Como Ler Ellen G. White Hoje, Sem Extremismos

Texto publicado há 18 anos aqui no Adventistas.Com (Dezembro de 2001)

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Título original do livreto: Questões do Espírito de Profecia: Subsídio para compreender Ellen G. White

Por Ernesto Sarmento, Coimbra, 2001

Introdução

“Com respeito aos testemunhos, nada é ignorado; nada é posto de lado; mas o tempo e o lugar devem ser considerados”. Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 57. (“Nada é posto de lado”, quer dizer, sem motivo ou razão.)

Advertimos desde já, que o nosso propósito é fortalecera fé do povo adventista, e de modo algum rebaixar ou denegrir o dom de profecia manifestado em Ellen White. Fiat lux! Pelo contrário, pretende-se realçar a sua importância sem deixar de sublinhar as suas limitações e fraquezas, porque essa é deveras a única perspectiva bíblica, ajudando-nos a entender o porquê de erros, posturas radicais, contradições, plágio, etc.

Muitos dos assuntos aqui reunidos têm sido permanentemente utilizados pelos críticos para difamar a veracidade do dom de profecia no ministério de Ellen e na Igreja Adventista. Alguns irmãos atribuem as citações a falsificações propositadas, cometidas pelos próprios críticos ou pela Associação Geral (já ouvimos de tudo!); mas essa atitude nem é honesta nem bíblica, mas infantil e despropositada.

Essas questões levantadas, não o são propriamente pelos críticos, mas surgem aqui e ali durante a leitura que fazemos(os que fazemos!) do Espírito de Profecia, e requerem, pois,uma resposta coerente. Vamos deitar para o lixo tudo o que escreveu Ellen White, porque também ela foi uma pecadora e cometeu erros? De maneira nenhuma! Onde está escrito que o profeta deve ser imaculado? Que os críticos deitem o esterco preconceituoso das suas mentes para fora. Qual foi a atitude de Paulo para com os coríntios? O que dizia Paulo de si mesmo? Que era o maior dos pecadores! (exagerou). Além do mais ensinou a reter o bem (não disse para rejeitar tudo!).

Como veremos, também a irmã White foi “marota” em várias ocasiões, agindo conforme a sua natureza pecadora. Só um desconhecimento supino do Espírito de Profecia, e sobretudo do paradigma bíblico acerca dos dons, leva alguns a tomar posições extremistas, as quais não só corrompem o próprio mas, o que é mil vezes pior, contaminam os crentes com preconceitos endiabrados, extremistas e desfigurados. E o mais interessante é que, quando vamos falar com essas pessoas, verifica-se que não leram nem 1/3 das quase 25.000.000 de palavras que Ellen escreveu!…

É para rir ou para chorar? Todavia também é verdadeiro, que muitos dos nossos irmãos são mais ignorantes do Espírito de Profecia do que muitos críticos (o que é uma vergonha). Leia a última frase outra vez.

Se lemos o Espírito de Profecia por conta própria,alheados do paradigma bíblico, adoptando modelos espúrios,desconsiderando as regras básicas para uma hermenêutica dos textos, não só desembocaremos num beco sem saída, como cometemos pecado atrás de pecado, ao omitir, camuflar, evitar,serpentear, negligenciar, sonegar e subtrair os dilemas, ficando inaptos para explicar a nossa fé; pois, ainda que esta tarefa esteja principalmente a cargo dos doutores (Ef.4:11,12), todos devem empenhar-se (segundo o nível do dom repartido a cada um).

A primeira parte é um adminículo para compreender o paradigma bíblico (leia e releia para ler de novo, uma e outra vez…). Trata-se de um esboço. O mesmo tema está desenvolvido noutro folheto: “Ellen G. White: os sonhos, as visões e os primeiros escritos (1844-1851)”.

A segunda parte é dedicada a diversos temas, dentre os quais, analisaremos posturas radicais, erros e contradições, situações de pecado, idéias despropositadas, etc.; situações normalíssimas da vida da profetisa, como se demonstrará recordando alguns versículos bíblicos. No livro The White Truth, publicado pela Igreja Adventista em 1981, como resposta ao plágio que Ellen praticou (desmedidamente!), o autor John Robertson, depois de reconhecer o dilema colocado pelos críticos (principalmente, Rea), realça a importância dos escritos de Ellen e escreve:

“The influence of the Spirit of Prophecy [Mrs. White’s writings] is woven into the warp and woof of Adventist faith, life and organization . . . What we are as a church is a reflection of our faith in the divine authority evident in the writings of Ellen G. White.” The White Truth, p. 61.

Algo evidente, que sobressai, que se deixa ver. Consideramos que Robertson erra ao falar de autoridade, pois confunde as tarefas, já que a autoridade (em termos teológicos) pertence à Igreja e à sua capacidade de escrutínio dos dons de profecia segundo a norma (regra) da Sola Scriptura. Portanto, a autoridade dos escritos de Ellen dependeu do juízo da Igreja à luz das Escrituras. Isto significa que tudo aquilo em que existe contradição com as Escrituras, deve ser rejeitado.

Ora, como veremos essa foi uma das tarefas de Ellen e da Igreja ao longo dos anos: a de suprimir, depurar, extirpar equívocos, limpar os erros (contradições, exageros).

Lamentavelmente, como o têm feito nos bastidores e sem informar o povo (coisa gravíssima), muitos encaram isso como falsificações, adulterações e manipulações textuais (e com razão!). Além do mais, essa falta de comunicação franca e sincera, tem servido para engendrar todo o tipo de extremismos e fanatismos insuportáveis, bem como o excesso dos críticos.

No mesmo ano, a Conferência Geral analisou a questão e expressa as suas conclusões num documento intitulado “The Dallas Statement”. Depois de lembrar que o dom de profecia é uma manifestação dos dons do Espírito e uma marca que identificaria o remanente, reconhece a autoridade dos escritos de Ellen enquanto fonte de verdade que providencia à Igreja conforto, orientação, instrução e correcção, mas sublinha claramente que a Bíblia é a medida, modelo, padrão, bitola (standard) através da qual toda a doutrina e experiência deve ser testada (must be tested). Consulte: Statement 17. Isto, levado às últimas consequências é absolutamente verdadeiro, quer dizer, bíblico, teológico; pois é uma afirmação inequívoca da Sola Scriptura.

Lemos em alguns autores, que os escritos de Ellen são “an inspired commentary on the Bible” (um comentário inspirado da Bíblia), expressão que pode ser tomada como verdadeira ou falsa, ambígua, despropositada e adequada ao mesmo tempo. È falsa se lhe atribuem qualquer tipo de infalibilidade, inerrância, descuidando o seu sitz im leaben (contexto). O seu carácter é essencialmente devocional ou pastoral (sublinhe e memorize); não é primariamente teológico nem doutrinal (consulte a nota de rodapé na p. ). Esse é o equívoco de Morris L. Venden.

