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Por um cristianismo que assuma o Jesus Negro
É preciso repensar a imagem do Jesus de Nazaré dentro do cristianismo contemporâneo.
Por Matheus Souza Gomes*
A história do cristianismo no Ocidente é marcadamente etnocêntrica e racista. Ainda que as teorias raciais datem do século 19 (muitas delas baseadas no etnocentrismo europeu construído desde os séculos 9º e 10º e no chamado darwinismo social), a tradição cristã europeia, que se tornou hegemônica na parte ocidental do mundo, carrega consigo a marca do etnocentrismo com base na crença de que a verdade divina foi revelada com exclusividade na pessoa de Jesus de Nazaré. De fato, a fé na natureza divina de Jesus é base de toda a tradição cristã. O axioma “Fora do Cristo não há salvação”, permitiu que o cristianismo crescesse, avançasse e assimilasse diversas culturas e tradições religiosas (especialmente na Europa e na América). Neste processo, a institucionalização da fé cristã e a expansão de sua hegemonia se distanciaram dos princípios do Evangelho.
A mensagem de tolerância, respeito, acolhimento, alteridade e valorização de tudo o que é diferente deu lugar a uma religião hegemônica intolerante, incapaz de conviver com outras religiões ou visões sobre Jesus, criadora de uma moral social excludente e violenta. Além disso, legitimou discursos “civilizatórios” para justificar a escravidão de povos ameríndios e africanos, juntamente à destruição ou detração de suas culturas e manifestações religiosas. Em terras brasílicas, o projeto de cristianização executado pelos portugueses se especializou em catequizar nativos e cativos africanos, além de proibir, perseguir e punir qualquer tentativa de manifestação religiosa destas etnias. Mesmo com a ocorrência de movimentos de resistência religiosa para manutenção das tradições indígenas e africanas, não se pode negar a violência do processo de cristianização implementado pelos portugueses. O resultado disso é visto até hoje.
Mas, antes de tratar desta questão se faz necessário destacar o aspecto paradoxal presente na tradição cristã: a questão da origem étnico-racial de Jesus de Nazaré. Já se sabe, a partir de estudos bíblicos, arqueológicos, históricos e teológicos, que o Nazareno, era de origem judaica, nascido na região da Palestina durante a ocupação do território por forças romanas. Bem, devido à sua herança geográfica e étnica, é possível afirmar que a imagem do Cristo concebido pela tradição cristã europeia e que se popularizou não guarda nenhuma semelhança com o Jesus histórico nascido na Palestina dominada pelos romanos. Jesus de Nazaré não era branco. Era um judeu negro do Oriente Médio.
Essa constatação que, muitas vezes, passa batido por uma parcela significativa dos cristãos e que é negligenciada por diversas lideranças religiosas, possuí relevância para a história do cristianismo e revela um interessante paradoxo da tradição: o processo de embranquecimento da principal figura religiosa da tradição cristã: o próprio Jesus de Nazaré. Se a mensagem do Cristo se baseia na abertura e respeito para com o outro, por que as igrejas cristãs no Ocidente, principalmente, se deram ao trabalho de modificar as características físicas do “Filho de Deus”? Mais do que isto, por que durante o processo de expansão do cristianismo, a imagem de Jesus com características europeias foi conservada e, ainda hoje, é difundida pela tradição cristã ocidental? São perguntas inquietantes, mas que retratam um aspecto do cristianismo hegemônico no Ocidente: o seu racismo religioso.
É preciso repensar a imagem do Jesus de Nazaré dentro do cristianismo contemporâneo. Este se tornou parte importante da engrenagem de exclusão racial e social, ajudando a alimentar os comportamentos racistas da sociedade brasileira. Principalmente no que tange ao racismo religioso praticado contra as religiões de matriz africana. Não são apenas atos de intolerância religiosa que se vê no Brasil. A intolerância partiria do pressuposto de que há igualdade de condições entre as religiões no Brasil. O que não é verdade. Também como não é verdade que existam igualdades de condições entre os cidadãos brasileiros. Assim como o racismo institucional e estrutural, que alimentam atitudes e comportamentos hostis contra os negros e indígenas no Brasil, o racismo religioso ou cultural, também abastece a cosmovisão de que tudo aquilo que não é cristão e branco deve ser combatido, inferiorizado e, se necessário, extinto.
