“Não toqueis os meus ungidos, e não maltrateis os meus profetas.” — Salmos 105:15
Esse texto costuma ser usado para conferir “imunidade ministerial” a pastores permitindo que cometam toda sorte de imoralidade, desonestidade, arbitrariedade, sem que possam ser advertidos ou denunciados perante a igreja. E o exemplo que costuma ser citado são os episódios em que Davi teve oportunidade para matar o rei Saul que o perseguia, mas não o fez.
A vida de Saul foi poupada por Davi nesses dois momentos, mas Davi fez questão de usar as duas ocasiões para publicamente denunciar a injustiça que Saul estava praticando contra ele e seus homens, perseguindo-os. Afinal de contas. Davi também era um ungido, e ungido pelo mesmo profeta que denunciou o desagrado de Deus sobre Saul, Samuel.
Além disso, o paralelismo inspirado contido nesse verso do Salmo 105, coloca o rei (líder) ungido no mesmo nível dos profetas (denunciadores de desmandos da liderança e comunicadores da vontade de Deus perante o povo. “Não maltrateis os Meus profetas.”
Pense nisso: O extraordinário poder dos omissos no Brasil…
A frase de Shannon Adler vale por uma sirene de alerta. Diz ele:
“Frequentemente, aquilo que as pessoas não dizem, ou deixam de lado, conta a verdadeira história”.
E eu acrescento: Quantos de nossos males seriam evitados se não comprássemos por dois vinténs de sossego os dissabores de amanhã!
A omissão dos conservadores e liberais favoreceu, nas últimas décadas, a condução do Brasil por maus caminhos, em más companhias.
Se é verdade que fizemos nossa autodescoberta em 2018, não é menos verdade que quando acordamos da euforia inerente àquela vitória, a soberania popular jazia entre quatro velas no artigo primeiro da nossa Constituição.
Voltamos a ser a galinha dos ovos de ouro no poleiro daqueles que decidem nosso destino e regem nossas liberdades. O mudo consentimento dos omissos permite a migração do poder real da República para mãos impróprias.
Atente, pois. Se alguém lhe jogar por cima etiquetas ofensivas e frases feitas; se disser que “um outro mundo é possível”, que o problema de Cuba é o “terrível bloqueio ianque”, que a ideologia de gênero é uma imposição da vida moderna e uma necessidade das crianças, que as drogas devem ser liberadas, que “interrupção da gravidez” é direito da mulher, que os cristãos devem ficar de boca fechada para que só eles falem porque o Estado é laico, que a pobreza é causada pela riqueza, que a polarização faz mal à política, saiba: aí está alguém animado por mentalidade revolucionária.
Alguém que fará qualquer coisa pelo poder e que, no poder, agirá por dentro e por fora da ordem para destruí-la, pondo em curso o projeto revolucionário.
Saiba mais: essa pessoa não quer melhorar o mundo, como eu e você queremos. Ela quer destruir a civilização e os valores que buscamos preservar.
O Brasil, para elas, é apenas um dos espaços geográficos dessa disputa. Por isso, rejeitam o patriotismo, a bandeira e o Sete de Setembro.
Nossos valores, nossos apreço à liberdade, nossa rejeição à tirania e aos totalitarismos os contraria.
Nós, de fato, preferimos a ordem à desordem e à anarquia. Respeitamos a justiça e o devido processo, o Estado de Direito e a Democracia.
Rejeitamos revoluções e abusos de autoridade. Sabemos que a prisão dos criminosos liberta os cidadãos. Não investimos contra os bens alheios e exigimos que a propriedade privada seja respeitada.
Consideramos que o Estado existe para a pessoa humana e não a pessoa humana para o Estado.
Sabemos que a instituição familiar é importante, deve ser preservada e constituir objeto de atenção. Queremos um Estado eficiente nas tarefas que lhe correspondem, não intrometido na vida privada. Entre nós, mesmo os ateus reconhecem o valor da moral judaico-cristã, apreciam os fundamentos da civilização Ocidental e estão longe de considerar o Cristianismo como um mal que deva ser extirpado dos corações e das mentes.
As forças que exercem de modo efetivo o poder nacional, em proporção a cada dia mais evidente, rejeitam esse inteiro pacote, sem acordo possível. Querem a posse integral dos meios para dirigi-los a fins opostos. Abandonam os cidadãos à sanha dos bandidos porque lhes convêm o aumento da criminalidade e a insegurança. Põem em curso as agendas identitárias, não porque se interessem pelas pessoas concretas, mas porque toda trincheira e toda fratura aberta na sociedade serve ao projeto.
Percival Puggina — Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.