Paradigma bíblico (Paulo aos coríntios)

No c. 14 Paulo salienta o dom de profecia por ser aquele mais apto para ajudar os crentes a se desenvolverem e avançarem em sua inquirição espiritual. A profecia é muito superior (maior; cf. v.5 e compare com Mc.9:35) às línguas, a menos que estas sejam traduzidas ou interpretadas para benefício do corpo. Em tudo prevalece o amor como força controladora dos dons espirituais, enquanto garantia do seu uso espiritual (em contraste com o abuso carnal).

Particularmente interessante é o v.3 onde se deixa bem claro que o propósito fundamental da profecia (sublinhe) é a edificação, exortação e consolação, contribuindo para o nosso desenvolvimento espiritual. E no v.12, sobre os dons do Espírito, insiste e exorta: procurai abundar neles para a edificação da igreja.

No v.20 Paulo reprova a infantilidade dos crentes coríntios, a sua ostentação. Eram crianças espirituais e deveriam crescer para ser adultos no entendimento. Paulo utiliza duas palavras gregas para dizer meninos e crianças. A primeira ordinariamente traduz-se como criancinhas, ainda que algumas vezes possa significar infantes, recém-nascidos; a segunda indica os recém-nascidos. Uma vez que Paulo utiliza aqui essas duas palavras, mostra a intenção de serem contrastadas, pois a segunda significa, literalmente, que não fala (criança pequenina). Paulo faz então um apelo à maturidade espiritual.

Temos de nos desvincular das coisas infantis (cf. 1 Cor.13:11). O mesmo tema aparece em Hebreus (5:11-14) e em Efésios (4:13).

Nos vv. 24 e 25 Paulo realça de novo a utilidade da profecia: para a convicção de pecados, com o efeito de perscrutar, examinar, chamar a prestação de contas (o mesmo verbo que Paulo usa em 1 Cor. 2:15); portanto, tornam-se manifestos os segredos do coração, os pecados secretos conhecidos e o poder de Deus manifesta-se. A profecia leva à conversão e santificação das almas. É fogo divino. O apóstolo, longe de apagar esse fogo, se preocupa para que nunca se extingam essas chamas, nos altares sagrados. São presença e glória de Deus.

Paulo preocupa-se em educar os crentes recém-nascidos e corrigir os seus erros. Outrossim, o v. 29 mostra que podem existir incorrecções no profetizar, pelo que é pedido que se julgue, ou seja, o dom está sujeito não apenas à disciplina do auto controle, mas ao escrutínio dos profetas (dom do discernimento dos espíritos) e da igreja. Obviamente que na falta daqueles prevalece o juízo desta (da Igreja) e das Escrituras. Alguns autores entendem essa declaração no sentido que cada profeta está sujeito a si mesmo (sob o seu controle racional), mas este sentido (correctíssimo) não invalida o outro: que o espírito de cada profeta está sujeito ao espírito dos outros profetas (parte deste espírito está registado na bíblia e serve-nos de cânon). Também devemos notar que nestas questões não cabe ao Espírito ser moderador, mas Paulo apela constantemente ao bom senso dos próprios crentes e profetas como responsáveis pela moderação e ordem necessárias.

As “crianças” de coríntio acreditavam precisamente o contrário, que eram arrebatados incontrolavelmente sob o poder divino, a ponto de não exercer a razão para se controlarem. Ora, Paulo diz-nos que até mesmo sob inspiração, o espírito humano está sujeito ao controle da vontade.

Findlay diz que “até mesmo os profetas inspirados podem falar por tempo demais, precisando ser calados!”

No período que foi de 1844 a 1851 podemos constatar que prevaleceu entre os adventistas do 7º dia certa euforia mística que não só afectou a igreja, mas principalmente o crescimento da profetisa, a qual acabou por enveredar numa atitude infantil e sofrer as suas consequências. Todavia quem conhece o percurso da irmã White pode confirmar como nela operou o dom de profecia e como cresceu pouco a pouco rumo à maturidade espiritual (não que a tenha alcançado, mas que se esforçou).

Aqueles que pensam que os profetas não erram ou que tudo o que dizem é verdade absoluta, equivocam-se e acabarão ou por cair no fanatismo ou repudiar os testemunhos, enveredando num corolário indecifrável de subtilezas atrás de subtilezas, até se tornarem um produto completo: um erro vivo, com cabeças, pescoço, peito, braços, pernas e todos os orgãos internos (uma gestação à medida dos seus desvarios). Sejamos prudentes e astutos!

II Questões

Em certa ocasião, Ellen teve de pedir desculpas publicamente, por ter entendido mal o segundo mandamento, aplicando-o fanaticamente às fotografias, inclusive, dos parentes, fazendo com que muitas famílias destruíssem álbuns inteiros. Principalmente considerando que nisso esteve envolvido o seu anjo guia (ou Instrutor), que havemos de dizer?

Eis aí, alguns pormenores sobre o assunto: Tratando-se de assunto delicado, damos as citações na língua original e a sua tradução em notas de rodapé.

Em breves palavras, o que aconteceu foi que, Ellen White teve uma visão em que se via (a si mesmo) indo pelas casas do povo adventista, quarto por quarto, e respondendo ao apelo do seu Instrutor deitava a mão às fotografias, exclamando: ídolos; que essas fotografias eram pecado, e que ao possui-las, o povo ajudava Satanás. Que eram ídolos e portanto idolatria e transgressão do segundo mandamento. Mais tarde porém, arrependeu-se, até porque ela mesma (marota!) tinha fotografias com ela.

Para facilitar a releitura dos textos, enumerámo-los.

1. “During the night I was sorely distressed. A great burden rested upon me. I had been pleading with God to work in behalf of his people. My attention was called to the money which they had invested in photographs. I was taken from house to house, through the homes of our people, and as I went from room to room, my Instructor said, “Behold the idols which have accumulated!” Advent Review and Sabbath Herald, September 10, 1901, Parágrafo 1. Título do Artigo: No Other Gods Before Me.

2. “This making and exchanging of photographs is a species of Idolatry. Satan is doing all he can to eclipse heaven from our view. Let us not help him by making picture-idols. We need to reach a higher standard than these human faces suggest. The Lord says, “Thou shall have no other Gods before me.’” Messages to Young People, p. 316, parágrafo 3, Título do Capítulo: Self Gratification. A Species of Idolatry.

3. “After going from home to home, and seeing the many photographs, I was instructed to warn our people against this evil. This much we can do for God. We can put these picture- idols out of sight. They have no power for good, but interpose between God and the soul.” Messages to Young People, p. 318, parágrafos 2 e 3. Título do Capítulo: Self Gratification.

