Em meio a uma pandemia ainda sem data para terminar, pessoas que acreditam em uma teoria supostamente “sem base científica” espalhada na internet estão aterrorizando operadoras do Reino Unido. Segundo o site The Verge, as quatro principais empresas do setor na região pediram aos consumidores que “parem de queimar as torres de 5G”.
O motivo para os ataques? Teorias da conspiração, que começaram a circular há algumas semanas nas redes sociais e conectam — “sem qualquer evidência por trás”, segundo as operadoras — a chegada da conectividade móvel de nova geração e a disseminação do novo coronavírus ao redor do mundo. E o resultado foi o pior possível, com grupos ameaçando funcionários das empresas de telecomunicação e atacando as torres que transmitem o sinal.
A operadora Vodafone confirmou que quatro de suas antenas foram alvos de incêndios em um período de 24 horas, enquanto a EE, que ainda nem fornece o serviço de 5G, também teve equipamentos danificados. Todas as companhias lançaram comunicados em seus perfis oficiais pedindo calma à população e negando qualquer conexão entre a covid-19 e os serviços de dados móveis.
Parte dos adeptos dessa teoria de conspiração diz que o vírus não existe, e que os sintomas da Covid-19 são um ‘efeito colateral’ do funcionamento das redes 5G. Outros afirmam que a tecnologia 5G agrava a possibilidade de contágio por produzir alterações no organismo, através da radiação mais próxima e massiva.
De acordo com a teoria, a disseminação do vírus seria facilitada por um efeito colateral da implantação das redes 5G, que fariam as moléculas de oxigênio do ar vibrarem de forma a serem “sugadas” de nossos pulmões. A pandemia teria se iniciado e desenvolvido em Wuhan porque a cidade teria colocado sua rede 5G em funcionamento recentemente.
Defensores da teoria entendem que a pandemia se espalhou com menor intensidade em países onde não há redes 5G em operação, como o Irã, Japão ou Brasil.
Segundo o The Verge, em um período de 24 horas na última sexta-feira quatro torres da operadora Vodafone foram no Reino Unido foram incendiadas, e três outras já haviam sido incendiadas anteriormente. A operadora também afirma que seus técnicos e engenheiros estão sendo ameaçados por cidadãos que acreditam que as torres, se forem colocadas em operação, “vão matar todo mundo”.
“Sinto informar que vândalos realizaram uma série de ataques criminosos a torres de telefonia celular durante este período de crise nacional”, diz Nick Jeffery, CEO da Vodafone UK. “Agora é uma questão de segurança nacional. As autoridades policiais e de combate ao terrorismo estão investigando.”
As principais operadoras de telefonia do Reino Unido (Three, EE, Vodafone e O2) emitiram um comunicado conjunto negando a teoria da conspiração e pedindo ajuda dos consumidores para parar com os ataques. Elas lembram que neste momento, com milhões de pessoas trabalhando remotamente e em isolamento social, suas redes são cruciais para a educação, produtividade, comunicação e entretenimento da população.
“É difícil acreditar que algumas pessoas querem prejudicar as redes que estão fornecendo conectividade essencial para os serviços de emergência, o sistema nacional de saúde e o resto do país durante este período de quarentena”, disse Jeffery.
YouTube intervém
O YouTube decidiu intervir para auxiliar na contenção dos rumores. Vídeos com teorias de conspiração relacionadas à segurança das redes 5G, mas que não mencionem o coronavírus, serão “suprimidos”, através da suspensão de anúncios e de sua eliminação nos resultados de busca da plataforma.
Já vídeos que afirmam haver uma ligação entre o vírus e as redes 5G serão removidos da plataforma, já que violam a política da empresa que não permite a divulgação de métodos não comprovados pela comunidade médica para prevenir ou curar a doença.
Segundo o YouTube, desde fevereiro milhares de vídeos com informações falsas ou enganosas sobre o coronavírus foram removidos. Entretanto, trata-se de um jogo de gato e rato já que, frequentemente, momentos depois de um vídeo ser removido múltiplas cópias novas aparecem na rede.