Trabalhar para ressignificar a imagem do Jesus histórico e sua origem étnica é tarefa primordial para as tradições cristãs na atualidade. Ressaltar a origem étnico-racial do Cristo talvez seja um caminho para promover uma nova visão por parte dos cristãos em relação às tradições religiosas de indígenas e africanos. Valorizar a imagem do Nazareno como um indivíduo de origem humilde, negro, que se colocava a favor dos excluídos e questionava o sistema opressor em que estava inserido, se tornou imprescindível para retomar a essência da tradição cristã, que é de lutar por todos que se encontram marginalizados, independente de crença, origem étnica ou social.
Mudar a concepção de que o corpo pregado na cruz era de um negro, que foi brutalmente castigado pela tortura, não só faz refletir sobre a condição violenta e injusta à qual Jesus foi submetido, como, também, pode desencadear um processo de repensar sobre a tradição que, durante longos séculos, contribuiu para marginalizar e perseguir tudo o que fosse diferente de uma concepção branca e europeia, em nome do Cristo crucificado.
É preciso encarar a ferida do processo de embranquecimento do Cristo e o fortalecimento que este dá a comportamentos e ações de intolerância racial e religiosa no Brasil contemporâneo. Usar a imagem e a mensagem de Jesus de Nazaré para promover a intolerância e a perseguição religiosa já é um papel que não cabe mais àqueles que se dizem seguidores de Cristo.
*Matheus Souza Gomes é mestre em Ciências da Religião, licenciado e professor de História.
Fonte: https://domtotal.com/noticia/1394162/2019/10/por-um-cristianismo-que-assuma-o-jesus-negro/
Jesus não era branco: era um judeu negro do Oriente Médio. Veja por que isso importa
Não há nenhuma descrição física dele na Bíblia, também não restam dúvidas que o Jesus histórico, o homem que foi executado pelo Império Romano no primeiro século da Era Cristã, era um judeu negro do Oriente Médio
Eu cresci em um lar cristão, onde uma imagem de Jesus ficava pendurada na parede da minha cama. A imagem, que eu ainda tenho, é sentimentalista e brega, do jeito que só a década de 70 poderia fazer. Eu adorava essa imagem quando era menina: Jesus parece gentil e amável, olhando para baixo com carinho. Ele também tinha cabelo claro, olhos azuis e era muito branco.
“O problema é que Jesus não era branco. Você pode ser perdoado por ter pensado que era caso tenha entrado em alguma igreja ocidental ou visitado um museu. Mas, enquanto não há nenhuma descrição física dele na Bíblia, também não restam dúvidas que o Jesus histórico, o homem que foi executado pelo Império Romano no primeiro século da Era Cristã, era um judeu negro do Oriente Médio.
Não há controvérsias quanto a isso de um ponto de vista científico, mas essa informação acaba sendo um detalhe esquecido por muitos dos milhões de cristãos que vão se unir para celebrar a Páscoa nos próximos dias.
Na Sexta-feira Santa, cristãos vão para as igrejas para cultuar Jesus e, em particular, lembrar da sua morte na cruz. Na maioria das igrejas, haverá uma imagem de Jesus como um homem branco, um cara que se parece com os ocidentais, com o qual outros ocidentais vão se identificar.
Pense por alguns instantes no belo Jim Caviezel, que interpretou Jesus na Paixão de Cristo dirigida para o cinema por Mel Gibson. Caviezel é um ator americano com ascendência irlandesa. Ou lembre de algumas das representações mais famosas da crucificação de Cristo – Ruben, Grunewald, Giotto – e veremos novamente a tendência europeia aparecendo em um Jesus de pele branca.
Mas será que isso importa? Sim, importa sim. Como sociedade, estamos cientes do poder da representação e da importância de se ter exemplos diversos.
Depois de ter ganhado o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 2013 pelo filme “12 anos de escravidão”, a atriz queniana Lupita Nyong’o ficou muito famosa. Em entrevistas que deu depois disso, Nyong’o repetiu frequentemente que se sentia inferior quando era jovem porque as imagens de beleza que ela via eram de mulheres claras. Ela só percebeu que negras podiam ser bonitas quando a modelo sudanesa Alek Wek começou a atuar no mundo da moda.
Se podemos reconhecer a importância da diversidade étnica e física dos modelos que mostramos na nossa mídia, por que não podemos fazer o mesmo com nossa fé? Por que continuamos a permitir que imagens de um Jesus branco dominem nossas representações?
