Fuga das cidades: Será você um neo-ruralista?

Se você sente que as cidades não oferecem mais o que você precisa para ter uma vida feliz com sua família e vê no campo a chance de “retomar as raízes”, talvez você faça parte desse grupo chamado “neo-ruralistas”. Vamos investigar melhor esse termo no texto de hoje!

Quem são os neo-rurais?

Talvez você pense que este é mais um daqueles termos inventados apenas para que algumas pessoas sintam-se especiais ou parte de um grupo diferenciado, mas não. Ele não é a representação de uma “tribo”, e sim de um fenômeno que vem acontecendo na últimas décadas: são o fruto do êxodo urbano.

Se você tem entre 30 e 60 anos, sabe que o Brasil foi marcado por uma grande fuga do campo. Pessoas que, em busca de uma vida melhor e das conveniências urbanas, deixaram para trás a vida na roça. Este, foi o nomeado “êxodo rural”. Nesta época, a cidade era o que havia de mais incrível para as famílias e para aqueles que queriam ganhar algum dinheiro.

Contudo, parece que o jogo está se invertendo agora. Cidades tornaram-se polos centralizadores da violência, das drogas, dos hábitos tóxicos e da fraqueza moral. Sim, ainda há excelentes escolas, tecnologia e muito mais, mas a balança está começando a apontar para o lado ruim da história…. E muitos estão percebendo isso. Por isso, está previsto durante as próximas décadas veremos um “êxodo urbano”, ou seja, pessoas deixando as cidades em busca de uma vida mais tranquila no campo.

A grande diferença é que quem nasceu na cidade não é um “caipira” nato. Ele vêm carregado com novas visões, concepções e formas de vida, e deseja implementá-las na zona rural. Aí entram os chamados “neo-rurais” ou caipiras modernos. Em um português bem claro: São aqueles que construíram suas vidas na cidade, encheram-se do ambiente tóxico que elas promovem e agora querem voltar para o campo e retomar um estilo de vida mais saudável.

São aqueles que visam manter o acesso à internet, mas morar ouvindo o cantar do galo, ou o mugido distante das vacas. São aqueles que estão dispostos a se adaptar a um estilo de vida completamente diferente, mais livre e autossuficiente, mas não esquecendo de suas raízes urbanas e voltadas para um olhar mais tecnológico.

Quando me deparei com essa definição percebi que havia me identificado por completo com o tal rótulo. Afinal, sou um indivíduo criado na cidade, mas que passou seus finais de semana de infância e adolescência brincando no sítio. Mais que isso, conforme fui amadurecendo comecei a me sentir mais e mais deslocado no cenário urbano, como se aquele não fosse o local onde precisava ficar. Explico a seguir.

Ambientes urbanos: Por que nunca gostei deles

Para que este trecho não se torne uma dissertação enorme, vamos resumir a alguns tópicos principais:

  1. Barulho: É impressionante a quantidade de poluição sonora presente nas cidades. Curiosamente, só percebemos isso quando nos afastamos dela! Isso porquê somos excelentes em nos adaptar e “esquecer” os ruídos de fundo, mas isso não significa que eles deixam de existir. Os sons constantes, repentinos e diferentes volumes que estão presentes em zonas urbanas atrapalham nosso sono e nossa concentração diária de forma insidiosa, comendo nossa qualidade de vida sem que percebamos. Na cidade, perdeu-se o direito do silêncio… E é nele que as principais reflexões e observações sobre nossa vida são feitas.
  2. Enclausuramento: Tenha você uma casa grande ou pequena, o vizinho está do seu lado (algumas vezes separado por uma única parede). Veja, em toda nossa história humana é possível observar o quanto somos uma espécie exploratória e que gostamos de estar na vastidão de um campo ou floresta. Hoje, muitos moram em pequenos apartamentos e devem conter toda sua vida neste local e, quando decidem “explorar” novos ambientes se veem na infelicidade de ter que dividir espaços abertos com estranhos.
  3. Isolamento social: A grande falácia das cidades é dizer que por estarmos aglomerados, estaremos mais conectados. Na prática, é exatamente o contrário! Hoje os moradores de grandes cidades vivem solitários, angustiados por não terem amigos verdadeiros e presos a compromissos sociais fúteis. Você já parou para pensar o quão bizarro é passar por alguém na calçada e simplesmente ignorar por completo aquele outro ser humano, como se não existisse? Pois é, a cidade gera essa impessoalidade, essa desumanização. São tantas pessoas, tanto movimento, que nos fechamos para preservar o pouco de nós que resta neste ambiente coletivizado. Pior que isso, abraçamos o mundo online como a melhor forma de manter grupos sociais, quebrando ainda mais o vínculo tão importante dos contatos presenciais, olhos nos olhos. Nos tornamos embotados socialmente, seres que parecem desajeitados e inadequados em uma roda de conversa.
  4. Massificação: Ou você faz parte da “moda”, ou é um antiquado. O mesmo processo de desumanização causado na cidade também é aquele que impõe atos, valores e pensamentos que são os considerados aceitos no momento e tornam você alguém parte do grupo. Você com certeza pode ser colocado como o rude por não dar presente no dia dos namorados, ou um filho negligente se não comprar algo para sua mãe no dia das mães, não é? Pois bem. Na cidade, o comprar para seguir as regras coletivas é imprescindível para manter você com uma boa “pontuação social”.
  5. Consumo desenfreado: Você precisa de tudo, e tudo não é suficiente. Aonde você olha, há propagandas, outdoors, campanhas publicitárias. COMPRE é a palavra de lei, e você se sente compelido a gastar seu dinheiro com aquela panela que promete não grudar, aquele celular que tem 12gb a mais de memória que o seu. É assustador a quantidade de dinheiro que gastamos com supérfluos na cidade! E não é de se surpreender, afinal, é o consumo que mantém a cidade viva. Se você parar de comprar, torna-se um inimigo do sistema vigente.
  6. Regras e mais regras: Quer ter um cão em sua casa? Respeite as regras do condomínio. Quer ir no parquinho com as crianças? Respeite as regras de horários de funcionamento. Quer ouvir uma música agradável? Lembre-se do vizinho que pode se incomodar. A cidade, por sua natureza de ser “apertada” em termos de espaço pessoal, precisa de normas em todos seus aspectos para continuar rodando. Apesar de necessárias, a quantidade enorme de regras em todos os ambientes castra a liberdade e espontaneidade humana, mantendo todos em uma conduta normativa igual e travada.
  7. Vida plástica e processada: Acredito muito na definição de que “você é o que come”. Se você se alimenta de produtos industrializados, embalados e conservados, você se torna tão plástico como eles. Seu corpo muda, seus pensamentos mudam e por fim, você adoece. Na cidade, o ditado “descasque mais e desembale menos” é quase impossível de ser seguido, até porque qualquer produto mais natural tem preço quase que restritivo. A alimentação é tão “plástica” que a comida de verdade, aquela que é a base da sobrevivência humana, teve de ganhar o título de “orgânica” para se diferenciar do lixo que consumimos diariamente.

Sim, eu sei que aqui foquei apenas nos aspectos negativos, e que há sim algumas vantagens de morar na cidade, mas sinceramente? Algumas vezes colocamos prioridades na vida que, de prioridades, não tem nada. Será que realmente vale aguentar tudo o que inseri acima apenas para ter um trabalho que paga mais? Será que as 2 ou 3 horas que você perde diariamente no trânsito valem a conveniência de pedir pizza em casa ou de poder sair as 3 da manhã e encontrar uma lavanderia aberta?

SE a cidade é ruim, o que o campo tem para me oferecer?

Bom, vamos inverter a história. Para criar um comparativo, vou usar os mesmos pontos que comentei acima sobre as cidades e mostrar, na minha visão, as diferenças que a vida no campo podem oferecer.

  1. Silêncio: Para a maioria das pessoas acostumadas com a loucura urbana, o silêncio pode ser assustador, até mesmo opressor. Contudo, é nele que conseguimos nos encontrar, refletir e ter mais clareza em nossas visões.É na ausência dos barulhos de carros, televisões ligadas e pessoas falando que temos a chance de escutar cada pequeno som, e nos conectarmos muito mais com o ambiente à nossa volta em vez de apenas “apagarmos” os ruídos.
  2. Espaço: A sensação de ter espaço de sobra para fazer o que você quiser é indescritível. Mais que isso, seus vizinhos também provavelmente possuem terreno de sobra! Isso significa que a paisagem é muito mais natural e com menos construções. Olhar para uma paisagem repleta de árvores, pastos e vales é realmente reconfortante e nos dá a sensação de liberdade plena.
  3. Senso de comunidade: Curiosamente, no campo as pessoas são muito mais unidas do que na cidade. Afinal, quando se mora isolado hora ou outra você precisará da ajuda de um vizinho para desatolar seu carro, ou ele vai te pedir alguma coisa também. A falta de estrutura estimula que no campo as pessoas se socializem e formem um vínculo de apoio, que vão se transformando em amizades que podem facilmente durar uma vida.
  4. Individualização: Quem já teve experiência de estar no campo sabe que há personagens bastante distintos em cada lugar. Sempre haverá o engraçado, o emburrado, o prestativo e o que caça encrenca. Não há necessidade de todos se comportarem de maneira igual pois há muito espaço privado em cada lar, então cada vizinho desenvolve sua maneira de pensar, sua cultura e valores.
  5. Custo de vida mínimo: Com pouquíssimo esforço você pode ter um belo galinheiro e um açude, zerando seu custo com ovos e carne. Se quiser ir além, uma vaca leiteira vai garantir seu queijo, leite e manteiga também! Além disso, uma boa horta vai riscar de vez grande parte do custo familiar altíssimo que é a temida “compra do mês”. Além disso, no campo o consumo é diferente, mais lento. Você até pode se interessar por um cacareco qualquer que viu na internet e comprá-lo, mas, por uma razão desconhecida, ele simplesmente não combina com o sítio, com a vida mais tranquila e simples do campo. Isso sem querer vai transformando você em um indivíduo menos focado em comprar, e mais focado em viver.
  6. Poucas regras, muito bom senso: No campo, especialmente em lugares mais isolados, as regras e leis parecem ficar um pouco esmaecidas. É comum ver garotos de 10 anos andando de moto sem capacete, amigos atirando com armas velhas sem registro que estão na família há décadas e muito mais. No campo, há menos fiscais, menos monitoramento. Isso significa que você pode viver como quer, basta não incomodar os vizinhos e ter bom senso para não se meter em uma enrascada e se machucar.
  7. Comida de verdade: Talvez seja uma percepção equivocada, mas para mim, a comida que eu plantei é mais gostosa do que a comprada no mercado. No campo, você tem completa consciência de como cada planta foi cultivada, como cada animal foi alimentado. Não é necessário rótulos com ingredientes descritos (que muitas vezes mostram substâncias quase alienígenas)! No campo se come bem, basta se esforçar para garantir sua colheita.

