Para Que Serve os Teólogos?


Congresso de internacional de engenheiros na Austrália. O representante da Rússia, os engenheiros do Japão, da Bolívia e do Iraque, possuem algumas divergências. Mas todos sabem que para uma determinada altura, deve ser utilizada uma quantia mínima de ferro, e uma mistura ideal de cimento para se fazer um viaduto. Não dá para fazer com menos, a estrutura cairá. Todos concordam.Engenheiros são pessoas admiráveis. São capazes de projetar obras magníficas, como as duas torres do World Trade Center. Foram eles também que projetaram os dois imensos aviões que derrubaram as torres. Torres e aviões foram projetados para o conforto e a segurança das pessoas. Mas, a religião de alguns fanáticos transformou aviões e torres em tragédia.

Congresso de obstetras no Paquistão. Os americanos, jamaicanos, chineses e os israelenses concordam plenamente que não se deve fazer uma cesariana aos cinco meses, nem esperar quinze meses. Todos concordam que nove meses é uma boa data para terminar uma gestação. No caso, os médicos não criaram lei, apenas, seguem as leis que Deus criou. Não há porque discutir. Médicos do mundo todo concordam nos pontos principais, e quando se descobre um remédio melhor para certa doença, mundialmente tal remédio ou técnica passa a ser utilizada.

Encontro de físicos. Como em todas as ciências, há discordâncias, que levarão a novas pesquisas e melhor conhecimento. Os representantes negros de países muçulmanos não deixam de reconhecer a importância do branco judeu Albert Einstein. Ninguém discorda de sua afirmação que a matéria pode ser transformada em energia. Os que porventura duvidavam, foram convidados para ver uma demonstração prática em Hiroshima, 1945, mas não quiseram ir. Não dá para discutir com a equação de Einstein.

Físicos são pessoas muito importantes. Eles não discordam sobre como funcionam as ondas eletromagnéticas que fazem um celular funcionar. O celular funciona seguindo leis reconhecidas em todo o mundo. Sem os físicos, viveríamos como na idade média.

Reunião dos coveiros. Também não há muito que discutir sobre como enterrar os defuntos. Congresso de padeiros. A maioria concorda com o uso da farinha de trigo.

As profissões e as ciências existem para o benefício da humanidade. Se uma profissão for extinta, causará grande confusão e sofrimento para as pessoas. Eu comentava com meu pai, no hospital, estas idéias, e ele tentou encontrar falhas no raciocínio:

? Mas, e os militares, e as máquinas de guerra?

? São projetadas para nos defender – respondi. – O exército brasileiro não é considerado uma coisa má. Está ali para defender nossa pátria.

Meu pai não desistiu:

? Mas, e se de uma hora para outra, como você diz, forem exterminados todos os ladrões? Aí não criaria nenhum transtorno, muito pelo contrário…

Pensei em argumentar que ladroagem não é profissão, mas encontrei uma resposta melhor:

? Nesse caso, haveria um problema sério em muitos governos, prefeituras e assembléias, com a saída de tanta gente ao mesmo tempo…

As ciências e as profissões são úteis para a humanidade, visam melhorar a nossa vida. Mesmo as mais simples. E, em todas elas, há consenso nos pontos principais, e debate-se pontos controvertidos de forma a aprimorar o conhecimento. Algumas profissões são fundamentais para nossa vida. Podemos fazer um teste. Vamos começar com os engenheiros. Se pegássemos todos os engenheiros, colocássemos em um saco e jogássemos no rio, o que aconteceria?

No dia seguinte, ao ir de casa para o trabalho, imaginemos a confusão. Houve um problema na usina de Itaipu, e como não havia quem entendesse, e como o sistema é interligado, falta energia no país inteiro. Paralisação de todas as construções… a longo prazo, voltamos à idade média. Nosso mundo depende dos engenheiros.

E se acabássemos com os coveiros? Imaginem aquele monte de defuntos empilhados na porta do cemitério. Pensem na possibilidade de sumir com todos os especialistas em informática. Caos total em bancos, aeroportos, paralisação da economia…

Agora façamos o teste com os teólogos. Vamos pegar todos eles, colocar em um saco e jogar dentro do rio…

No dia seguinte, ao ir de casa para o trabalho, o que você nota?

Tudo funciona normalmente. Os motoristas de ônibus trabalham normalmente, os elevadores funcionam, os jornais circulam, a vida permanece a mesma. Só nas faculdades de teologia os alunos ficam sem aula, e eles aproveitam a folga para namorar. Fora isso, nada muda de imediato. No sábado, as igrejas adventistas e as sinagogas funcionam normalmente. No domingo, as demais religiões cristãs também funcionam sem anormalidades. A médio e a longo prazo, pouco muda, também, exceto pela possibilidade de cessar os atentados em Israel, e o governo de Israel, sem os partidos religiosos radicais, faz concessões e surge a paz no oriente médio.

Mas isto foi apenas um sonho. Os teólogos aí estão, escrevendo em Revistas e viajando pelo Brasil para corrigir as besteiras que os leigos inventam. Mas vamos imaginar mais um pouco: um congresso internacional de teólogos.

Sobre o que eles discutem? O que eles estudam?

Um dos teólogos da Índia adora a vaca. Os teólogos muçulmanos crêem em Alah e Maomé, seu profeta, que orientou que exterminassem os cães cristãos. A África manda vários representantes, cada um adorando um deus diferente. De todo o mundo chegam os que estudam Zeus, Odin, Júpiter, Tupã, Oxum… Há no Rio de Janeiro quem adore o pastor Vilson Oliveira, cujo poder sobrepuja em muito a vaca dos indianos.