4. “Every true child of God will be sifted as wheat, and in the sifting process every cherished pleasure which diverts the mind from God must be sacrificed. In many families the mantel- shelves, stands, and tables are filled with ornaments and pictures. Albums, filled with photographs of the family and the photographs of their friends, are placed where they will attract the attention of visitors. ….Is this not a species of idolatry?” Bible Echo and Signs of the Times, January 14, 1901, parágrafo 1. Título do Artigo: No Other Gods Before Me.

5. “As I visit the homes of our people and our schools, I see that all the available space on tables, what-nots, and mantlepieces is filled up with photographs. On the right hand and on the left are seen the pictures of human faces. God desires this order of things to be changed. Were Christ on earth, He would say, “Take these things hence.” I have been instructed that these pictures are so many idols, taking up the time and thought which should sacredly devoted to God.” Messages to Young People, p. 316, parágrafo 1. Título do Capítulo: Self Gratification.

6. “We have for years been waging war with spiritual idolatry. ….. I am pained to see the photographs multiplied and hanging everywhere.” The Ellen G. White 1888 Materials, p. 887, parágrafo 3. Título do Capítulo: Diary entries. Sucede que a própria Ellen White possuía fotografias.

7. “I do not think I shall ever get a picture to equal the one Dunham has made for me. He says I had better have the large one put on a small card. What do you think of this plan?” – Letter 17, 1876, p. 2 (To James White, April 30, 1876)

8. “Dunham gave me one dozen of these pictures of yours. Shall I send them to you? What do you think of them? I told him I did not like them. They did not look natural, but you can use them. If so let me know.” – Letter 21, 1876, p. 2 (To James White, May 5, 1876)

Reconhecendo o erro gravíssimo em que havia incorrido, já havia escrito o seguinte, em 1867, mostrando arrependimento e retratação:

9. “We acknowledge our error. We deeply regret that we ever consented to sit for our pictures. For years I would not consent to have our pictures taken, although solicited to do so. How many times I have wished we had remained steadfast. But all we can do now is to confess our wrong and ask God to forgive us, and entreat the forgiveness of our brethren and sisters.” Advent Review and Sabbath Herald, March 26, 1867, paragraph 2. Article Title: An Acknowledgment.

Note como Ellen envolve os outros, pelo que parece deveras ter-se gerado entre o povo alguma confusão sobre esse tema e Ellen havia tomado partido nesse ponto de vista mais extremista. Note ainda como esse fanatismo levou Ellen ao abuso do dom de profecia, descontrolando-se. Volte a ler os textos. Sucedeu-lhe algo semelhante ao que passou com os coríntios, repetindo-se a mesma cena que aconteceu no período de 1844 a 1851, quando Ellen ainda estava na mamadeira espiritual e não havia crescido rumo à maturidade, adoptando os erros daquela época, nomeadamente o da “porta fechada”, mostrando com isso, que ainda não exercia um controle do dom que lhe havia sido dado (esses escritos foram depois depurados, suprimindo tudo o que pareceu inadequado à Igreja; é preciso reconhecer essa capacidade da Igreja, quer dizer, a de exercer escrutínio sobre as palavras dos profetas).

O leitor deve ter bem presente, na sua mente, as palavras de repreensão que Paulo dirigiu aos coríntios, para poder enquadrar aquilo que aqui dizemos. Para utilidade dos irmãos mais carentes, inserimos na primeira parte, um breve adminículo sobre esse tema, o qual pertence ao nosso livro (em preparação) titulado “Ellen G. White: os sonhos, as visões e os primeiros escritos (1844-1851). Leia-o outra vez, antes de avançar.

Pelos vistos, alguns ainda permaneceram nesse fanatismo, e Ellen voltou a escrever:

10. “In place of the true test of loyalty, the Church members had manufactured tests of their own on dress and photographic pictures. Interpreting the second commandment to apply even to photographs. Some had burned pictures of their friends”. Thus a spirit of criticism, fault-finding, and dissension had come in, which had been a great injury to the church. And the impression was given to unbelievers that Sabbath-keeping Adventists were a set of fanatics and extremists, and that their peculiar faith rendered them unkind, uncourteous, and really unchristian in character.” Historical Sketches, p. 211 Ellen G. White in Europe 1885-1887, p. 119, parágrafo 2. Problems in the Christiania Church.

E o tema complica-se quando continuamos a ler sobre o assunto. Mas não descuide a leitura, e volte a ler o texto 10. Ainda aqui, Ellen pecou por omissão da sua pessoa, e refere-se apenas aos outros, deixando a si mesmo de fora. Enfim, humana como cada um de nós! O anormal seria ser impecável em tudo (Santos? Só de pedra!).

11. “If you have your father’s pictures, please bring them. I want to show them. My pocket album I left at Healdsburg.” – Letter 15, 1882, p. 1. (To W. C. White, May 23, 1882).

12. “Lathrop is as pleased a man as you ever saw with the pictures, especially of you. He says that she will sell you the negative for five hundred dollars. Beside what we take, it will bring him that much custom. He thinks Ingleson’s a flat affair. He [Lathrop] has your picture in the window for show.” Letter 1a, 1876, p.1. (To James White, March 24, 1876).

Que dizer daquelas declarações em que Ellen manifesta um preconceito (atenuado), de que não devem haver casamentos entre brancos e negros?

Uma hermenêutica cuidada levar-nos-á à conclusão de que esse era um assunto situacional. Ellen refere como, uma e outra vez era abordada sobre essa questão. Quem conheça um pouco da História da América, naqueles tempos, entenderá que Ellen tomou uma atitude própria da época. Esse foi um conselho do dom de profecia para aquele momento; uma advertência situacional. Como diz certa nota: uma questão de conveniência ou inconveniência proveniente de circunstâncias e condições que podiam resultar em ” conflito, confusão e amargura”. Que bom teria sido se o autor da nota (Mensagens Escolhidas, vol. 3, p. 343) tivesse dito algo mais preciso, inclusive no apêndice que lhe dedica; mas prefere insistir num certo tipo de racismo (ainda que diga que não!).

Essas mensagens foram escritas num tempo especial, tal como o que da escravatura se diz no NT. Devem ser ultrapassados todos os preconceitos, porque em Cristo não pode haver acepções de homens.

Há que considerar ainda, outros textos sobre o assunto, que não constam dos livros traduzidos para o português, e que são manifestamente racistas, entrando em conflito com outras mensagens que Ellen depois escreveria, e que revelam maior luz sobre o tema. Leia atentamente:

13. “The Colored People should not urge that they be placed on an equality with White People.” (Testimonies Vol. 9, p. 214, Parágrafo 3).

14. “No one is capable of clearly defining the proper position of the colored people.” (Testimonies Vol. 9, p. 213 parágrafo 4).

15. “The work of proclaiming the truth for this time is not to be hindered by an effort to adjust the position of the Negro race.” (Testimonies Vol. 9, p. 214, parágrafo 4).

