por Cibele Laura
Cibele Laura
“E ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Mt 19:22-24)
A Revolução Industrial Inglesa, iniciada no século XVIII, antes de ter sido um grande passo para a modernidade, com a invenção, o pioneirismo nos métodos de produção, as técnicas novas e etc…, foi um show de horrores. Crianças – a partir de 7 anos – trabalhando em fábricas, exaustivamente, sob a direção de carrascos, entre as máquinas, sendo obrigadas a produzir por quase ininterruptas 16 horas. Pessoas escravizadas, destinadas a receber quantias incipientes, famintas, à mercê de capitalistas frios, que valorizavam muito mais as máquinas do que o ser humano. O industrialismo explorou o pobre de todas as formas, sem considerar sexo ou idade. As minas de carvão não poupavam ninguém.
Calor intenso, gases, umidade, em buracos subterrâneos, abertos para extrair o carvão da terra, matavam mulheres e crianças.
Todavia, se você acha que na época houve revolta da sociedade contra a bruta exploração, você está enganado. Os pobres, subjugados e esfalfados, trabalharam resignados durante um bom tempo, até lutarem por melhoramentos nas condições de sua vida laboriosa, e o rico, para justificar a insensibilidade à própria consciência (segundo Victor Hugo, a consciência é Deus), usou a religião.
“Que atitude tinham as pessoas ricas em relação às condições predominantes nas fábricas, aos dias de 16 horas, ao trabalho infantil? A maioria nem pensava nisso, absolutamente. Quando pensavam, consolavam-se com o raciocínio de que tinha de ser assim. Não dizia a Bíblia: “os pobres”, sempre os tendes convosco? ” Não lhes importava que a Bíblia tivesse outras coisas a dizer sobre as relações entre os homens – liam apenas o que queriam ver, e ouviam apenas o que queriam ouvir.”
Leo Huberman – História da Riqueza do Homem
“Algumas das necessidades que a pobreza impõe não constituem durezas, mas prazeres. A frugalidade em si é um prazer. É um exercício de atenção e controle que produz contentamento. Este se perde em meio à abundância. Não há prazer em sacar recursos imensos. Uma vantagem ainda maior que possuem as pessoas em situação inferior é a facilidade com que se sustentem seus filhos. Tudo de que o filho de um pobre necessita está encerrado em duas palavras, ‘indústria e inocência’.
Arquidiácono Paley ( Em História da Riqueza do Homem)
Para o vigário, os ricos invejavam os pobres, pois o descanso só era um prazer após o trabalho árduo. “O rico vê, e não sem inveja, o prazer e a recuperação que o repouso proporciona ao pobre.”
Lembrando, meu povo, que a Igreja sempre foi detentora de grandes riquezas, paradoxalmente ao argumento de pobreza como dádiva.
Hoje, o cristianismo está inundado com a Teologia da Prosperidade fácil e rápida. Os pobres, que ascenderam ao céu, foram expulsos, certamente, para dar lugar ao fiel próspero.