Pode parecer bom demais para ser verdade, e entendo que para aquele que lê estas linhas sentado dentro de um apartamento pequeno tudo parece ser um sonho de verão…E de fato, nem tudo são rosas e amor! A vida no campo com certeza oferece desafios enormes, especialmente para os que não tem experiência.

E quais são os desafios e batalhas?

Ao ver imagens de famílias felizes na grama, cestas cheias de comidas coloridas e paisagens incríveis é fácil se identificar com a ideia de ser um “neo-ruralista”, mas poucos de fato estão preparados para a lida diária que o campo cobra!Vejamos alguns pontos:

  1. Faça chuva, faça sol: Está frio? Está quente? Acordou com preguiça? Nada disso importa. Os animais ainda precisam comer, as plantas precisam de cuidado e o terreno continua precisando ser roçado para não virar um matagal. Morar no campo é estar pronto para trabalhar pesado, não importando como o dia amanheceu. A procrastinação, tão comum nas cidades, não tem espaço na vida rural, a não ser que você queira morar no meio de um matagal e com animais passando fome.
  2. Fracassos constantes: Não interessa o quanto você pesquisou no google, sua primeira horta provavelmente será um fracasso. Suas galinhas? É, então, provavelmente pegarão algum tipo de doença e você vai perder as que mais gosta. A vida no campo exige experiência, e isso toma tempo e tentativas. Se você não sabe NADA da área, esteja preparado para se frustrar sempre que começar uma atividade nova. O campo exige resiliência.
  3. Adaptação e planejamento: Sair da cidade não é fácil. Existem serviços que você utiliza e que talvez nem tenha se dado conta que eles não estarão disponíveis em uma zona rural, e além disso, meu caro, sabe aquelas comprinhas diárias no mercado? Pois é, se foram. Morar no campo significa fazer o “rancho”, aquela compra que vai durar no mínimo o mês inteiro e se faltar algo no meio do caminho, isso significa tirar o dia para descer para a cidade para comprar o que você esqueceu. Se você não for um bom planejador, vai gastar muita gasolina e paciência.

É claro que essa lista poderia seguir em frente, mas o objetivo aqui não é criar uma muralha de argumentos negativos, apenas despertar consciência de que haverão desafios e você precisa estar preparado.

Conclusões finais

Se depois de ler todo esse texto você ainda se sente intoxicado pela selva de concreto e sente-se confiante de que vai dar conta do que o campo vai jogar no seu colo, parabéns, você é um tal de “neo-ruralista”.

Talvez você me pergunte… Será que esse é de fato o caminho para uma vida melhor? Não sei. Mas eu, sinto que sim. É no campo que tenho a oportunidade de ver minha filha se sujar de barro durante as brincadeiras, de ter reuniões inesquecíveis com amigos e dar risadas até altas horas da noite na beira de um fogo de chão. É no campo que eu vejo que ainda há espaço para a liberdade individual, para ser quem devemos realmente ser, em contato com o que realmente importa.

Até.

Fonte: https://sobrevivencialismo.com/2020/06/20/sera-voce-um-neo-ruralista/

Sobre Max Rangel

Servo do Eterno, Casado, Pai de 2 filhas, Analista de Sistemas, Fundador e Colunista do site www.religiaopura.com.br.

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