Bastavam estes textos para pôr em evidência a presbiopia de quem escreveu o apêndice 2 a que fizemos referência. Mas, considere-se ainda:

16. “We cannot expect that they … [Colored People] will be as firm and clear in their ideas of morality.” (Testimonies Vol. 9, p. 223 parágrafo 3).

Por quê não se fez qualquer alusão a estes textos? Ou, para sermos mais incisos, por quê não se traduziram para o português todos os testemunhos, mensagens, livros? Aqueles que apenas podem ler o português, lamentavelmente, conhecem muito pouco, mesmo considerando que já tenham lido os cerca de 51 livros publicados.

Os irmãos SnooK e Brikerhoff, ordenados por James White para o ministério em 1862, não conseguiram ler nas entrelinhas essas tendências racistas da época, e acabaram por abandonar o movimento. Em 1866 publicaram um livro, onde entre outras coisas referem que o ancião Ingraham ouviu da boca de James White, que Ellen lhe tinha dito que Deus nunca tinha feito os negros.

Ora, quem conhecer os meandros do Espírito de Profecia, entenderá que esse era um ponto de vista mesquinho, que depois foi ultrapassado, e que se fundamentava numa interpretação incorrecta de algo que Ellen tinha visto (cf. infra).

Sinceramente, não compreendemos aqueles irmãos que rejeitam o todo, em função de algumas partes; principalmente considerando que o modelo bíblico estabelece que todo o conhecimento espiritual é limitado, parcial, fragmentado e imperfeito (cf. 1ª Cor. 13: 9-12), não promovendo jamais posturas radicais ou pretensões gnósticas, mas insistindo, uma e outra vez, no carácter provisório e temporal dos dons (idem, 13: 8), na necessidade de submeter ao escrutínio da Igreja o que os profetas dizem (idem, 14: 29-32), com uma tarefa mais formativa do que informativa; jamais para fazer teologia (isso é obra dos teólogos), mas essencialmente como um propósito devocional e pastoral.

Temos diante de nós, os volumes titulados Spiritual Gifts. No vol. 3, Ellen White escreveu o seguinte:

17. “But if there was one sin above another which called for the destruction of the race by the flood, it was the base crime of amalgamation of man and beast which defaced the image of God, and caused confusion everywhere.” -Spiritual Gifts, Vol. 3, p. 64, 1864.

18. “Every species of animal which God had created, were preserved in the ark. The confused species which God did not create, which were the result of amalgamation, were destroyed by the flood. Since the flood there has been amalgamation of man and beast, as may be seen in the endless varieties of species of animals and certain races of men.”- Spiritual Gifts, Vol. 3, p.75, 1884.

O texto não diz que essas raças sejam os negros, mas esse foi certamente o entendimento daquela época. Todavia Urias Smith, no seu livrito “The Visions Of Mrs. E. G. White…” confirma uma interpretação semelhante:

“The visions teach, says the objector, that the negro race is not human. We deny it. They do not so teach. Mark the language: ” Since the flood there has been amalgamation of man and beast, as may be seen in the almost endless varieties of species of animals, and in certain races of men.” This view was given for the purpose of illustrating the deep corruption and crime into which the race fell, even within a few years after the flood that signal manifestation of God’s wrath against human wickedness. There was amalgamation; and the effect is still visible in certain races of men.” Mark, those excepting the animals upon whom the effects of this work are visible, are called by the vision, “men.” Now we have ever supposed that anybody that was called a man, was considered a human being.

The vision speaks of all these classes as races of men; yet in the face of this plain declaration, they foolishly assert that the visions teach that some men are not human beings! But does any one deny the general statement contained in the extract given above? They do not. If they did, they could easily be silenced by a reference to such cases as the wild Bushmen of Africa, some tribes of the Hottentots, and perhaps the Digger Indians of our own country, etc. Moreover, naturalists affirm that the line of demarkation between the human and animal races is lost in confusion. It is impossible, as they affirm, to tell just where the human ends and the animal begins. Can we suppose that this was so ordained of God in the beginning? Rather has not sin marred the boundaries of these two kingdoms? But, says the objector, Paul says that ” God hath made of one blood all nations of men for to dwell on all the face of the earth,” and then they add, ” Which shall we believe, Paul or E. G. White ?”

You need not disbelieve E. G. White, in order to believe Paul; for there is no contradiction between them. Paul’s language will apply to all classes of men who have any of the original Adamic blood in their veins; and that there are any who have not this, is not taught by the visions, nor claimed by any one. But for this text to weigh anything in favor of the objector, he must take the ground that God made every particle of blood that exists, in any human being. Is this so? Then God made all the scrofulous, leprous, or syphilitic blood that courses in the worst transgressor’s veins! From any view which leads, to such a blasphemous conclusion, we prefer to be excused.

But what has the ancient sin of amalgamation to do with any race or people at the present time? Are they in any way responsible, or to be held accountable for it ? Not at all. Has any one a right to try to use it to their prejudice? By no means. The fact is mentioned simply to show how soon men relapsed into wickedness, and to what a degree. But we are to take all races and peoples as we find them. And those who manifest sufficient powers of mind to show that they are moral and accountable beings, are of course to be esteemed as objects of regard and philanthropic effort. We are bound to labor, so far as in our power, for the improvement of their mental, moral and physical condition.

Whatever race of men we may take, Bushmen, Hottentots, Patagonians, or any class of people, however low they may apparently be in the scale of humanity, their mental capabilities are in every instance the basis on which we are to work, and by which we determine whether they are subjects of moral government or not. Then what about all this ado over the charge, which is itself false, that the visions teach that the negro is not a human being? What does it amount to? It is simply an effort to create prejudice in the minds of the people, unworthy any one who makes any pretensions to being a Christian, or even a gentleman.” – Uriah Smith, The Visions of Mrs. E. G. White, A Manifestation of Spiritual gifts According to the Scripture, pp.102-105, 1868.

Smith pensava que a união entre seres humanos e bestas havia criado raças como as dos “bosquímanos da África, algumas tribos de hotentotes, e talvez os indios digger, etc.

James White leu o livro e recomenda pertinentemente a sua leitura, escrevendo estas palavras, na edição de 25, Agosto, 1868, da Review and Herald:

“The Association has just published a pamphlet entitled, ‘The Visions of Mrs. E. G. White, A Manifestation of Spiritual gifts According to the Scripture.’ It is written by the editor of the Review. While reading the manuscript, I felt very grateful to God that our people could have this able defense of those views they so much love and prize which others despise and oppose. This book is designed for very wide circulation. James White.”

Contudo, esses textos seriam posteriormente suprimidos. E quem o fez foi a mesmíssima irmã White. O seu filho, Willie C. White escreve:

“Regarding the two paragraphs which are to be found in Spiritual Gifts and also in the Spirit of Prophecy regarding amalgamation and the reason they were left out of the later books, and the question as to who took the responsibility of leaving them out, I can speak with perfect clearness and assurance. They were left out by Ellen G. White. No one connected with her work had any authority over such a question, and I never heard of anyone offering to her counsel regarding this matter. In all questions of this kind, you may set it down as a certainty that Sister White was responsible for leaving out or adding to matters of this sort in the later editions of our books.” – Selected Messages, Book 3, p. 452.

