OS ÁZIMOS DA SINCERIDADE

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Este estudo pretende proporcionar uma reflexão acerca do significado do conselho dado pelo apóstolo Paulo a todos nós, os que querem seguir a Cristo, e que se encontra em 1.Coríntios 5:7-8“Alimpai-vos, pois, do fermento velho [hipocrisia, maldade, corrupção, pecado, ignorância culposa], para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós. Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade”.

Nestas palavras o apóstolo Paulo diz-nos

1º. Que nos livremos da maldade e hipocrisia que possa haver ainda no nosso coração, os quais são o fermento velho (heb.: “chametz”), características que eram próprias da nossa velha criatura e da forma como vivíamos antes de conhecer a Cristo e nos convertermos.

2º.  De forma a que sejamos, então, uma nova massa, sem sombra de maldade e hipocrisia, pães sem fermento (heb.: “matzah”). Porquanto, o sacrifício de Cristo (a nossa Páscoa) não pode ter qualquer comunhão com os nossos maus pensamentos, ou desvio da verdade, ou hipocrisia ou pecado.

3º.  Mas, o conselho não se fica somente pelos dois aspectos acima assinalados. Ele diz: “Por isso façamos a festa”.

4º. E, de acordo com a Torá de YHWH, como devemos então “fazer a festa”, senão da forma como O Santo instrui o Seu povo para a fazer? “Sete dias comerás pão ázimo” (pão sem fermento): Êxodo 12:14; 13:6; 23:15; 34:18; Levítico 23:6.

5º.  Na realidade, se o nosso coração/mente estiver limpo das coisas que Deus abomina, estaremos então em condições de celebrar a festa, conforme ao estatuto de Deus (comer pão sem fermento nos 7 dias da festa), e passarmos a viver sem fermento nas nossas vidas. Estaremos então em condições de nos chegarmos ainda mais a Deus. Ao comermos este pão sem fermento durante 7 dias, estaremos então a comer “os ázimos da sinceridade e da verdade” que o apóstolo Paulo aconselha que comamos, fazendo a festa!

Errados estão os que entendem que YHWH aboliu através do Cristo a obediência a não comermos pão fermentado durante estes sete dias, bem como a outros dos Seus mandamentos ou estatutos, pelo facto do Cristo ser a nossa Páscoa, chegando a acusar alguns irmãos de desvio da verdade, precisamente aqueles que querem seguir a YHWH e à Sua Lei. Porém, já O Cristo acusava alguns do Seu tempo e ainda acusa os de hoje nos seguintes termos: João 5:42-47“Mas bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus. Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis. Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honra que vem só de Deus? Não cuideis que eu vos hei de acusar para com o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais. Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?”

No tempo de Yeshua houve alguns da sinagoga que creram Nele mas tiveram receio de se manifestar, com medo de serem expulsos da sinagoga, como lemos em João 12:42-43“Apesar de tudo, até muitos dos principais creram nele; mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga. Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus”. O mesmo sucede hoje, pois nada mudou na natureza humana. Porém, Pedro e os apóstolos dão uma eloquente resposta no Sinédrio quando foram mandados que se calassem e não voltassem a falar do Nome do Salvador: Actos 5:29“Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens. É em momentos como este que a nossa fidelidade é posta à prova, tanto ontem como hoje.

O que hoje se pretende alcançar nalgumas congregações cristãs é que alguns dos seus pregadores fiquem amordaçados e sigam (como carneiros) o que “está instituído pelos homens” e não o que está instituído por Deus. Que tristes congregações, onde até o Nome do Santo pretende ser abafado, ao contrário do propósito do próprio Deus para os tempos que hoje vivemos, conforme nos é relatado em Ezequiel 39:7 – “E farei conhecido o meu santo nome no meio do meu povo Israel, e nunca mais deixarei profanar o meu santo nome; e os gentios saberão que eu sou YHWH, o Santo em Israel”. Será que estamos a reviver a situação de Paulo antes da sua conversão na estrada para Damasco? Quando o próprio Senhor Yeshua lhe diz que duro é recalcitrar contra os aguilhões? Estamos, possivelmente, a viver uma situação semelhante.