Muitas igrejas e culturas representam Jesus como um homem moreno ou negro. Cristãos Ortodoxos normalmente têm uma iconografia diferente do que a arte europeia, e se você entrar em uma igreja na África, provavelmente verá um Jesus africano.
Mas essas são imagens que raramente vemos em igrejas protestantes e católicas na Austrália, e o problema é nosso. Isso permite que a principal comunidade cristã separe sua devoção a Jesus do seu respeito e compaixão por aqueles que têm outra aparência.
Eu diria até que isso cria uma desconexão cognitiva, na qual alguém pode ter uma afeição profunda por Jesus e nenhuma empatia por alguém do Oriente Médio. Isso tem implicâncias inclusive na afirmação teológica que os humanos foram feitos à imagem e semelhança de Deus. Se Deus é sempre visto como branco, então o humano padrão é branco, criando assim a base para o racismo.
“Historicamente, o embranquecimento de Deus contribuiu para que os cristãos fossem alguns dos piores perpetuadores do antissemitismo e continuassem a excluir pessoas que não se pareçam fisicamente com eles.
Nessa Páscoa, eu fico me perguntando como nossas igrejas e nossa sociedade seriam se lembrássemos que Jesus era negro. Se fossemos confrontados com a realidade que o corpo na cruz era um corpo negro: alguém torturado, destruído e executado publicamente por um regime opressivo.
Como isso mudaria nossas atitudes se pudéssemos ver que a prisão, o abuso e a execução injustos de Jesus têm mais relação com a experiência dos povos indígenas da Austrália ou dos refugiados do que com aqueles que tiveram o poder na igreja e que normalmente representam Cristo?
“E vou me permitir ser mais radical: eu me pergunto o que mudaria se fossemos mais cientes que a pessoa que os cristãos cultuam como Deus em carne e salvador de todo o mundo não era um homem branco, mas um judeu do Oriente Médio.
Robyn J. Whitaker é Professora Sênior em Estudos Bíblicos no Trinity College, Universidade de Divinity, Austrália
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/jesus-nao-era-branco-era-um-judeu-negro-do-oriente-medio-veja-por-que-isso-importa
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O que os historiadores dizem sobre a real aparência de Jesus
- Edison Veiga
- De Milão, para a BBC Brasil
Foram séculos e séculos de eurocentrismo – tanto na arte quanto na religião – para que se sedimentasse a imagem mais conhecida de Jesus Cristo: um homem branco, barbudo, de longos cabelos castanhos claros e olhos azuis. Apesar de ser um retrato já conhecido pela maior parte dos cerca de 2 bilhões de cristãos no mundo, trata-se de uma construção que pouco deve ter tido a ver com a realidade.
O Jesus histórico, apontam especialistas, muito provavelmente era moreno, baixinho e mantinha os cabelos aparados, como os outros judeus de sua época.
A dificuldade para se saber como era a aparência de Jesus vem da própria base do cristianismo: a Bíblia, conjunto de livros sagrados cujo Novo Testamento narra a vida de Jesus – e os primeiros desdobramentos de sua doutrina – não faz qualquer menção que indique como era sua aparência.
“Nos evangelhos ele não é descrito fisicamente. Nem se era alto ou baixo, bem-apessoado ou forte. A única coisa que se diz é sua idade aproximada, cerca de 30 anos”, comenta a historiadora neozelandesa Joan E. Taylor, autora do recém-lançado livro What Did Jesus Look Like? e professora do Departamento de Teologia e Estudos Religiosos do King’s College de Londres.
“Essa ausência de dados é muito significativa. Parece indicar que os primeiros seguidores de Jesus não se preocupavam com tal informação. Que para eles era mais importante registrar as ideias e os papos desse cara do que dizer como ele era fisicamente”, afirma o historiador André Leonardo Chevitarese, professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor do livro Jesus Histórico – Uma Brevíssima Introdução.
Em 2001, para um documentário produzido pela BBC, o especialista forense em reconstruções faciais britânico Richard Neave utilizou conhecimentos científicos para chegar a uma imagem que pode ser considerada próxima da realidade. A partir de três crânios do século 1, de antigos habitantes da mesma região onde Jesus teria vivido, ele e sua equipe recriaram, utilizando modelagem 3D, como seria um rosto típico que pode muito bem ter sido o de Jesus.
