Recentemente, o professor Leandro Quadros publicou esse vídeo em que faz algumas afirmações bem fortes. Tais afirmações não devem ser compartilhadas desavisadamente sem uma séria análise de seu enunciado. E é isso que pretendemos fazer aqui.
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O presente texto não tem como objetivo o julgamento das intenções do jornalista, mas sim estimular o senso crítico, o espírito bereiano em nossos leitores bem como dialogar e discutir ideias contraditórias.
Ainda que vejamos problemas na resposta de Leandro Quadros, não iremos focar no assunto principal do vídeo. Há duas boas razões para isso, (1) pretendemos futuramente, de maneira mais específica, analisar a questão de transporte público aos sábados em outro texto e (2) julgamos que o complemento da resposta do professor Leandro Quadros, aquele que levanta a questão do cumprimento do sétimo mandamento, tenha sido o principal ponto de dissonância entre nosso pensamento e o dele.
Vejamos, então, a fala do professor.
“Quantos de nós consegue obedecer 100% ao mandamento não adulterarás? Ninguém! Porque se não adulterar fisicamente, mentalmente a pessoa acaba adulterando.” (sic)
É digno de nota que, olhando estritamente para o que foi dito, esse trecho do comentário de Leandro Quadros parece ser uma conclusão puramente empírica, raciocínio extraído do dia a dia. Não houve uma única citação que fundamentasse, seja da Bíblia ou do Espírito de Profecia, que nós não conseguimos guardar o sétimo mandamento de maneira satisfatória, continuamente. O raciocínio, até onde foi mostrado no vídeo, parece ter vindo unicamente da opinião popular de que ser fiel, ininterruptamente, é uma conduta muito difícil.
Para tentar ser mais convincente, o professor Leandro ainda apelou para os pensamentos. Afinal, quem consegue dominar seus pensamentos? A resposta, segundo ele, é: “Ninguém!”. Ou seja, um homem (ou mulher) talvez até consiga dominar o adultério na forma física, mas, em se tratando de pensamento, para Leandro Quadros, ninguém consegue. Mesmo sendo um crente convertido, não há como, da maneira como foi falado, escapar! Uma hora ou outra, mais cedo ou mais tarde, vamos ceder à tentação do adultério.
Bem, não sabemos qual a opinião do professor Leandro Quadros sobre o que realmente se configura adultério, por isso vamos esclarecer o assunto sobre o sétimo mandamento e no que ele implica.
“Não adulterarás” (Êxodo 20:14) — Este mandamento proíbe não somente atos de impureza, mas pensamentos e desejos sensuais, ou qualquer prática com a tendência de os excitar. A pureza é exigida não somente na vida exterior, mas nos intuitos e emoções secretos do coração. Cristo, que ensinou os deveres impostos pela lei de Deus, em seu grande alcance, declarou ser o mau pensamento ou olhar tão verdadeiramente pecado como o é o ato ilícito. {PP 217.4}
Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já ADULTEROU com ela.” Mateus 5:28
Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Gálatas 5:16-16
Aquele que encontra prazer em demorar-se em cenas de impureza, que condescende com o mau pensamento, com o olhar concupiscente, pode ver no pecado aberto, com seu fardo de vergonha e esmagador desgosto — a verdadeira natureza do mal por ele escondido nas câmaras da alma. O período de tentação sob a qual, talvez, uma pessoa caia em um pecado ofensivo, não cria o mal revelado, mas apenas desenvolve ou torna manifesto aquilo que estava oculto e latente no coração. Um homem “é tal quais são os seus pensamentos”; porque de seu coração “procedem as saídas da vida”. Provérbios 23:7; 4:23. {MDC 60.1}
NOTA: Achar algo bonito ou admirar a beleza do sexo oposto, mesmo em uma relação matrimonial e sem más intenções não é pecado. Deus nos criou para admirarmos o belo – inclusive a beleza humana. Em alguns casos, ser tentado a ter pensamentos impuros, sugeridos por Satanás, não chega a ser transgressão da lei se, de pronto, repelirmos o mal. Confira nos textos abaixo:
Todos são agentes morais livres, e como tais têm de pôr seus pensamentos a correr no conduto certo. Este é um vasto campo no qual a mente pode com segurança ter participação. Se Satanás procura desviar a mente para assuntos baixos e sensuais, trazei-a de volta e colocai-a em coisas eternas; e quando o Senhor vê o resoluto esforço feito para só reter pensamentos puros, Ele atrairá a mente, como um magneto, purificará os pensamentos, e habilitá-los-á a purificar-se de todo pecado secreto. “Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo.” 2 Coríntios 10:5.