Está bem, vamos reunir só as grandes religiões. Melhor, nada de budistas ou xintoístas, vamos ficar só com as religiões monoteístas. Cristãos, Muçulmanos e Judeus. Aliás, para evitar guerra, vamos descartar estes também, fiquemos só com os cristãos.

Mas não há o menor consenso entre católicos e protestantes. Vamos eliminar os católicos, já que nos séculos passados andaram exterminando os protestantes. Mas mesmo entre os protestantes não há o menor consenso. As doutrinas da maioria das religiões são excludentes entre si. Cada religião ensina que está certa, e as outras estão erradas. Mas, mesmo dentro de uma mesma religião, os teólogos vivem se estapeando e puxando pelos cabelos. Só depois de muita briga, chegam a um consenso, promulgam uma doutrina, e passam a exigir dos leigos que acreditem no que decidiram em suas confusas reuniões.

Os teólogos não concordam nem mesmo com o objeto principal de seu estudo, Deus. E por discordar, passam a perseguir, desprezar e, quando possível, matar os que discordam.

Gostam muito de se apresentar como os representantes da divindade entre os homens, e exigem dos que estão abaixo deles, chamados carinhosamente de “leigos”, que estes não só os respeitem, como também os sustentem. O leigo, como não tem capacidade para descobrir por si o caminho para a vida eterna, precisa então pagar pedágio ao teólogo.

Se há uma coisa que os faz ficar profundamente irritados é quando um leigo se mete a questionar a fonte de financiamento dos teólogos, e sugere que os dízimos possam ser utilizados entre os próprios leigos para pregar o evangelho.

Prestem atenção. Não estou falando de bons Pastores. Há teólogos que também são bons Pastores. Neste caso, eles não devem ser colocados no saco e jogados no rio. São pesquisadores da verdade. Mas nem sempre são famosos, pois têm por princípio não perseguir nem desprezar a ninguém, e assim passam despercebidos. Sem eles, o mundo ficaria muito violento, as pessoas ficariam sem esperança, e as ovelhas ficariam dispersas e entregues aos lobos.

Conversei com um teólogo, possuidor daquele monte de títulos complicados obtidos nos Estados Unidos, sobre ética e honestidade em sua profissão. Ele se manifestou preocupado com os rumos que a nossa igreja está tomando, principalmente no trato com os que questionam doutrinas. Disse que leu o que escrevi sobre o respeito em “não toqueis nos meus ungidos”, e que concordava.

O encastelamento do alto clero e a incapacidade de ouvir o clamor dos leigos é que estavam causando tantos focos de insatisfação. Falei-lhe de minha intenção em escrever propondo colocar os teólogos no saco e jogar dentro do rio, ele riu, e perguntou se eu sabia qual a definição de teólogo. Reconheci que não; ele então definiu: “Teólogo é um indivíduo que consegue complicar as coisas mais simples”.

Merecem menção honrosa deste artigo aqueles que chamam de arrogantes e ignorantes os que “questionam as verdades que Deus graciosamente nos revelou”. Concordo com eles, há muita arrogância e ignorância nos questionadores. Mas, o que faremos com os que discordam do nosso modo de interpretar as verdades que Deus graciosamente nos revelou? Claro, nós (com nossa arrogância) estamos absolutamente certos e eles são umas bestas. Mas como devemos tratá-los? Será que chamá-los de ignorantes, ameaçá-los com a morte eterna, vai surtir efeito? Será que discriminá-los nas igrejas, cortá-los, persegui-los, vai ajudar a convencê-los? Estes métodos já foram usados tantas vezes no passado… O que aconteceu?

Como disse um teólogo, ele faz afirmações nas quais é difícil acreditar. Depois de um tour pelo Brasil (supostamente) combatendo as heresias mais absurdas, ele termina dizendo:

“Daqui a pouco aparecerão outros em outro lugar do Brasil com outro ponto de vista e lá vamos nós novamente. O que será da próxima vez? Dom de Línguas? Questões sobre o dízimo? Dúvidas quanto à inspiração? Profecias apocalípticas? Não sei, mas sei que em breve eu, ou outro qualquer estaremos na mesma situação novamente.

“Mas, tenho uma dúvida sincera e gostaria de saber o que vocês acham. Devemos continuar dando importância a esses ‘focos’? Às vezes penso que sim, pois há pessoas sinceras que pedem esclarecimento. Mas como na maioria absoluta das vezes os principais defensores da nova idéia jamais mudam seu pensamento, a despeito daquilo que lhes seja mostrado, pergunto se não é essa uma armadilha de Satanás para nos fazer ficar ocupados com esse tipo de coisa e, com isso deixarmos de pregar o evangelho. Algo a se pensar…”

Já comentou-se o suficiente sobre este excesso de trabalho imposto aos nobres teólogos por este bando de membros leigos ignorantes que ficam inventando bobagens. (Ainda bem que pararam de marcar datas para a volta de Cristo!)

Fico penalizado com esses teólogos itinerantes. Como comprovação, até dou um conselho: dêem mais atenção aos “focos” que questionam o dízimo. Pois, se estas idéias vingam, vocês terão que viajar por conta própria e se hospedar em hotéis de segunda nas próximas vezes que saírem a campo para defender a unidade de suas igrejas. E seus filhos terão que passar em faculdades públicas, pois diminuirá a verba para sustentá-los nas particulares. Terão que estudar junto com os filhos dos leigos pobres, já pensou que humilhação?

Este assunto continua em foco. Enquanto isso, alguém poderia encontrar um rio bem profundo e verificar se não tem nenhum ambientalista por perto, vigiando?

Texto original — T. Fonseca; Adaptação e Edição – E.Mucheroni. 28/04/2003

Sobre Max Rangel

Servo do Eterno, Casado, Pai de 2 filhas, Analista de Sistemas, Fundador e Colunista do site www.religiaopura.com.br.

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