Esqueletos de judeus dessa época mostram que a altura média era de 1,60 m e que a grande maioria deles pesava pouco mais de 50 quilos. A cor da pele é uma estimativa.
Taylor chegou a conclusões semelhantes sobre a fisionomia de Jesus. “Os judeus da época eram biologicamente semelhantes aos judeus iraquianos de hoje em dia. Assim, acredito que ele tinha cabelos de castanho-escuros a pretos, olhos castanhos, pele morena. Um homem típico do Oriente Médio”, afirma.
“Certamente ele era moreno, considerando a tez de pessoas daquela região e, principalmente, analisando a fisionomia de homens do deserto, gente que vive sob o sol intenso”, comenta o designer gráfico brasileiro Cícero Moraes, especialista em reconstituição facial forense com trabalhos realizados para universidades estrangeiras. Ele já fez reconstituição facial de 11 santos católicos – e criou uma imagem científica de Jesus Cristo a pedido da reportagem.
“O melhor caminho para imaginar a face de Jesus seria olhar para algum beduíno daquelas terras desérticas, andarilho nômade daquelas terras castigadas pelo sol inclemente”, diz o teólogo Pedro Lima Vasconcellos, professor da Universidade Federal de Alagoas e autor do livro O Código da Vinci e o Cristianismo dos Primeiros Séculos.
Outra questão interessante é a cabeleira. Na Epístola aos Coríntios, Paulo escreve que “é uma desonra para o homem ter cabelo comprido”. O que indica que o próprio Jesus não tivesse tido madeixas longas, como costuma ser retratado.
“Para o mundo romano, a aparência aceitável para um homem eram barbas feitas e cabelos curtos. Um filósofo da antiguidade provavelmente tinha cabelo curto e, talvez, deixasse a barba por fazer”, afirma a historiadora Joan E. Taylor.
Chevitarese diz que as primeiras iconografias conhecidas de Jesus, que datam do século 3, traziam-no como um jovem imberbe e de cabelos curtos. “Era muito mais a representação de um jovem filósofo, um professor, do que um deus barbudo”, pontua ele.
“No centro da iconografia paleocristã, Cristo aparece sob diversas angulações: com o rosto barbado, como um filósofo ou mestre; ou imberbe, com o rosto apolíneo; com o pálio ou a túnica; com o semblante do deus Sol ou de humilde pastor”, contextualiza a pesquisadora Wilma Steagall De Tommaso, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e do Museu de Arte Sacra de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Teologia e Ciências da Religião.
Imagens
Joan acredita que as imagens que se consolidaram ao longo dos séculos sempre procuraram retratar o Cristo, ou seja, a figura divina, de filho de Deus – e não o Jesus humano. “E esse é um assunto que sempre me fascinou. Eu queria ver Jesus claramente”, diz.
A representação de Jesus barbudo e cabeludo surgiu na Idade Média, durante o auge do Império Bizantino. Como lembra o professor Chevitarese, eles começaram a retratar a figura de Cristo como um ser invencível, semelhante fisicamente aos reis e imperadores da época.
“Ao longo da história, as representações artísticas de Jesus e de sua face raras vezes se preocuparam em apresentar o ser humano concreto que habitou a Palestina no início da era cristã”, diz o sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
“Nas Igrejas Católicas do Oriente, o ícone de Cristo deve seguir uma série de regras para que a imagem transmita essa outra percepção da realidade de Cristo. Por exemplo, a testa é alta, com rugas que normalmente se agrupam entre os olhos, sugerindo a sabedoria e a capacidade de ver além do mundo material, nas cenas com várias pessoas ele é sempre representado maior, indicando sua ascendência sobre o ser humano normal, e na cruz é representado vivo e na glória, indicando, desde aí, a sua ressurreição.”
Como a Igreja ocidental não criou tais normas, os artistas que representaram Cristo ao longo dos séculos criaram-no a seu modo. “Pode ser uma figura doce ou até fofa em muitas imagens barrocas ou um Cristo sofrido e martirizado como nas obras de Caravaggio ou Goya”, pontua Ribeiro Neto.
