O SONHO DA LIBERDADE

S. João 8:31 e 32 – “Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam ­crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”(grifo nosso)

Nada cala tão fundo na alma humana como a necessidade de liberdade. Sem liberdade, o ser humano se destrói, se deprime, torna-se infeliz e errante. Jesus vendia o sonho da liberdade em amplos aspectos. Suas palavras são atualíssimas. Vivemos em sociedade democrática, falamos tanto em liberdade, mas, frequentemente, não somos livres dentro de nós mesmos.

A prisão exterior mutila o prazer humano. As prisões sempre foram um castigo que pune muito mais a emoção do que o corpo. Elas não corrigem o comportamento, não educam, não reeditam os arquivos doentios da memória que conduziram o indivíduo a praticar crimes. O sistema carcerário não transforma a personalidade de um criminoso, apenas impõe dor emocional. Os presidiários, quando dormem, sonham em ser livres: livres para andar, sair, ver o sol, contemplar flores. Alguns presidiários cavam túneis durante anos para tentar escapar. O desejo de liberdade os consome diariamente.

A ditadura política é outra forma de controle de liberdade. Um ditador controla um povo utilizando as armas e o sistema policial com ferramentas que oprimem e dominam. As pessoas não são livres para expressar suas idéias. Além da ditadura política, existe a ditadura emocional e intelectual. Há muitos ditadores inseridos nas famílias, nas empresas e nos meios religiosos.

O mundo tem de girar em torno deles. Suas verdades são absolutas. Não admitem ser contrariados. Não permitem que as pessoas expressem suas idéias. Impõem medo aos filhos e à esposa. Ameaçam despedir seus funcionários. Reúnem em comissões para disciplinar. Gostam de proclamar: “Eu faço! Vocês dependem de mim! Eu pago as contas! Eu mando aqui! Quem não estiver contente que vá embora!”.

No âmbito religioso a necessidade de poder e liderança extrapolam o senso teológico dogmático e até a interpretação tipológica, dando lugar a evasão de direito institucionalizado, cuja matéria descamba na forma absoluta de mando, com imposição, regras, tratados, códigos, conceitos e manuais para impor seu domínio à membresia. Essa é a maneira que o homem achou movido por Satanás, para colocar-se acima dos conceitos pregados pelo Mestre Jesus, aplicando os conceitos sociais e civis, como regra de exceção fazendo a junção com as coisas religiosas, e consequentemente acima da lei do amor. Para isto convém lembrar a citação de Alonzo T. Jones, Liberdade Religiosa e Individualidade Vs. Babilônia: (pág 21) “ A lei civil é certamente suprema no campo das coisas civis, mas no campo das coisas religiosas simplesmente não têm lugar em absoluto” (pág. 70). Em outro trecho, “É verdade que a igreja de Israel praticou uma coisa enormemente ímpia quando se aliou com o poder civil a fim de tornar sua vontade efetiva; e a história foi escrita para mostrar a todo o mundo para sempre que toda igreja comete a mesma falha toda vez que, sob pretexto que for, busca controlar o poder civil para tornar sua vontade vigente.”(grifo nosso).

 Nos meandros que permeiam os sentidos aguçados de algumas lideranças religiosas está o pretexto de que Deus é organizado. Sem dúvida, o Pai Eterno organizou-se para efetuar a criação do mundo junto à Seu filho, isto é notório, mas jamais recorreu a concepções da natureza humana para estabelecer desarmonia com seu plano da redenção. A pseudo organização do homem é burocratizante com tendências a aplicações corretivas quanto à justiça própria e a forma elementar do “eu acho”, cujas exigências, mesmo na sua forma mais perfeita, destoam das exigências de Jesus. Perante este quadro nada melhor para refrescar a nossa memória quanto ao escrito do Prof. Edegard Silva Pereira, no seu livro “Perigos que Ameaçam o Movimento Leigo”: “ Há dois tipos comuns de expressão religiosa: a religião de autoridade (representada pela grande meretriz de Apoc. 17) e a religião do espírito (representada  pela mulher vestida do sol de apoc. 12). A primeira impõe arbitrária e diretamente aquilo que considera a vontade de Deus. Ostenta um sistema institucional e doutrinário com tal peso de autoridade (ao modo do poder político), que faz as pessoas acreditarem que sem ela não é possível a salvação. A segunda, procura dar testemunho, com a ênfase de Jesus, da religião do espírito, cujo coração é a tríade fundamental, impossível de ser institucionalizada, que aparece no ensino de Jesus e de Paulo: graça, fé e amor, como meios de comunicação com Deus e de criar fraternidade entre os homens, Nesse sentido, a religião do espírito, na visão do Apocalipse, sempre está para dar a luz a Cristo na nova vida gerada pelo espírito naqueles que crêem.”

Esses ditadores em geral parecem livres, mas, de fato, são prisioneiros. Eles controlam os outros porque são escravos dentro de si mesmos. São controlados pelo seu orgulho, vingança de algo, arrogância, agressividade e presunção do eu. Escondem sua fragilidade atrás de seu dinheiro, intelectualidade, ou poder. Todo homem autoritário, no fundo, é um homem frágil. Os fracos usam a força, os fortes usam o diálogo. Os fracos dominam os outros, os fortes promovem a liberdade. Existem diversas formas de restrição à liberdade. A exploração emocional é uma delas. Uma minoria de ídolos fabricados pela mídia e pelo mercado religioso explora a emoção de uma grande maioria, que tem frequentemente as mesmas capacidades intelectuais dessa minoria. Essa massificação da mídia e da exploração religiosa faz com que muitos gravitem em torno de alguns atores, pastores e obreiros, esportistas, cantores, como se fossem supra-humanos.

Jesus discorria sobre uma liberdade poética. Ele não pressionava ninguém a segui-lo. Nunca tirava proveito das situações para controlar as pessoas. Os políticos almejam que os eleitores gravitem em torno deles. Muitos contratam profissionais de marketing para promovê-los, para exaltar seus feitos, ainda que eles sejam medíocres.

O Senhor Jesus, ao contrário, gostava de se ocultar. Era um especialista em dizer às pessoas para não espalhar publicamente o que ele havia feito por elas. Era tão delicado que não explorava a emoção das pessoas que ajudava e curava. Sua ética não tem precedentes na história. Ele as encorajava a continuar o seu caminho. Se quisesse segui-lo, tinha de ser por amor.

O resultado? Na terra do medo, elas aprenderam a amar. Amaram o vendedor dos sonhos. Ele vendeu o sonho do amor gratuito e incondicional. Elas compraram esse sonho e ele se tornou uma indecifrável realidade. Sonhavam com um reino distante sobre o qual ele havia discursado, mas já havia conquistado o maior de todos os sonhos, o do amor.

O império romano as dominava. A vida era crua e árida, mas elas estavam livres dentro de si mesmas. O amor às libertara. Nada é mais livre do que o amor. O amor transforma pobres súditos em grandes reis e grandes reis em miseráveis súditos. Quem não ama vive no cárcere da emoção.

Sobre João Rangel

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