Ainda que não se entenda muito bem esta atitude, certamente que a irmã Ellen havia crescido o suficiente para ultrapassar os erros do passado; senão (se não foi erro) teremos de a culpabilizar de manipulação da verdade que lhe foi revelada para transmitir ao povo, uma vez que o fez sem o consentimento da Igreja (a julgar pelas palavras de Willie). Willie diz que nunca se apercebeu que a mãe o tenha feito por conselho de outrem.

Estes textos devem entender-se como equívocos do entendimento por parte da profetisa, daquilo que viu. Aqueles que insistem em dar importância a esses quiproquós, devem em primeiro lugar, explicar-nos (e muito bem explicado) porque é que Ellen os suprimiu (leia de novo).

Eis aí uma profetisa com todas as limitações humanas de um pecador, sujeita ao erro, aos absurdos, às ideias mais descabeladas e ridículas. O que é absolutamente normal. Por outro lado, seria uma completa aberração da natureza, que ela fosse uma imaculada, como pretendem certos circuitos de fanáticos fanatizados até ao tutano e com pretensões esquisitas de pureza (não nos referimos aos críticos!). Além do mais, devemos esclarecer que nunca ela reclamou tal coisa (e muito menos, infalibilidade), o que só reverte a seu favor, uma vez que revela que tinha certa consciência de que o seu dom de profecia estava sujeito ao escrutínio pela Igreja e pelas Escrituras, como claramente Paulo o ordenou (1ª Cor. 14:26-40).

E contudo dizia, e muito bem, que a sua mensagem procedia do além, de Deus, mas isso (como outras expressões mais fortes que utiliza) não implica inerrância ou qualquer tipo de infalibilidade. Ela até parafraseou o texto de Hebreus 1: 1 e 2: “Em tempos antigos Deus falava aos homens por boca dos profetas e apóstolos. Hoje em dia lhes fala pelos Testemunhos de Seu Espírito. Jamais houve tempo em que Deus instruísse Seu povo mais fervorosamente do que os instrui hoje, acerca de Sua vontade e do procedimento que Ele deseja que sigam. Mas aproveitarão eles os Seus ensinos? Receberão as Suas repreensões e acatarão as Suas advertências? Deus não aceitará obediência parcial; não abonará nenhuma contemporização com o próprio eu.” (TS, vol. 1, p. 488).

Também aqui os críticos perdem a razão, por não entenderem a mensagem central deste texto, pelo que realçam estas palavras: “Jamais houve tempo em que Deus instruísse Seu Povo…”; como aliás, o fazem certos fanáticos do Espírito de Profecia, puritanos hipócritas e acusadores dos seus irmãos. O que Ellen fez foi uma paráfrase de Hebreus c. 1 e vv. 1 e 2, para impor a sua mensagem, a urgência de conversão, e fê-lo exagerando a linguagem. Não há no texto qualquer intenção de apresentar os Testemunhos como a maior e mais completa das revelações, quando ela própria falava da sua obra como “luz menor”. Só uma hermenêutica tacanha, esquisita e acrítica do texto (fora do contexto geral), permite inferir essa conclusão estapafúrdia.

Outro tema onde é bem notório a pecaminosidade da nossa irmã é o das comidas e bebidas, podendo até admitir que se comportou como uma verdadeira hipócrita, pois dizia uma coisa e fazia outra (quem tem ouvidos para ouvir, ouça!). Mas vamos rejeitar o Espírito de Profecia por causa disso? Digam-me onde vive um santo sem pecados, para que eu o possa ir visitar, e aprender o truque.

A irmã Ellen escreveu em 1869:

“I have not changed my course a particle since I adopted the health reform. I have not taken one step back since the light from heaven upon this subject first shone upon my pathway. I broke away from everything at once, from meat and butter, and from three meals. ….I left off those things from principle. I took my stand on health reform from principle.” Testimonies, Vol. 2, pp. 371-372. Grave esta data: 1869.

Continue a ler.

Apesar de dizer isso, a irmã White, em 1873, quer dizer, quatro anos depois, comeu veado e carne de pato:

“A young man from Nova Scotia had come in from hunting. He had a quarter of deer. He had traveled 20 miles with this deer upon his back. … He gave us a small piece of the meat, which we made into broth. Willie shot a duck which came in a time of need, for our supplies were rapidly diminishing. — Manuscript 11, 1873. Released by the Ellen G. White Estate Washington, D.C. 11, Abril,1985 (MR 14, p. 353).

Em 1880 ela escreveu esta carta à sua irmã Elizabeth: “Thursday morning we arose from our births refreshed with sleep. At eight o’clock we took a portion of the pressed chicken food liberally furnished us by the matron of the sanitarium, put the same in a two-quart pail, and placed it on the stove, and thus we had good hot chicken broth and enjoyed our breakfast. The morning was very cold and this hot dish was very palatable.” (Letter 6a, 1880).

O que é que Ellen White comeu? Leia mais uma vez.

Galinha! Galinha! E o que é que ela disse? Gostou? Sentiu prazer? O que é que ela tinha escrito em 1869? Leia outra vez (acima). E o Dr. Kellog, numa carta a Ballenger diz que sempre que ela comia no Sanatório, pedia galinha.

Agora, em 1882, encontramos estas palavras, numa carta que Ellen escreveu à sua nora Mary Kelsey White, confessando a sua predilecção ou inclinação pelo arenque e ostras (alimento impuro!), pedindo à nora que fosse às compras:

“Mary, if you can get me a good box of herrings – fresh ones – please do so. These last ones that Willie got are bitter and old. If you can buy cans, say (a) half dozen cans of good tomatoes, please do so. We shall need them. If you can get a few cans of good oysters, get them.” (Letter 16, 1882, dated May 31, 1882, from Healdsburg, Calif).

Até ostras comia! Era uma pecadora a sério! (como qualquer um de nós).

Quanto à manteiga, também sucede a mesmíssima situação. Vejamos atentamente.

Em 1870 escreve:

“No butter or flesh-meats of any kind come on my table”. Testimonies, Vol. 2, p. 487.

Em 1874, numa carta que escreveu ao seu filho Willie, diz:

“Your father and I have dropped milk, cream, butter, sugar, and meat entirely since we came to California”. (Manuscript Releases, vol. 14, p. 322).

“Entirely”, quer dizer, por completo (totalmente).

Agora lemos isto que escreveu em 1895:

“We purchase butter for cooking purposes from dairies where the cows are in healthy condition, and have good pasture”. (Counsels on Diet and Foods p. 488).