“O problema da representação fiel ao personagem histórico é uma questão do nosso tempo, quando a reflexão crítica mostrou as formas de dominação cultural associadas às representações artísticas”, prossegue o sociólogo. “Nesse sentido, o problema não é termos um Cristo loiro de olhos azuis. É termos fiéis negros ou mulatos, com feições caboclas, imaginando que a divindade deve se apresentar com feições europeias porque essas representam aqueles que estão ‘por cima’ na escala social.”
Essa distância entre o Jesus “europeu” e os novos fiéis de países distantes foi reduzida na busca por uma representação bem mais aproximada, um “Jesus étnico”, segundo o historiador Chevitarese. “Retratos de Jesus em Macau, antiga colônia portuguesa na China, mostram-no de olhos puxados, com a forma de se vestir própria de um chinês. Na Etiópia, há registros de um Jesus com feições negras.”
No Brasil, o Jesus “europeu” convive hoje com imagens de um Cristo mais próximo dos fiéis, como nas obras de Cláudio Pastro (1948-2016), considerado o artista sacro mais importante do país desde Aleijadinho. Responsável por painéis, vitrais e pinturas do interior do Santuário Nacional de Aparecida, Pastro sempre pintou Cristo com rostos populares brasileiros.
Para quem acredita nas mensagens de Jesus, entretanto, suas feições reais pouco importam. “Nunca me ocupei diretamente da aparência física de Jesus. Na verdade, a fisionomia física de Jesus não tem tanta importância quanto o ar que transfigurava de seu olhar e gestos, irradiando a misericórdia de Deus, face humana do Espírito que o habitava em plenitude. Fisionomia bem conhecida do coração dos que nele creem”, diz o teólogo Francisco Catão, autor do livro Catecismo e Catequese, entre outros.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-43560077
Como Jesus se transformou em um loiro de olhos claros?
Pesquisadores sabem que Jesus tinha olhos da cor marrom e cabelos escuros, mas versões artísticas criaram a imagem popular do messias do Cristianismo
A imagem real de Jesus permanece um mistério, apesar de sua representação mais conhecida ser a de uma pessoa loira com olhos claros, típica da Europa, e não da região de Israel.
Jesus é descrito na Bíblia como alto e bonito e como “bonito como uma criança”, mas os registros são contraditórios porque Jesus também é descrito como alguém sem beleza ou majestade. “O Jesus histórico tinha olhos marrom e pele como a de judeus do primeiro século da Galileia, uma região bíblica de Israel”, diz Anna Swartwood House, professora assistente de história da arte na Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos.
O primeiro retrato de Jesus é descrito como um autorretrato. Chamado Acheiropoieta, a imagem não teria sido criada por mãos humanas. Tais figuras têm autoria atribuída a Jesus e à Virgem Maria.
Warner Sallman, um pintor — que também trabalhou com publicidade –, é o autor da imagem de Jesus Cristo que povoa a mente de grande parte das pessoas desde 1940. A obra é chamada “Cabeça de Cristo”.
“Nos anos 1990, Cabeça de Cristo, de Sallman, tinha sido impressa mais de 500 milhões de vezes e tinha atingido o status de ícone global”, escreve, Edward Blum e Paul Harvey, no livro “The Color of Christ: The Son of God and the Saga of Race in America”, de 2012. Os autores ouviram fieis que, apesar de reconhecer que a imagem provavelmente não representa Jesus de forma realista, agradecem a Sallman por dar-lhes uma imagem de Jesus à qual podiam se agarrar em momentos difíceis.
Recriações da aparência de Jesus
Em 2010, com simulações computacionais em 3D, especialistas em computação gráfica recriaram o rosto de Jesus a partir de detalhes da face registradas no Santo Sudário. A experiência foi exibida no documentário “The Real Face of Jesus?”.
Em 2015, a imagem de jesus foi novamente recriada com ajuda de programas de computador e mostraram uma representação bem diferente daquela vista em obras de arte renascentistas.
Agora, em 2020, uma releitura da Santa Ceia com um Jesus negro foi instalada em da catedral de St Albans, no Reino Unido. A obra causou manifestações de mais de mil pessoas, mas foi instalada como uma forma de apoiar o movimento “vidas negras importam”, que ganhou projeção global com a morte de George Floyd por um policial nos Estados Unidos. Historiadores de todo mundo ainda divergem sobre a aparência real de Jesus. Entre as poucas coisas que sabem, uma delas é de que o messias do Cristianismo não era branco nem tinha olhos claros.