És responsável perante Deus pelos teus pensamentos. Se condescenderes com vãs imaginações, permitindo que a mente se demore em assuntos impuros, serás, em certo sentido, tão culpada perante Ele como se teus pensamentos fossem levados à ação. Tudo o que impede a ação é a falta de oportunidade. — Testimonies for the Church 2:561 (1870); Mensagens aos Jovens, 76.{MCP1 234.2}
Há pensamentos e sentimentos sugeridos e despertados por Satanás, os quais afligem mesmo os melhores homens; caso não sejam acariciados, porém, uma vez que sejam repelidos como detestáveis, a mente não é contaminada de culpa, e outros não são maculados por sua influência. Oh, se cada um de nós se tornasse um cheiro de vida para vida, para os que nos rodeiam!{PC 136.2}
Uma vez que estudamos (4° trimestre de 2016) o Livro de Jó, não seria ruim relembrarmos um voto que ele fez com Deus.
“Fiz aliança com meus olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela? Que porção, pois, teria eu do Deus lá de cima e que herança, do Todo-Poderoso desde as alturas?” Jó 31:1 e 2
Ainda que tratemos do pecado em nível de pensamentos, não podemos pensar que não haja promessas bíblicas sobre proteção de nossa mente. Confira os poderosos textos abaixo:
E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus. Filipenses 4:7
Esse verso de Filipenses 4 é significativo. No decorrer desse capítulo específico, Paulo está tentando motivar seus leitores a trabalharem juntos (v.3), pede que não se inquietem e confiem ao Senhor, em oração, suas súplicas (v.6) e, no verso 7, confortando seus amados com uma promessa, diz que a paz de Deus guardará seus corações e pensamentos.
É curiosa e digna de nota a escolha de Paulo da palavra grega φρουρέω (phrouréō), que, segundo a definição Thayer, possui sentido militar de montar guarda sobre algo ou alguém. Isso significa, em parte, que a promessa do versículo é de que Deus faria uma vigilância de vigor militar sobre nós para guardar nossos pensamentos. Que promessa!
O fato de o pecado de adultério também envolver a esfera mental, não dificulta o entendimento, segundo as promessas que Deus nos concedeu, de que temos como ter vitória sobre tais provações (ainda que mentais). O fato de tentações mentais serem mais rasteiras não pode ser usado como argumento para defender a ideia de que nos é impossível vencer o adultério mental.
Não estamos sozinhos em nossa conclusão. Ainda que em nível mais homilético, concordamos com a afirmação do comentarista Matthew Henry:
” A paz de Deus, isto é, o senso confortável de nossa reconciliação com Deus e o interesse em seu favor, e a esperança da bem-aventurança celestial, e desfrute de Deus a seguir, que excede todo o entendimento, é um grande bem que pode ser suficientemente valorizado ou devidamente expresso. Essa paz irá manter nossos corações e mentes através de Cristo Jesus, vai nos impedir de pecar quando estivermos em problemas, e também nos impedirá de afundar diante deles, mantendo-nos calmos e tranquilos, sem a desordem da paixão, e com satisfação interna. ‘Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti’ Isaías 26: 3”
O próximo verso, todavia, pode ser mais decisivo que o último.
Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele lhes providenciará um escape, para que o possam suportar. 1 Coríntios 10:13-13
Ora, se não nos veio tentação que nós não pudéssemos suportar, e, se Deus nos garantiu uma rota de escape, podemos estar certos de que mesmo os maus pensamentos podem ser superados!
O comentário Bíblico de Guzik, sabiamente, diz, sobre esse verso:
“Muitas vezes queremos desculpar nossas particulares circunstâncias de tentação como ‘algo único’ ou uma ‘exceção especial.’ Mas Deus nos lembra de que nenhuma tentação é única, muitos outros homens e mulheres de Deus têm enfrentado a mesmo ou similar tentação, e têm encontrado força em Deus para vencê-la. Outros, antes de você, encontraram força no Senhor para superar a sua mesma tentação ou outra pior. Assim, você pode ser vitorioso na força de Jesus, não em sua própria força (cf Jo 3:30, Ro 13: 14, Gal 5:16, 17). Nós lutamos contra a tentação com o poder de Jesus, assim como uma menina que explicou o que ela fez quando Satanás veio com a tentação à porta do seu coração: “Eu enviei Jesus para atender a porta. Quando Satanás O viu, disse: ‘Ops, desculpe, casa errada!’”