O presidente da CG, Daniels, refere que comeu quilos de manteiga em sua casa. Note como ela não assumiu uma posição fanática, como certos puritanos que nem sequer manducam ovos, queijo, leite, etc.; o que é um direito de escolha que lhes assiste (e que eu respeito), mas de modo nenhum uma imposição para os outros, e muito menos um motivo para certa doutrina de demónios (de mil demónios!) propalada por mentalidades patológicas, que asseguram que não serão salvos aqueles que se alimentam de carnes limpas. São filhos de Satanás e não o sabem (1ª Tim. 4: 1 ss.). Desculpem, mas temos de ser duros nestes assuntos (que diria Paulo?).

Uma coisa é considerar a sabedoria da reforma pro- saúde, outra a de aderir, e outra a de acusar os que não aderem totalmente. Nunca a Igreja adventista obrigou um ministro, sequer, a ser vegetariano, apesar de certas passagens do Espírito de profecia (escritas pela autora em certos momentos de maior zelo, euforia) advogarem uma imposição do estilo (e.g.: Let not any of our ministers set an evil example in the eating of flesh-meat. Let them and their families live up to the light of health reform. Let not our ministers animalize their own nature and the nature of their children. Spalding and Magan, p. 211).

A razão é muito simples: a Igreja tem autoridade para exercer o escrutínio ao dom de profecia à luz da Palavra de Deus. E o que diz a Bíblia? A atitude da ecclesia é moderada e sábia (ninguém será salvo pelas obras da lei): todos estão obrigados à abstinência das carnes imundas, mas ser ou não ser vegetariano, isso é algo que depende inteiramente de cada um; ainda, que aquele que é vegetariano jamais use isso como motivo para pecar, acusando o seu irmão que não come legumes, considerando-se mais santo e outras tolices diabólicas do género. Os tais, comam como fez Ellen, um franguinho, um bocado de veado, ou até umas ostras, em vez de acusarem os irmãos e se empanturrarem com pasteis, salsichas fictícias e sentimentos de culpa que corroem o espírito e geram stress, magoando seriamente a saúde. Mas se insistem em ser fieis observadores de todas as tolices e exageros em que incorreu a irmã Ellen, então, vistam-se segundo a reforma do vestido, não ingiram medicamentos (nem os vendam!) como Ellen escreveu, nem andem de bicicleta, nem… Alguns destes assuntos são tratados abaixo.

A única atitude sábia é ser moderado e temperante, não enveredando por extremismos ou fanatismos.

Como se acabou de ler, a nossa irmã teve os seus deslizes (e que deslizes!), cometeu os seus pecados (e que pecados!), foi marota quando dizia uma coisa e fazia outra (quer dizer, hipócrita ). Por quê? Vamos deixar Paulo responder: “O que faço não o entendo. Pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum. Com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.” (Rom. 7:15-19).

Como é lindo o evangelho! E outra vez:

“Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rom. 8:1). Livres que nem passarinhos, fora da gaiola!

E ainda:

“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda injustiça” (1ª Jo. 1:9). Mas principalmente:

“Se dissermos que não temos pecado nenhum, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós” (1ª Jo. 1:8). Quer dizer, somos um poço de mentira, uma cisterna rota. Magister dixit, causa finita!

Ainda que custe reconhecer: “Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer (Rom. 3: 10). Ouviram bem? Nem um sequer, nem um sequer, nem um sequer… Vamos repetir outra vez: nem um sequer, nem um sequer, nem um sequer. Hoje, antes de se deitar, memorize essa frase e repita-a até entrar em extasie. E depois, o Christ eleison (Senhor tem piedade de mim, pecador). Compreendido? Nem um sequer, nem um sequer, nem um sequer…

E pecados não faltam na vida da nossa irmã (como em cada um de nós)! Outro exemplo, o do vinagre. Eis aí a sua confissão sobre o seu vício pelo vinagre, mas também a luta desesperada e a alegria de vencer o “pecado” com a ajuda de Deus, mesmo apesar de ser já no fim da sua vida:

“I had indulged the desire for vinegar. But I resolved with the help of God to overcome this appetite. I fought the temptation, determined not to be mastered by this habit. For weeks I was very sick; but I kept saying over and over, The Lord knows all about it. If I die, I die; but I will not yield to this desire. The struggle continued, and I was sorely afflicted for many weeks. All thought that it was impossible for me to live. You may be sure we sought the Lord very earnestly. The most fervent prayers were offered for my recovery. I continued to resist the desire for vinegar, and at last I conquered. Now I have no inclination to taste anything of the kind. This experience has been of great value to me in many ways. I obtained a complete victory.” Ellen G. White, letter 70, 1911, reproduced in Counsels on Diet and Foods, p. 485. O realçe é nosso, para sublinhar até que ponto estava viciada: Se eu morrer, morro.

Note a data da carta, 1911. Não vale a pena que nos pronunciemos sobre o vinagre daquela época, que era uma autêntica “bomba alcoólica”.

A gravidade do tema foi-se alargando à medida que o estudávamos. Ellen, em 1887, tinha escrito:

“As saladas são preparadas com óleo e vinagre, há fermentação no estômago, e a comida não é digerida, mas decompõe-se ou apodrece; em consequência, o sangue não é nutrido, mas fica cheio de impurezas, e surgem perturbações hepáticas e renais.” (Carta 9, 1887, Conselhos sobre o Regime Alimentar, p. 345).

Por quê cito aqui o texto em português? Ora, sucede que ao ler, virei a folha, e nada, nada de nada. Como conheço o original em inglês, levantei-me da secretária e alcancei o Spirit of Prophecy Library. Abri e confirmei o que temia, ou seja, que esses fariseus hipócritas, que celebram culto todos os sábados (a quem servir a carapuça que a encaixe, e bem funda, cobrindo o pescoço e tudo), os tais estrafalários e pomposos “rabinos”, manipularam o texto, pegaram na tesoura e… zás! Com uma precisão de alfaiate cortaram o que não interessa conhecer. Julgue o leitor se esta atitude é de homem ou de besta, vigarista, falsificador.

Desde então, não leio nada sem confirmar o texto em inglês. Mas, mesmo nos livros em inglês sucedem algumas supressões e manipulações, pelo que devemos ir aos textos mais antigos, não desconsiderando que algumas foram feitas pela irmã White. O que não podemos reconhecer é autoridade a outrem para o fazer sub-repticiamente. Nós até admitimos que a Igreja o faça, porque no fundo está a aplicar o conselho Paulino (um dever), de ler e reter o bem, ou dito de outra maneira, exercendo o seu direito de escrutínio à luz da Bíblia; mas que informem os membros acerca disso, e que em qualquer caso, disponham as anteriores versões para que se possa fazer pesquisa séria. Mas não foi isso que aconteceu.

