Líder da Paróquia São Pedro ergue, em núcleo rural, complexo que, entre outras coisas, inclui uma igreja para 10 mil pessoas, três hotéis de cinco pavimentos, uma capela e um estacionamento para 5 mil veículos.
Famoso no Distrito Federal e região e, agora, conhecido em todo o país, o padre Moacir Anastácio tem plano ambiciosos. Além de eleger políticos para cargos nos poderes executivo e legislativo, local e nacional, o pároco está construindo um dos maiores e mais modernos templos católicos do Centro-Oeste. Localizada no Núcleo Rural Alexandre Gusmão, perto de Ceilândia, a obra está em ritmo acelerado. A igreja terá capacidade para 10 mil pessoas. Ainda, haverá, em volta dela, um refeitório para 3,5 mil fieis, três hotéis de cinco pavimentos, uma capela, um estacionamento para 5 mil veículos, uma casa paroquial, banheiros, uma livraria e uma praça com jardim. Tudo isso em meio a uma imensa área verde. Mas a operação Lava-Jato pode levar à paralisação da empreitada, pois, como mostraram hoje procuradores federais, a paróquia comandada pelo religioso é alvo de investigação por suposta lavagem de dinheiro.
Batizado de Centro de Evangelização da Comunidade Renascidos em Pentecostes, o complexo está sendo construído com doações de fieis e políticos. No segundo caso, as doações podem ser ilegais, provenientes de propina, como os R$ 350 mil depositados em uma conta-corrente da paróquia liderada por Moacir a mando de Gim Argello (PTB-DF). O ex-senador foi preso na manhã desta terça-feira (13/4), durante a Operação Vitória de Pirro, na 28ª fase da Operação Lava-Jato. Gim é acusado de ter recebido propina das empreiteiras UTC Engenharia e OAS para livrá-las da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Petrobras no Congresso Nacional. Na investigação, policiais federais identificaram o repasse à Paróquia São Pedro, de Moacir. Procuradores federais, agora, apuram se a igreja, em Taguatinga, era usada para lavagem de dinheiro.
A paróquia ajudada por Gim Argello é a que a mais arrecada com dízimos e ofertas na Arquidiocese de Brasília. São cerca de R$ 100 mil mensais. O padre Moacir organiza a maior festa religiosa do Distrito Federal e Entorno. Realizada anualmente, Pentecostes chega a reunir 1 milhão de pessoas nas missas a céu aberto. Além de números astronômicos, a festa é marcada também pela forte presença de políticos do DF no palco transformado em altar e palanque.
Diante da multidão, governadores, deputados, senadores são apresentados como homens de fé. Para eles, Moacir pede bênçãos e votos. Dessa forma, além de ajudar a eleger políticos tarimbados, o pároco conseguiu fazer deputado distrital, duas vezes, o seu braço-direito, Washington Mesquita (PTB) – atualmente sem mandato, é suplente de distrital. Assim como em todas as suas missas, em Pentecostes, Moacir pede aos fieis dinheiro para a construção do Centro de Evangelização da Comunidade Renascidos em Pentecostes.
Cura da Aids
As missas de cura, que lidera toda semana, lotam o salão da Paróquia São Pedro, em Taguatinga Sul. Lá, 12 mil fiéis se apertam em busca de acolhimento a cada missa. Em suas pregações, Moacir promete, entre outras coisas, a cura pela fé de males como o câncer e a Aids. Natural de Nova Russas, no Ceará, o padre tem 54 anos, sendo 20 de sacerdócio. Consagrou-se na Catedral Metropolitana de Brasília. Em 2008, fundou a Comunidade Renascidos em Pentecostes. Pelo Sistema de Comunicação Renascidos em Pentecostes, o padre fala de Jesus Cristo para milhões de ouvintes no programa Caminhando Com Jesus Cristo – transmitido todos os dias pela web rádio e retransmitido por várias emissoras espalhadas pelo Brasil e algumas partes do mundo –, nas missas de cura e libertação, transmitidas ao vivo, pela web TV. Ele ainda escreve mensalmente aos leitores da Revista Renascidos em Pentecostes.