No entanto, sabemos que, possivelmente, Leandro Quadros acredita que a vitória sobre o adultério mental, pelo menos algumas vezes, é possível. Seria absurdo caso ele concordasse com a ideia de que cedemos toda vez que somos tentados. Resta, agora, sabermos se nossa vitória sobre o pecado é possível de forma contínua. Será que Deus pode nos guardar de tropeçarmos? Estamos realmente condenados a uma vida de, no mínimo, adultérios ocasionais? A Bíblia está cheia de promessas poderosas sobre esse tema! Desfrutemos delas:
“Ora, Aquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da Sua glória.” (Jd 24)
Esta é uma de minhas preferidas:
Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. 2 Pedro 1:10,11
O último verso retrata uma condição interessante! Após se descrever a famosa escada de Pedro, a epístola enuncia que, fazendo firme nossa vocação, nunca jamais tropeçaremos (πταίω). Esse verbo grego, apesar de conjugado de maneira única em todo o Novo Testamento, se comparado às suas outras ocorrências, é o mesmo que está presente em Rm 11:11, Tg 3:2 e na famosa passagem de Tiago 2:10:
Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar [πταίσῃ] em um só ponto, tornou-se culpado de todos.
Certamente a Bíblia usa essa palavra como referência à transgressão da Lei. Será então que a promessa de 2 Pedro 1:10 inclui o adultério? Nós acreditamos que sim!
Ellen White coaduna com esse pensamento. Em várias de suas citações, ela apela para que conservemos constantemente nossos pensamentos.
Pensamentos maus destroem a alma. O poder de Deus para converter muda o coração, refina e purifica os pensamentos. A menos que haja um esforço determinado para manter os pensamentos centrados em Cristo, a graça não pode revelar-se na vida. A mente deve se envolver na guerra espiritual. Cada pensamento deve ser levado cativo à obediência de Cristo. Todos os hábitos devem ser trazidos sob o controle de Deus. {ST 23 de agosto de 1905, par. 4}
A primeira obra dos que desejam reformar-se é purificar a imaginação. Se a mente é guiada em direção viciosa, tem de ser refreada, cultivando só assuntos puros e elevados. Quando tentados a ceder a uma imaginação corrupta, fugi para o trono da graça e orai pedindo forças do Céu. Na força de Deus a imaginação pode ser disciplinada, de modo a só se demorar em coisas puras e celestiais. — Medicina e Salvação, 93.{MCP2 595.3
Por fim, a próxima declaração de Ellen White é categórica, uma grande representação daquilo que podemos alcançar, em atos e pensamentos!
Ele não consentia com o pecado. Nem por um pensamento cedia à tentação. O mesmo se pode dar conosco. — O Desejado de Todas as Nações, 123.
Essa promessa é um bálsamo para o crente que anseia não ser escravo do pecado! Nem mesmo por um só pensamento Cristo cedia à tentação, o mesmo pode se dar na nossa vida! Que promessa! Que alegria! O que na hermenêutica, no contexto ou na tradução nos faria pensar diferente desse sentido tão claro?! A vitória nos foi garantida nos atos e pensamentos, está claro “como o sol ao meio dia”. É nossa escolha se iremos, ou não, aceitarmos a ajuda do Céu para vencermos.
Queremos deixar claro que, a não ser que se prove o contrário, não podemos concordar com o comentário de Leandro Quadros. Respeitosamente, discordamos.
Por CoolturaAdventista: http://coolturaadventista.com/2017/04/25/resposta-leandro-quadros-sobre-o-setimo-mandamento/
Veja aqui o vídeo com a resposta de Leandro Quadros:
Neste vídeo, o jornalista Leandro Quadros propõe-se a contra-argumentar nosso último artigo. Tentativa essa que consideramos falha e inválida, pois o mesmo limitou-se apenas a dizer: hipócritas, hipócritas, hipócritas… Como se conhecesse a vida pessoal das pessoas. Também atacou o que não dizemos. Mas em nenhum momento focou-se nos textos postados pelo artigo ou a refutá-los teologicamente. Um dos textos é esse:
Ele (Jesus) não consentia com o pecado. Nem por um pensamento cedia à tentação. O mesmo se pode dar conosco (DTN 77.4).
Simplesmente, o professor Leandro Quadros passou por cima dos textos! Ou talvez não tenha lido o artigo.
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