Fizeram o mesmo quando da transformação doutrinária sobre a natureza de Cristo e a doutrina da expiação, não informando a ecclesia sobre as novas posturas adoptadas em substituição das anteriores (desde quando a igreja não é um só corpo?). Neste caso particular, tiveram até o desplante de fazer a vida negra a um dos grandes homens que a Igreja teve, o qual levantou a voz para gritar: apostasia!

Quantos irmãos no seio da Igreja conhecem as Sete Cartas à Igreja, do Pastor Andreasen, alertando para a “traição” que se cometeu à revelia do povo? Lamentável, triste, de bradar aos céus! Entretanto, o livro Questions on Doctrine continua na mó de cima… propagando uma versão falsificada dessas duas doutrinas fundamentais do adventismo (também, Os Adventistas do Sétimo Dia Crêem…). Mas voltemos ao nosso tema. Esse outro assunto será objecto de texto aparte.

Eis o Ellen realmente escreveu em inglês:

“The salads are prepared with oil and vinegar, fermentation takes place in the stomach, and the food does not digest, but decays or putrefies. As a consequence the blood is not nourished, but becomes filled with impurities, and liver and kidney difficulty appear. Heart disturbances, inflammation, and many evils are the result of such kind of treatment, and not only are the bodies affected, but the morals, the religious life, are affected.” Letter 9, 1887, Manuscript Releases vol. 2, p. 143-144.

Note bem: e não apenas os corpos são afectados, mas a moralidade, a vida religiosa, são afectadas. Por quê esconderam isto? Pense um bocadinho: se o vinagre afecta a moralidade e a religiosidade, se o vinagre da época era uma bomba alcoólica; e sendo ela uma viciada, então… Pois, pois… Adiante!

Antes de prosseguir com o tema relacionado com a “carne de porco”, vamos ler o que escreveu em 1850 o pastor James White: “Some of our good brethren have added “swine’s flesh” to the catalogue of things forbidden by the Holy Ghost, and the apostles and elders assembled at Jerusalem. But we feel called upon to protest against such a course, as being contrary to the plain teaching of the holy scriptures. Shall we lay a greater “burden” on the disciples than seemed good to the Holy Ghost, and the holy apostles of our Lord Jesus Christ? God forbid. Their decision, being right, settled the question with them, and was a cause of rejoicing among the churches, and it should forever settle the question with us.” –The Present Truth Vol. I., Nov., 1850. – No. 11, “Swine’s Flesh”.

O que escreveu James White? Quando James White disse “nós nos sentimos chamados a protestar contra esta decisão,” o “nós” ao que se referia incluia a sua esposa Ellen White.

De facto, sucedeu que o irmão e a irmã Curtis estavam convencidos que era errado comer carne de porco, e o manifestaram aos White. O que é que a irmã White lhes disse?

“If God requires His people to abstain from swine’s flesh, He will convict them on the matter. He is just as willing to show His honest children their duty, as to show their duty to individuals upon whom He has not laid the burden of His work. If it is the duty of the church to abstain from swine’s flesh, God will discover it to more than two or three. He will teach His church their duty”. Testimonies Vol. 1, p. 206.

Considere o que disse Urias Smith:

“To your query concerning the lawfulness of eating pork, we have not time nor space to give an extended reply. We will only refer to one declaration of Paul’s, which in our opinion is sufficient, so far as the Bible is concerned, to demolish completely all distinction which people may endeavor to raise between meats. (I Tim. 4.) He speaks of some commanding to abstain from meats, etc., and then says, “For every creature of God is good, and nothing to be refused if it be received with thanksgiving.” — Review, Vol. xiii, No. 3.

Mais tarde, Ellen leu certas ideias da época e escreveu:

“God did not prohibit the Hebrews from eating swine’s flesh merely to show his authority, but because it was not a proper article of food for man. It would fill the system with scrofula, and especially in that warm climate produce leprosy and disease of various kinds.” (Healthful Living, p.183).

“The eating of pork has produced scrofula, leprosy, and cancerous humors.” Review and Herald, June 20, 1899.

É bem sabido que os porcos não são hospedeiros do Mycobacterium leprae (causa da lepra).

Deixamos por citar certa carta que circula por aí, por não existir nenhum estudo sério que demonstre a sua credibilidade, e lamentamos que muitos críticos a usem como prova. Esse não é trabalho sério. Alguns a citam sem qualquer palavra de advertência.

Damos a seguir umas quantas citações, a maioria das quais foram depois suprimidas pelo escrutínio da igreja. O leitor pode apreciar o fanatismo em que incorreu a nossa irmã White, pecando por excesso de zelo e abuso do dom de profecia. Mas, como já se disse e repetiu, estas coisas são possíveis de suceder no exercício do dom, cabendo à Igreja o dever de julgar a sua conveniência ou credibilidade, o que, naturalmente, não faz por mero juízo humano, mas através da Bíblia.

“It is a sin to be sick; for all sickness is the result of transgression.” Health Reformer, Aug. 1, 1866.

“We cannot, if we would, conceal the fact that women have feet and limbs that were made for use. But in regard to the exposure, this is on the other side of the question. We have traveled extensively the past twenty-five years, and have been eye-witnesses to many indecent exposures of the limbs. But the most common exposure is seen upon the streets in light snow, or wet and mud. Both hands are required to elevate the dress, that it may clear the wet and filth. It is a common thing to see the dress raised one-half of a yard, exposing an almost unclad ankle to the sight of gentlemen, but no one seems to blush at this immodest exposure. No one’s sensitive modesty seems shocked for the reason that this is customary. It is fashion, and for this reason it is endured. No outcry of immodesty is heard, although it is so in the fullest. sense.”The Health Reformer, May 1, 1872, parágrafo 18.

“AT THE HOTEL ‘DIEU,’ THE GREAT HOSPITAL AT PARIS, A YOUNG GIRL OF EIGHTEEN LATELY PRESENTED HERSELF TO BRESCHET FOR HIS ADVICE. ON THE RIGHT SIDE OF HER THROAT, SHE HAD A TUMOR OF VARIABLE SIZE, BUT NEVER LARGER THAN ONE’S FIST. IT REACHED FROM THE COLLAR-BONE AS HIGH AS THE THYROID CARTILAGE. WHEN PRESSED DOWNWARD, IT WHOLLY DISAPPEARED; BUT AS SOON AS THE PRESSURE WAS REMOVED, IT WAS INDOLENT, SOFT, AND ELASTIC. IT WAS OBSERVED TO BE LARGEST WHEN THE CHEST WAS TIGHTLY LACED WITH CORSETS. IN SHORT, BY PLACING THE EAR ON IT, THE MURMUR OF RESPIRATION COULD BE HEARD IN THE TUMOR , WHICH PROVES THAT A PROTRUSION OF THE LUNGS HAD TAKEN PLACE, OR, IN OTHER WORDS, THAT THE POOR GIRL HAD BEEN LACED SO TIGHTLY THAT HER LUNGS, HAVING NO LONGER SUFFICIENT SPACE IN THEIR NATURAL POSITION, WERE SQUEEZED OUT OF IT, AND WERE FORCING THEIR WAY UP ALONG THE NECK.” The Health Reformer, December 1, 1871, parágrafo 17.