Mats Granryd, diretor geral da GSMA, organização que representa o interesse de empresas da indústria de telefonia em todo o mundo, disse: “A indústria de telecomunicações está trabalhando dia e noite para manter serviços vitais de saúde, educação e emergência on-line, além de negócios funcionando e amigos e famílias conectados. É deplorável que a infra-estrutura crítica de comunicações esteja sendo atacada com base em tamanhas mentiras. Pedimos a todos que confiem nas autoridades de saúde e tenham certeza de que a tecnologia de comunicação é segura. Não há ligação entre 5G e Covid-19”.
Medidas
Não se sabe exatamente a origem da teoria da conspiração, mas é possível que ela envolva a Huawei, que é uma fabricante chinesa e líder em infraestrutura do 5G. Como o país asiático foi o primeiro a registrar casos, há muitas mensagens de preconceito envolvendo o tema e a região. O secretário de Cultura do Reino Unido, Oliver Dowden, deve se reunir nesta semana com representantes locais de companhias para discutir o assunto — afinal, ele agora se transformou em uma preocupação de segurança nacional.
Segundo a Universidade Johns Hopkins, consultada pela BBC, a região britânica é a oitava no mundo com mais casos confirmados: 47.806 até esta segunda-feira (6), com mais de 4.900 mortes registradas. O primeiro-ministro, Boris Johnson, é um dos contaminados.
Um vídeo no YouTube, que a BBC diz ter verificado a autenticidade, mostra um dos supostos incêndios contra torres, mas não está claro se era um transmissor 5G.
This is the consequence of those bonkers Facebook conspiracy theories about 5G. Key workers getting harassed on the street. pic.twitter.com/5z35r6sabp
— Charlie Haynes (@charliehtweets) April 2, 2020
Na internet, vídeos mostram pessoas assediando trabalhadores da indústria de telecomunicações contra a instalação de equipamentos 5G em ruas britânicas.
Não é a primeira vez que o 5G é alvo de teorias conspiratórias. Notícias falsas do tipo chegaram a ser usadas até por políticos brasileiros para tentar proibir o 5G no Brasil.
Teoria é “falsa e perigosa”
Quando perguntado por um repórter sobre a chamada “teoria” de que os mastros de telecomunicações 5G poderiam desempenhar um papel na propagação da doença, o ministro do gabinete britânico, Michael Gove, disse: “Isso é apenas um absurdo, um absurdo perigoso também”.
O diretor médico do centro nacional de saúde inglês, Stephen Powis, disse que a ideia da conspiração 5G é uma notícia falsa e sem respaldo científico que arrisca prejudicar a resposta de emergência ao surto.
“A história do 5G é uma basteira completa e absurda, é o pior tipo de notícia falsa”, declarou Powis. “A realidade é que as redes de telefonia móvel são absolutamente críticas para todos nós”.
“Essas também são as redes telefônicas usadas por nossos serviços de emergência e nossos profissionais de saúde, e estou absolutamente indignado, absolutamente enojado que as pessoas estejam agindo contra a própria infraestrutura de que precisamos para responder a essa emergência”, disse Powis.
Os mastros para celulares foram vandalizados em Birmingham, no centro da Inglaterra, e em Merseyside, no norte da Inglaterra, nos últimos dias.
Impulso 5G da China desacelera com surto do coronavírus
As medidas governamentais para conter a disseminação do coronavírus na China devem adiar o lançamento das redes 5G. Propostas para seis grandes projetos 5G foram adiadas desde 31 de janeiro, segundo documentos do governo. As propostas incluem um projeto industrial de internet na província de Guangdong, um projeto relacionado a hospitais na província de Jiangxi e um projeto relacionado à polícia na província de Gansu.
Dois principais fornecedores de cabos de fibra ótica também têm sede e instalações de produção importantes na cidade de Wuhan, o epicentro do surto.