Padre Moacir também organiza, com os Renascidos em Pentecostes e os seus paroquianos, grupo de oração, tarde de louvor, vigílias, cerco de Jericó, além de diversas outras atividades evangelizadoras. O religioso publicou 10 livros, entre eles, o best-seller A Força que vem da Cruz (sua autobiografia), com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos. A obra destaca a trajetória do menino pobre do interior que se tornou um adulto analfabeto, mas “escolhido” por Deus para “pregar a palavra do Senhor” Brasil e mundo afora.
Em uma entrevista ao Correio, ele falou da sua relação com os políticos: “Trato os políticos como têm que ser tratados: com educação. Mas os políticos precisam muito de Deus. Eles vêm muito aqui, mas vêm de todos os estados do Brasil. De Brasília, sempre vêm. Vem deputado distrital, federal, governador, vem tudo. Procuro ter amizade, amizade de autoridade. Procuro respeitá-los, mas não pode dar muita brecha”. Mas, ressaltou: “Vejo como uma oportunidade de evangelizá-los. Eles são muito tentados, então precisam muito de oração. E muitas vezes eles não sabem de nada. Não têm espiritualidade nenhuma. É necessário a gente ajudar também.” Aliás, para uma entrevista, assessores de Moacir pedem ao menos 15 dias de antecedência no agendamento. Ontem, ele não foi encontrado pela reportagem do Correio.
Alcoólico
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), em 15 de maio de 2014, quando foi instalada a CPI da Petrobras no Senado, o presidente afastado da empreiteira OAS, José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, enviou uma mensagem a um interlocutor em que pediu o pagamento de R$ 350 mil para a conta da Paróquia São Pedro frequentada por Gim Argello. O centro de custo apontado era “Obra da Renest (sic)”, uma referência à sigla Rnest, a refinaria de Abreu de Lima da Petrobras, em Pernambuco, onde a OAS prestava serviços à estatal. O pagamento foi realizado em 19 de maio, de acordo com documentos fiscais da empreiteira.
A força-tarefa de procuradores e os policiais federais identificaram que o ex-senador é “frequentador da paróquia e manteve contatos frequentes com executivos da OAS por meio de ligações e encontros pessoais no período de funcionamento” das CPIs da Petrobras do Senado e do Congresso. No entanto, o Ministério Público diz que a igreja não tinha conhecimento da irregularidade, ao menos por enquanto. “Não há indicativo de que a paróquia tenha participado do ilícito ou de que tivesse conhecimento da origem ilícita dos valores”, afirma a Procuradoria em comunicado. Nas mensagens, o pagamento à paróquia é associado a pessoa de alcunha “Alcoólico”.
O procurador Athayde Ribeiro Costa afirmou, em entrevista coletiva na PF em Curitiba hoje, que o Ministério Público pediu informações à Paróquia São Pedro. “O MPF expediu oficio à paróquia questionando sobre outras empreiteiras.” Ele preferiu não adiantar as investigações.
Na entrevista, o procurador Carlos Fernando Lima afirmou que não está descartado o conhecimento da igreja sobre a origem do dinheiro, mas isso ainda está em apuração. “Não é porque é Igreja Católica ou outra denominação que não vamos aprofundar investigações.” De acordo com ele, entidades recebem muitos recursos em espécie e podem ser usadas em eleições. “Vamos apurar porque qualquer instituição religiosa exerce poder sobre as pessoas. Precisamos ver se existe algum tipo de influência dessa paróquia na campanha de Gim Argello.”
Bebida
A identificação “Alcoólico” seria um pseudônimo para Gim Argello, num trocadilho com a bebida “Gim”, que foi evidenciada na troca de mensagens de Léo Pinheiro com Otávio Marques de Azevedo, presidente do Grupo Andrade Gutierrez, outra das empreiteiras envolvidas no pagamento de propinas a agentes da Petrobras”, narra comunicado do MPF.
Os investigadores apontaram que no telefone celular de Léo Pinheiro, apreendido na 7ª fase da Lava Jato, foram encontradas mensagens relacionadas a Gim Argello. Segundo o MPF, não houve convocação de Léo Pinheiro para prestar depoimento nas comissões parlamentares que investigam o esquema de corrupção na Petrobras. “Não há indicativo de que a paróquia tenha participado do ilícito ou de que tivesse conhecimento da origem ilícita dos valores”.
Assembleia de Deus
FONTE: Correio Braziliense