“In consequence of the brain being congested its nerves lose their healthy action, and take on morbid conditions, making it almost impossible to arouse the moral sensibilities. Such lose their power to discern sacred things. The unnatural heat caused by these artificial deformities about the head, induces the blood to the brain, producing congestion, and causing the natural hair to fall off, producing baldness. Thus the natural is sacrificed to the artificial. The Health Reformer, October 1, 1871, parágrafo 10.

“Many have lost their reason, and become hopelessly insane, by following this deforming fashion. Yet the slaves to fashion will continue to thus dress their heads, and suffer horrible disease and premature death, rather than be out of fashion.” The Health Reformer, October 1, 1871, parágrafo 11. “A stranger performs the duties of the mother and gives from her breast the food to sustain life. Nor is this all. She also imparts her temper and her temperament to the nursing child. The child’s life is linked to hers. If the hireling is a coarse type of woman, passionate, and unreasonable; if she is not careful in her morals, the nursling will be, in all probability, of the same, or a similar type. The same coarse quality of blood, coursing in the veins of the hireling nurse, is in that of the child.” The Health Reformer, September 1, 1871, parágrafo 7.

“I have been instructed that the X-ray is not the great blessing that some suppose it to be. If used unwisely it may do much harm. The results of some of the electrical treatments are similar to the results of using stimulants. There is a weakness that follows.” Testimonies and Experiences Connected With The Loma Linda Sanitarium and, page 19, parágrafo 4.

Note os seguintes textos e compare com o anterior:

“X-ray Treatment at Loma Linda.–For several weeks I took treatment with the X-ray for the black spot that was on my forehead. In all I took twenty-three treatments, and these succeeded in entirely removing the mark. For this I am very grateful”.–Letter 30, 1911 (To her son J. E. White). Selected Messages Book 2, page 303, parágrafo 4.

“WHEN THE DOCTOR CAME, HE SAID THAT IT WAS EITHER A BAD SPRAIN OR A FRACTURE, AND ADVISED AN X-RAY EXAMINATION AT THE SANITARIUM. THIS EXAMINATION SHOWED AN “INTRACAPSULAR FRACTURE OF THE LEFT FEMUR AT THE JUNCTION OF THE HEAD AND NECK.” Advent Review and Sabbath Herald, March 11, 1915,Título do artigo: A Letter From Elder W. C. White parágrafo 6.

“If any among us are sick, let us not dishonor God by applying to earthly physicians, but apply to the God of Israel. If we follow his directions (James 5:14, 15) the sick will be healed. God’s promise cannot fail. Have faith in God, and trust wholly in him, that when Christ who is our life shall appear we may appear with him in glory.” To Those who are receiving the seal of the living God, January 31, 1849, parágrafo 13.

“I have written to you the instruction that has been given me regarding the special work to be done by the lady physicians in our sanitariums. It is the Lord’s plan that men shall be trained to treat men, and the women trained to treat women. In the confinement of women, midwives should take the responsibility of the case. In the Bible times was not considered a proper thing for men to act in this capacity; and it is not the will of God that men should do this work today. Very much evil has resulted from the practice of men treating women, and women treating men. It is a practice according to human devising, and not according to God’s plan. Long has the evil been left to grow, but now we lift our voice in protest against that which is displeasing to God.” Loma Linda Messages, page 574, parágrafo 6. (Signed) Ellen G. White.

“Females possess less vital force than the other sex, and are deprived very much of the bracing, invigorating air, by their in-doors life. The results of self-abuse in them is seen in various diseases, such as catarrh, dropsy, headache, loss of memory and sight, great weakness in the back and loins, affections of the spine, the head often decays inwardly. Cancerous humor, which would lay dormant in the system their life-time, is inflamed, and commences its eating, destructive work. The mind is often utterly ruined, and insanity takes place.” An Appeal to Mothers, page 27, parágrafo 1.

“More deaths have been caused by drug-taking than from all other causes combined. If there was in the land one physician in the place of thousands, a vast amount of premature mortality would be prevented. Multitudes of physicians, and multitudes of drugs, have cursed the inhabitants of the earth, and have carried thousands and tens of thousands to untimely graves”. Selected Messages Book 2, page 450, parágrafo 2.

“Many are ignorantly injuring their health and endangering their life by using cosmetics. They are robbing the cheeks of the glow of health, and then to supply the deficiency use cosmetics. When they become heated in the dance the poison is absorbed by the pores of the skin, and is thrown into the blood. Many lives have been sacrificed by this means alone.” Health Reformer. Second Advent Review and Sabbath Herald, October 17, 1871, parágrafo 16.

Note as seguintes declarações sobre o modo de orar.

“I have received letters questioning me in regard to the proper attitude to be taken by a person offering prayer to the Sovereign of the universe. Where have our brethren obtained the idea that they should stand upon their feet when praying to God? One who has been educated for about five years in Battle Creek was asked to lead in prayer before Sister White should speak to the people. But as I beheld him standing upright upon his feet while his lips were about to open in prayer to God, my soul was stirred within me to give him an open rebuke. Calling him by name, I said, “Get down upon your knees.” This is the proper position always. (Selected Messages, Vol. 2, p. 311)

“We must pray constantly, with a humble mind and a meek and lowly spirit. We need not wait for an opportunity to kneel before God. We can pray and talk with the Lord wherever we may be. (Selected Messages, Vol. 3, p. 266)

“It is not always necessary to bow upon your knees in order to pray. Cultivate the habit of talking with the Saviour when you are alone, when you are walking, and when you are busy with your daily labor. (The Ministry of Healing, pp. 510, 511)

O ancião Robinson, que foi secretário de Ellen desde 1902 a 1915, diz:

“I HAVE BEEN PRESENT REPEATEDLY AT CAMP MEETINGS AND GENERAL CONFERENCE SESSIONS IN WHICH SISTER WHITE HERSELF HAS OFFERED PRAYER WITH THE CONGREGATION STANDING, AND SHE HERSELF STANDING.” — D. E. Robinson letter, March 4, 1934.

Como conclusão, volte a ler a introdução.

Muito mais se poderia citar, mas para bons entendedores meia palavra basta. Esperamos que daqui para a frente todos sejamos capazes de ler honestamente o Espírito de Profecia e reter o que é actual e bom, evitando cair nos extremismos insensatos e extravagantes em que vivem muitos. Oxalá que despertem! E não esqueça: volte a ler a introdução.

Fonte: http://www.adventistas.com/dezembro2001/questoes_egw_sarmento.htm

Sobre Max Rangel

Servo do Eterno, Casado, Pai de 2 filhas, Analista de Sistemas, Fundador e Colunista do site www.religiaopura.com.br.

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