Além de fornecer conectividade à internet muito mais rápida, as redes 5G prometem permitir uma série de novos produtos e serviços de tecnologia, de carros autônomos a fábricas inteligentes.
A China fez do 5G uma prioridade nacional, com o objetivo de ter redes e serviços em todo o território antes de outros países e, no ano passado, pressionou as operadoras de telecomunicações a acelerar a implantação. Mas, como outras empresas na China, empresas de equipamentos de telecomunicações e operadoras de telefonia estão enfrentando um pesadelo logístico, já que as restrições de viagens e as quarentenas resultam na escassez de funcionários e impedem o transporte de mercadorias.
A Yangtze Optical Fiber and Cable, uma das duas principais fabricantes de cabos de fibra óptica com sede em Wuhan, disse em janeiro que vai depender de fábricas localizadas em outras partes da China para manter a produção.
Um gerente da empresa disse à Reuters na quinta-feira que a produção ainda não havia sido retomada em Wuhan e que outras fábricas estavam operando com 50% da capacidade. O gerente, que não estava autorizado a falar com a mídia e não queria ser identificado, se recusou a comentar sobre o impacto nos planos de redes 5G da China.
A FiberHome Telecommunication Technologies, outra fornecedora de cabos de fibra ótica com sede em Wuhan, disse em seu site que estava tentando manter a produção em funcionamento via operação remota.
A construção de bases de redes 5G da China Mobile estava avançando rapidamente no final de dezembro e em janeiro, informaram reportagens da mídia local. Mas uma divisão de Pequim da principal operadora do país também disse à imprensa que o coronavírus teria um impacto definitivo no desenvolvimento do 5G.
“Se as operadoras não conseguirem instalar os cabos de fibra óptica, provavelmente atrasarão as compras das estações rádio-base”, disse Edison Lee, analista da Jeffries.
A operadora China Mobile, a rival China Telecom e a China Unicom não responderam aos pedidos de comentários da Reuters. Um executivo da Huawei Technologies, maior fornecedora mundial de equipamentos de telecomunicações, disse esta semana que tinha estoques suficientes para durar de três a seis meses.
Na maioria dos países, a implantação do 5G ainda não começou ou está em um estágio muito inicial, com as operadoras procedendo com cautela diante dos custos e da falta de potencial de lucro no curto prazo.
5G vem aí: Por que o leilão do Brasil vai ser o maior do mundo?/strong>
A licitação do 5G do Brasil será o maior leilão de radiofrequências da história do país e a maior oferta pública de capacidade para a tecnologia móvel de quinta geração no mundo, avaliam fabricantes de equipamentos e operadoras de telecomunicações.
A Agência Nacional das Telecomunicações (Anatel) deu o primeiro passo para tirar o 5G do papel no Brasil nesta quinta-feira (6) ao aprovar que o edital do leilão entre em consulta pública. A discussão do assunto foi um processo que se arrastou durante oito meses de idas e vindas.
Irão a leilão faixas de frequência em quatro bandas: 700 MHz; 2,3 GHz; 3,5 GHz e 26 GHz. Pense nessas faixas como rodovias no ar por onde circulam os dados enviados e recebidos por dispositivos conectados como smartphones e computadores. Quando ocorre uma licitação de espectro, é como se estradas dessas estivessem sendo oferecidas à iniciativa privada.
Entre as diretrizes aprovadas, os conselheiros ampliaram para 400 MHz a banda a ser usada na faixa de 3,5 Ghz, a mais usada do mundo.
“É o maior leilão para o 5G dentre os que já foram feitos no mundo para essa tecnologia,” afirma Marcos Ferrari, presidente da Telebrasil, a associação das operadoras no Brasil
Essa também é a avaliação na indústria. Tiago Machado, diretor de relações institucionais da Ericsson, que fabrica equipamentos de telecomunicação, avalia ainda que o leilão aumentará muito a capacidade à disposição das operadoras para ofertar internet.
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