Em seu site, fabricante das pulseiras Power Balance reconhece que o produto não ajuda no equilíbrio
Criada em 2007, uma simples pulseira de borracha foi (e está sendo) vendida aos milhares no mundo inteiro. Quem as comprava tinha a plena certeza de que o seu uso lhe traria equilíbrio e melhoras significativas em sua saúde.
Pelo menos essa era a promessa por trás do marketing da Power Balance. A pulseira, que teria sido projetada por um ex-funcionário da NASA (sem nome!), melhoria a circulação e o equilíbrio do usuário.
O segredo, segundo a propaganda estampada na página inicial do site americano da Power Balance, seriam os dois hologramas embutidos no centro do bracelete que, por causa da sua “fabricação especial, baseada nas filosofias holísticas”, iriam interagir com campo magnético do usuário. Isso proporcionaria os benefícios citados ao consumidor.
Apesar da própria Power Balance reconhecer em seu site não ter feito nenhum teste científico com o produto, a aceitação dos consumidores foi imediata! Em dois anos, amparados por depoimentos de muitas celebridades do esporte, como o piloto brasileiro Rubens Barrichello, além dos surfistas Adriano de Souza e Jadson André, venderam-se milhares dessas pulseirinhas. Fora do Brasil, outros nomes importantes do esporte como Shaquile O’neal, do basquete, a ciclista Willow Koerber e o surfista Bruce Irons também aderiram ao uso da Power Balance.
É claro que os depoimentos desses atletas contribuíram para o aumento nas vendas sem que se precisassem comprovações científicas para o tal poder dos hologramas quânticos.
Efeito placebo
Em entrevista ao jornal El País, em maio de 2010, o médico e professor, Jesus Javier Rojo, mostra o resultado de uma pesquisa feita com 79 voluntários na Faculdade de Educação Física da Universidade Politécnica de Madrid. Segundo o doutor Javier, as pulseiras não exercem efeito algum sobre o equilíbrio do corpo humano!
A pesquisa, que foi liderada pelo médico em maio de 2010, durou 2 semanas e os voluntários – estudantes com 23 anos em média – tiveram que realizar 2 testes de equilíbrio. Um teste com a pulseira e outro sem ela. Das pulseiras selecionadas para o teste, metade delas foi retirada os hologramas (que seria de onde sairiam os “poderes”) enquanto que o restante dos produtos ficou intacto. Usando o procedimento “duplo cego”, todas as pulseiras foram lacradas no local onde aparecem os hologramas. Tanto quem estava aplicando o teste quanto quem estava sendo testado não sabia qual era a pulseira “normal” ou qual era a danificada.
Rojo afirmou que os dados mostraram que os voluntários erravam ou acertavam os testes independentemente de estarem ou não usando as pulseiras com o holograma. “Os resultados indicam que a pulseira não tem qualquer efeito, a não ser o efeito placebo!“, diz o doutor.
Aqui no Brasil, o programa dominical Fantástico mostrou uma reportagem testando as propriedades terapêuticas da Power Balance e os resultados foram praticamente os mesmos realizados pelo doutor Jesus, lá na Espanha.
Falsas pulseiras falsas
Além da Power Balance, outras empresas se aproveitaram do sucesso do produto para criar os genéricos da pulseira. Veja aqui nesse fórum e no jornal português Correio da Manhã que há várias versões não oficiais para o acessório.
Caso você não tenha condições ou não queira desembolsar a grana para comprar a pulseirinha, o blog Mídia Digital ensina, na base do “Faça Você Mesmo“, como criar sua própria Power Balance genérica – juntando dois hologramas de cartão de crédito com um elástico de cabelos.
O SIC, de Portugal, também pesquisou as tais pulseiras:
O Jornal da Gazeta exibiu uma reportagem sobre as tais pulseiras. Na matéria, a reporter Sabrina Pires entrevista Carlos Silvares, diretor da Power Balance do Brasil, e até faz um teste de equilíbrio na frente das cameras. Segundo ela (a reporter), ao colocar a pulseira seu equilíbrio melhorou muito!
Efeito placebo? Auto-sugestão?
Uma pedestre também foi testada e, sem saber do que se tratava a tal pulseira, achou que seu senso de equilíbrio melhorou. Coincidência? O Físico Mikiya Muramatsu também fez o teste mas não notou nenhuma mudança em seu corpo.
Assista ao vídeo e tire suas conclusões!
Posição da Anvisa e de orgãos de outros países
No dia 2 de setembro de 2010, a Anvisa proibiu a veiculação da propaganda do produto no Brasil, porém a sua venda continuou liberada. Em Portugal também houve multa de 15 mil Euros em novembro de 2010 e, na Espanha, a multa foi de 350 mil euros, por propaganda enganosa.
Em janeiro de 2011, a empresa Power Balance publicou uma nota em seu site admitindo:
“Em nossas propagandas, nós afirmamos que os braceletes Power Balance melhoram seu vigor, equilíbrio e flexibilidade.
Nós admitimos que não há provas científicas confiáveis que sustentem nossas afirmações, e portanto nós assumimos uma conduta enganosa, em violação da s52 do Trade Practices Act 1974.
Se você acredita ter sido lesado por nossa propaganda, nós pedimos desculpas e oferecemos reembolso integral.”, diz a nota – traduzida pelo jornalista Humberto Oliveira, do blog O Buteco da Net.
Imagem retirada do site powerbalance
Uma companhia de defesa ao consumidor da Australia (Australian Competition and Consumer Commission) fez uma pressão para que a empresa Power Balance fosse obrigada a eliminar a publicidade do seu site e da sua embalagem, além de devolver o dinheiro aos consumidores que se sintam enganados e remover as palavras “tecnologia de rendimento” do produto.
Em defesa
Em resposta ao nosso contato, a Assessoria de Imprensa da On The Beach – representante oficial da Power Balance aqui no Brasil – disse ao E-farsas.com (via telefone) que os problemas mencionados junto à Anvisa já foram resolvidos e que a empresa nunca vendeu o produto como pulseira do equilíbrio, trata-se de um acessório esportivo. Segundo a assessoria, apenas os depoimentos sugerem e atestam os tais benefícios.
No mesmo dia do contato telefônico a empresa nos enviou a seguinte nota, que está sendo enviada a toda a imprensa:
“Nota
A On The Beach, distribuidora oficial e exclusiva da Power Balance no Brasil, informa que toda a publicidade realizada no País está em conformidade com as leis vigentes e com a normas estabelecidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Reforçamos ainda que nosso marketing é voltado para a comercialização de um acessório esportivo. Não divulgamos falsas promessas de benefícios. O uso da Power Balance está ligado a decisão pessoal de cada um.”