Moisés rejeitou toda a glória do Egipto para abraçar um concerto perpétuo com YHWH, concerto esse que garante grande e eterna recompensa aos que o abraçam. Moisés e tantos outros mostraram, no momento certo, onde estava a sua fidelidade. E onde está hoje a nossa? O Capítulo 11 da carta aos Hebreus dá-nos muitíssimos exemplos de fé e de fidelidade ao longo do tempo. E, todos eles tinham uma coisa em comum: confiavam em YHWH e na Sua Palavra, viram de longe a salvação do Ungido de Deus e alegraram-se no “Dia do Senhor” e, todos eles guardavam a Lei do Altíssimo. Muitos experimentaram açoites, calúnias, tortura, prisões e a morte (dos quais o mundo não era digno, verso 38), mas não abdicaram da fé e da obediência. Prossigamos pois para o alvo, que é O Cristo, através da vocação com que fomos chamados em Um Só Espírito, o de YHWH e em Um Só Salvador, Yeshua: Filipenses 3:12-14.

Se está pois ao nosso alcance cumprirmos este Seu estatuto, o que nos impede de o fazermos a não ser uma errada interpretação da Sua Palavra ou, pior ainda, a nossa rebeldia de coração?

Se a Palavra nos ensina que devemos ter a mente de Cristo e andar como Ele andou, o que nos impede de o fazermos, a não ser a nossa pouca obediência (e fé)? Toda a Palavra nos encoraja a transformar-nos em pessoas que reflictam a imagem do Cristo, como varões perfeitos, pelo que temos que prosseguir nesse caminho de santificação, procurando andar em todos os Seus preceitos, sem o qual não veremos O Senhor – Hebreus 12:14. Avalie então cada um o quanto ainda necessita de ser transformado pela presença do Espírito Santo, o quanto ainda temos que afastar o fermento do pecado das nossas vidas. Temos que impedir que o fermento corroa o nosso coração.

Pergunta-se também: de que serve comermos pão ázimo na “Ceia do Senhor” e depois, logo nos dias seguintes, os da semana dos ázimos, continuarmos a comer pão levedado? Será que estamos a cumprir a vontade de Deus, segundo o Seu estatuto? Lembremos que O Mestre nos diz em Mateus 5:17-19 que não veio alterar nada da Sua Lei/Torá ou das palavras dos profetas…Ele não veio destruir, abrogar, alterar, mas cumprir conforme os mandamentos, a vontade do Pai.

Não esqueçamos que um pouco de fermento faz levedar toda a massa (Gálatas 5:9)…e a massa somos nós, que se quer sem fermento. Esse fermento aparece-nos muitas vezes, e também, sob a forma de doutrinas adulteradas, muitas delas já enraizadas nos nossos dias como se de verdade se tratasse, mas que não são mais do que as sucessivas rejeições e alterações feitas ao longo dos séculos de todo o verdadeiro ensinamento de raiz hebraica, o mesmo ensinamento dado pelo Ungido e pelos Seus apóstolos.

Na realidade, só nos convém comer pão sem fermento, i.e. doutrina pura vinda do Alto e escrita nas tábuas dos nossos corações, como filhos nascidos de novo, já hoje. Prossigamos pois, com diligência, a estudar e a caminhar na Verdade que é Cristo, a nossa Páscoa, O qual não tinha pecado, deixando que YHWH nos modele à imagem do Seu Filho. Saiamos do Egipto (ou da Babilónia espiritual) em que o mundo hoje se encontra. O povo de Israel não saiu do Egipto pela sua própria capacidade, mas pela mão poderosa do Seu Deus YHWH. Foi YHWH quem os livrou. Eram escravos sem poder, tal como nós também já o fomos antes de termos sido libertados pelo sangue do Messias, Seu Filho amado. Sejamos pois dignos de tão grande libertação e prossigamos na nossa aprendizagem para Cristo.

Estávamos cativos do pecado mas fomos libertados de forma graciosa. Ficámos então limpos para poder servir ao Senhor em novidade de vida, em fé e obediência, andando segundo a Sua justiça, i.e. a Sua Lei/Torá. Este é somente o início de uma jornada eterna Nele e por Ele.

A semana dos pães ázimos traduz a vontade de YHWH para o Seu povo, do mesmo modo que deve traduzir uma profunda transformação interior que tem que ser confirmada e reafirmada nas nossas vidas através da obediência a todos os Seus preceitos, como servos fiéis. Para que isto seja real nas nossas vidas, temos que afastar toda a forma de fermento velho (ou novo) da nossa vida, pois ele pode fazer separação entre nós e o nosso Deus. Fermento é assim sinónimo de tudo o que se opõe à Verdade (Cristo e a Sua Lei eterna).

