por Cristo para fugir da acusação de que estaria querendo assumir a condição de Deus.
“Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia, porque sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo.” João 10:33
Para fugir da acusação de ser um blasfemo, Cristo usou o mesmo princípio que fora aplicado a Moisés e outros, o princípio de ter sido escolhido por Deus e por Ele ser permitido que o escolhido possa ser chamado de Deus.
“Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito vossa lei: Eu disse sois deuses? Pois, se a vossa lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida (e a Escritura não pode ser anulada), Aquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas; porque disse: Sou Filho de Deus.” João 10:34 a 36
Não há alternativa. Cristo não é Deus. A Ele foi atribuído o epíteto Deus. Caso Ele seja, então seria um Deus de segunda categoria, pois para sê-lo, houve a necessidade de ser feito tal.
O raciocínio exposto neste artigo é perfeitamente harmônico com o livro Aos Hebreus. O autor desse livro também vislumbra na pessoa de Cristo uma condição de deidade que lhe é concedida por um superior.
“Amaste a justiça e aborreceste a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus te ungiu com óleo de alegria mais do que a teus companheiros.” Hebreus 1:9
Seria um paradoxo, ou no mínimo, incongruência, um Deus absoluto ter sobre si outro Deus. Deus não adora Deus.
Como diz Hebreus 1:7 e 8, Deus fez dos seus anjos ventos e labaredas de fogo e do Filho, o Pai o fez Deus, porém, no sentido que as Escrituras esclarecem.
Elpídio da Cruz Silva