Em Actos 13:40-41 podemos ver o tipo de luta que Paulo teve que travar contra os condutores do povo que desprezavam a Verdade que lhes era anunciada em Cristo: “Vede, pois, que não venha sobre vós o que está dito nos profetas: Vede, ó desprezadores, e espantai-vos e desaparecei; porque opero uma obra em vossos dias, obra tal que não crereis, se alguém vo-la contar”. Ou como nos é dito em Actos 19:9“Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão, retirou-se deles, e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano”. Não nos espantemos pois que nos nossos dias isto também possa ocorrer. Muitos ainda hoje têm um véu sobre os olhos que os não deixa ver a Vontade de YHWH expressa na Sua Lei eterna, e que os leva a desprezar alguns dos eternos preceitos de Deus. Olham somente para a Vontade de Deus como sendo os 10 Mandamentos. Estão agarrados pela sua própria vaidade e por isso desprezam o ensinamento de raiz hebraica que O Mestre nos deu.

Por tudo isto, devemos também entender a Festa dos Pães Ázimos (os pães sem fermento da sinceridade e da verdade) como a Festa da mudança dos nossos corações, implicando a nossa submissão incondicional a YHWH – Romanos 8:7-10. Vivamos pois em Espírito, sujeitando-nos à justiça de YHWH (Cristo/Torá) – Efésios 4:20-27.

Vejamos também o exemplo do que nos é ensinado sobre a prática de vida dos discípulos do Messias, mesmo já após a Sua morte e ressurreição: Actos 20:6a“E, depois dos dias dos pães ázimos, navegamos de Filipos…”. Esta passagem revela-nos o quanto os dias dos pães ázimos eram importantes na vida da Igreja do primeiro século. Primeiro celebravam a Festa da Semana dos Ázimos e só depois íam tratar dos seus afazeres (não esquecer que nessa semana ocorria a Páscoa, a Festa das Primícias e alguns Sábados santos, como o último dos sete dias dos pães ázimos).

Não nos podemos esquecer que a Lei de YHWH é eterna e, ainda que possamos não compreender inteiramente o(s) porquê(s) de certas disposições do Altíssimo (a seu tempo conheceremos o seu verdadeiro significado), nada nos deve induzir a desrespeitar o que YHWH determinou. Pelo contrário, a medida da nossa fé deve ser tal que nem devemos questionar este estatuto de YHWH, mas obedecer. Pela fé Moisés celebrou a Páscoa e o aspergir do sangue sobre as ombreiras das portas para que “o destruidor” não tocasse nos primogénitos do seu povo – Hebreus 11:28. Moisés não questionou Deus porque razão o deveria fazer. Limitou-se a fazê-lo, por fé, honra, respeito e obediência ao Seu Deus, sem questionar.

Da mesma maneira que Israel saiu do Egipto apressadamente celebrando a primeira Páscoa (“passagem”), nós também celebramos a nossa passagem para uma nova condição de salvos em Cristo, O Cordeiro que foi sacrificado no nosso lugar, que pagou a nossa dívida.

Estes dias foram determinados e santificados por YHWH, como nos é dito em Levítico 23:2[disse YHWH a Moisés] Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: As solenidades de YHWH, que convocareis, serão santas convocações; estas são as minhas solenidades. Estes dias são para serem observados por todos os que O honram (O temem), O adoram, O louvam, O escutam e obedientemente executam a Sua vontade e andam nos Seus caminhos por todas as gerações.

Israel manteve este estatuto desde a sua saída da terra do Egipto. De igual modo, quando saíram do cativeiro de Babilónia, celebraram a festa da semana dos pães ázimos, porque YHWH os havia libertado de novo do jugo em que se encontravam: Esdras 6:22.

Uma outra questão igualmente importante é que a Semana dos Pães Ázimos está intimamente ligada à própria celebração da Páscoa, sendo a continuidade desta (Ezequiel 45:21), tanto mais que a própria Ceia é comida no primeiro dia da semana dos pães ázimos.

O verdadeiro significado que YHWH nos dá para que não comamos pão fermentado nestes sete dias (ou outros alimentos fermentados, tal como bolos, por exemplo), tem a ver com o Seu propósito de nos transformar e tornar-nos em verdadeiros filhos Seus que não pactuam com o pecado (fermento). Para tal, essa semana é um período de grande reflexão que, para além deste simbolismo, aponta para que cada um se examine a si mesmo e se livre (com a ajuda do Espírito) de tudo o que pode constituir pecado nas suas vidas. Todos nós devemos viver uma vida sem pecado, como verdadeiros filhos de Deus.

Toda a Lei santa e eterna de YHWH (a Sua Torá), na qual nada deverá ser acrescentado ou subtraído, nos deverá ser por sinal Dele próprio, como verdadeiros filhos de Israel que Lhe queremos obedecer: Êxodo 13:7-10Sete dias se comerá pães ázimos, e o levedado não se verá contigo, nem ainda fermento será visto em todos os teus termos. E naquele mesmo dia farás saber a teu filho, dizendo: Isto é pelo que YHWH me tem feito, quando eu saí do Egipto. E te será por sinal sobre tua mão e por lembrança entre teus olhos, para que a lei de YHWH esteja em tua boca; porquanto com mão forte YHWH te tirou do Egipto. Portanto tu guardarás este estatuto a seu tempo, de ano em ano.

Algum significado terá também o facto dos pães que eram oferecidos ao Senhor no Templo eram ázimos, como o atestam inúmeras passagens. Só podemos aceitar que este estatuto tem grande importância para o povo de Deus, pois se assim não fosse, o Senhor YHWH não teria dito o que disse em Êxodo 12:15“Sete dias comereis pães ázimos; ao primeiro dia tirareis o fermento das vossas casas; porque qualquer que comer pão levedado, desde o primeiro até ao sétimo dia, aquela alma será cortada de Israel”. Palavras duras, que ainda hoje causam alguma perturbação nalguns que as lêem. Palavras que são reafirmadas em Êxodo 12:19.

A importância da Festa dos Ázimos tem ainda um grande significado espiritual que iremos explicar de forma sucinta.

Se associarmos a semana da Criação de Deus com a Semana dos Pães Ázimos, encontramos um grande paralelismo entre as duas (do mesmo modo que podemos também fazer uma associação com a semana da Festa dos Tabernáculos), pois o primeiro dia está associado à própria Criação de todas as coisas (Hebreus 1:2). A Festa das Primícias que ocorre na Semana dos Ázimos, está associada ao molho de cevada (da colheita da Primavera) que era movida pelo sacerdote em oferta a YHWH, o que representa o papel do próprio Cristo como Salvador e Sumo-sacerdote, enquanto o último dia da semana, o sétimo (que é também um Sábado santo), representa o Milénio e o papel do Messias, como Rei e Senhor, que governará todas as nações nesse período (no sétimo milénio).

Estes sete dias têm uma marca: a ausência de fermento ou de pecado das nossas vidas. Cristo viveu uma vida sem pecado e foi através do Seu sacrifício que hoje podemos aspirar a fazer parte do Seu reino eterno. Ele cravou o nosso certificado de dívida (cheirographon) no madeiro, resgatando-nos.

Estes sete dias em que devemos comer pães ázimos, constituem assim uma marca de Deus (obediência e fé) para prosseguirmos uma vida sem pecado, em Cristo.

Sejam pois estes ázimos da sinceridade e da verdade a governar as nossas vidas, afastados já do pecado e do erro doutrinal, permanecendo debaixo do Espírito Santo de YHWH e do Seu Cristo, procurando seguir uma vida de obediência e fé, em tudo conformes à vontade de Deus expressa na Sua Lei/Torá. Procurando que sejamos achados irrepreensíveis perante Deus, conforme também nos é dito em Efésios 4:17-32.

Deixemos então para trás toda e qualquer filosofia humana que contradiga o que A Palavra de YHWH nos diz. Não esqueçamos: Cristo é a Lei escrita nas tábuas do nosso coração/mente, já hoje!

Vítor Quinta – Maio 2009

Sobre Max Rangel

Servo do Eterno, Casado, Pai de 2 filhas, Analista de Sistemas, Fundador e Colunista do site www.religiaopura.com.br.

Além disso, veja também:

Pessach – A Verdadeira Páscoa | O que é, como e quando celebrar? (Metsorá)

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